Vida de Psicólogo: as mudanças na profissão com a pandemia
Além de ganhar destaque nas políticas de enfrentamento à Covid-19, psicólogos precisaram incorporar a tecnologia aos atendimentos e à divulgação do trabalho
De março a abril de 2020, assim que a pandemia do novo coronavírus começou a se intensificar no Brasil, o Conselho Federal de Psicologia recebeu mais de 50 mil pedidos de psicólogos para atendimento virtual, um recorde no CFP. O número reflete um aumento na demanda e uma mudança na rotina de trabalho dos profissionais durante esse período.
O psicólogo, de maneira resumida, é o profissional responsável por observar, interpretar, analisar e intervir no comportamento humano em diversos contextos – individual, em grupo e institucional, por exemplo -, no sentido de mudar algo que afeta as pessoas. Mas, para isso, um detalhe é fundamental: o sigilo daquilo que é falado durante a sessão de psicoterapia. Segundo o coordenador do curso de Psicologia da PUCPR Câmpus Londrina, professor Marcos Garcia, conciliar esse aspecto à necessidade de isolamento foi um dos grandes desafios para os profissionais. “Este é um momento de aprimoramento da tecnologia para o trabalho do psicólogo, mas temos um código de ética muito forte e precisamos preservar isso, assim como o isolamento”, explica.
Para os pacientes, porém, os desafios não são menores: “a pandemia mostrou que nós não temos tanta privacidade como pensávamos. Muitas pessoas passaram a fazer as sessões de dentro do carro, porque com a família em casa todos escutariam a conversa com o psicólogo”, observa o professor.
Em um contexto mais amplo, a pandemia também traz adequações nos campos de atuação dos psicólogos. Thaise Löhr Tacla, coordenadora do curso de Psicologia da PUCPR Câmpus Curitiba, destaca que o Conselho Federal de Psicologia constituiu a possibilidade de atuação em emergências, prestando auxílio à comunidade, para cenários como esse. “A psicologia vem sendo proposta como parte das ações de intervenção tanto do Governo Federal, por meio da Portaria nº 639/2020, quanto de órgãos internacionais como a Organização Mundial da Saúde (OMS)”, reforça. A OMS já se posicionou quanto aos grandes impactos da pandemia para a saúde mental da população.
Psicólogos online e conectados
Com uma relação cada vez mais estreita entre psicólogos e a tecnologia da informação, outro movimento que pode ser observado é a presença deles nas redes sociais. Por muito tempo, de acordo com o professor Marcos, houve um receio dos profissionais de se exporem na internet. “Os psicólogos estão divulgando mais seu trabalho, ‘saindo de suas caixinhas’ e se expondo mais”, comenta. O Conselho Regional de Psicologia do Paraná já divulgou uma nota técnica com orientações para este tipo de comunicação.
Segundo Garcia, com todos os cuidados em relação ao código de ética, é importante que os psicólogos divulguem seu trabalho nas redes sociais para que as pessoas entendam do que se trata a profissão: “ainda há uma confusão entre meditação, mindfulness e terapias alternativas com a psicologia. Além disso, já foi feita uma pesquisa que mostrou que apenas 9% das pessoas recorre a profissionais quando tem problemas psicológicos”.
Momento para buscar ajuda profissional
Para aqueles que ainda não faziam acompanhamento psicoterapêutico, o período de isolamento pode ter servido como um incentivo. Nos últimos meses, as buscas por “psicólogo online”, somente no Google, cresceram mais de 100%. Pesquisas semelhantes como “quanto custa uma consulta com psicólogo” tiveram um aumento ainda maior: mais de 400%.
Segundo Thaise, a crise causada pelo novo coronavírus também é psicológica, uma vez que afeta a saúde mental das pessoas. “O impacto nessa área, a partir da pandemia, é visível, já que a nova realidade gera insegurança, ansiedade, depressão, medo, além de incertezas em diversas áreas da vida”, observa. “Nesse contexto, os psicólogos contribuem para promover a saúde mental e prevenir impactos psicológicos negativos ao oferecer suporte e orientação sobre como manejar algumas situações, bem como sobre desenvolver estratégias de enfrentamento”, finaliza.