Como o Teatro tem se reinventado em meio ao isolamento social
Área precisou se adaptar ao virtual e desenvolver novas linguagens e formatos para continuar em contato com o público
A pandemia tem exigido adaptações de diversas áreas e o setor cultural é um dos mais afetados pelo isolamento social. O Dia Nacional do Teatro, celebrado hoje (19) é uma oportunidade para trazer à tona todas as discussões, experimentações e adaptações do setor, em meio à crise.
Um dos aspectos é que a necessidade de adaptação abriu espaço para a criatividade. Com a ajuda da tecnologia, novos formatos e linguagens teatrais tem surgido para driblar a falta da plateia presencial. Como explica a professora de Teatro da PUCPR, Silvia Monteiro, esse é um momento de intensa experimentação. “Nós nos adaptamos e mudamos o formato. Nesse momento, estamos achando novas oportunidades, explorando a linguagem remota e utilizando as lives como linguagem estética, e é interessante pois ainda não sabemos o resultado disso a longo prazo”.
Para fazer as peças online, todo o processo de produção precisa ser repensado, desde os ensaios até o número de atores que compõe o elenco. “O ensaio à distância modifica o tipo de espetáculo que será apresentado, já que grupos muito grandes têm dificuldade de ensaiar remotamente”, explica a professora. Há, inclusive, peças sendo criadas já considerando as plataformas digitais e os novos modelos de produção e distribuição. “As coisas acontecem muito rápido e com as tecnologias à disposição, o Teatro se adapta”.
Novos formatos e linguagens
Silvia explica que os espetáculos para plataformas digitais já têm diversos formatos possíveis. Alguns deles tem apenas um ator no elenco, que atua na própria casa e transmite em formato streaming. Outros são protagonizados no palco de um teatro, mas sem plateia e com transmissão simultânea em salas virtuais. Algumas peças têm performance assíncrona, ou seja, são gravadas e disponibilizadas digitalmente, mas tomando cuidado para não invadir a linguagem audiovisual.
Nesse contexto, a monetização das peças teatrais também foi desafiada. “Muitas delas vendem ingressos por plataformas digitais apropriadas e disponibilizam o link para a sala virtual fechada com uma pequena antecedência. Esse foi o jeito de viabilizar a rentabilidade, pois o Teatro também tem a dimensão do comércio”, ressalta a professora.
Contato fundamental com o público
A presença da plateia, um dos elementos mais importantes do Teatro, sofreu grandes alterações dentro das apresentações remotas. De acordo com Silvia, o processo de entender o novo público que acompanha as lives ainda está acontecendo. Porém, as novas possibilidades já têm sido exploradas nas produções. “É possível ter a interatividade com a plateia no chat de comentários, depois do espetáculo ou mesmo durante, com emojis e o recurso de erguer a mão, por exemplo”.
Para Silvia, nada substitui a presença física do público e, quando os espetáculos presenciais voltarem a acontecer, esse tipo de contato será mais valorizado, mas sem abandonar as novas descobertas. “Acho que a gente sempre ganha ao incorporar novas tecnologias e plataformas. Talvez tenhamos aberto outros campos que não explorávamos antes porque não era da nossa natureza, e agora temos recursos e linguagens a mais. No futuro, talvez existam espetáculos híbridos”, imagina a professora.
O TANAHORA não parou
O TANAHORA, grupo de Teatro da PUCPR, também precisou adaptar seus métodos para continuar com os trabalhos durante a pandemia. Chico Nogueira, diretor do grupo, relata que os ensaios para a peça de comemoração dos 40 anos do TANAHORA precisaram ser interrompidos e a estreia acabou sendo cancelada. No entanto, os estudantes se organizaram e produziram algumas cenas do roteiro em formato de vídeo, criando uma versão virtual e divertida da peça “Auto da Compadecida”.
“Ensaiar teatro remotamente é algo que jamais imaginei na minha vida”, conta Chico. Sem previsão de retorno para as atividades presenciais, a equipe do TANAHORA irá usar a criatividade para produzir um espetáculo virtual neste semestre, previsto para novembro. “É uma experiência totalmente diferente, estamos experimentando. É tudo um aprendizado”, conclui o professor.