Há acontecimentos que marcam profundamente nossas vidas. Em alguns deles, lembramos os pormenores do que vivenciamos, o local em que estávamos, as pessoas que nos circundavam, nossas reações e sentimentos, nossa própria fisionomia de espanto.

A eleição do Papa Francisco é um desses eventos marcantes. Naquela tarde chuvosa de Curitiba, em 13 de março de 2013, lembro-me que acompanhava com atenção as notícias que chegavam de Roma, mais precisamente do Conclave que elegeu o Papa Francisco.

Confesso que fiquei profundamente surpreso pelo fato de um latino-americano ter sido eleito Papa; fiquei surpreso pelo nome escolhido, nome que indica não apenas um jeito de ser, mas um projeto de Igreja; fiquei surpreso pela simplicidade com que se apresentou não somente à Praça de São Pedro, mas ao mundo: com um estampado sorriso, com humildade e, quebrando o protocolo, dizendo um singelo “Boa noite!”.

Como Pontifícia Universidade Católica, estamos vivamente vinculados ao Bispo de Roma. Portanto, quero partilhar três ideias que Francisco nos inspira como comunidade acadêmica. E tais ideias serão indicadas a partir de seus três escritos maiores, suas encíclicas. Perceberemos nelas um itinerário: da fé à amizade social, passando pela ecologia integral.

Em 2013, logo no início de seu pontificado, Francisco publicou a encíclica Lumen Fidei (sobre a transmissão da fé), apresentando o Evangelho de Jesus como a novidade por excelência, capaz de iluminar a vida de todo ser humano. Todos percebemos que esse texto era um texto composto a “quatro mãos”, ou seja, era um texto previamente preparado por Bento XVI, no qual Francisco fez poucas inserções e a assinou. Tal postura nos indica que Francisco dá continuidade ao que vinha sendo construído anteriormente a ele; para nós, que celebramos  64 anos de atividades universitárias, isso nos indica que muitos – os quais nos precederam -, merecem nosso respeito e nossa admiração e que muito do que fazemos somente é possível porque outros nos antecederam.

Em 2015, o Papa Francisco apresenta-nos uma segunda encíclica impactante, a Laudato si’ (sobre o cuidado com a Casa Comum), na qual adverte-nos dos perigos de nosso modo de viver e aponta-nos o caminho da Ecologia Integral. Trata-se de um texto inspirado na postura do Patriarca Ortodoxo, Bartolomeu; tal fato nos indica que, quando se trata do cuidado com nossa Casa Comum, o diálogo ecumênico é fundamental. Como Universidade Católica, promover o ecumenismo, tendo em vista a preservação da vida, é um imperativo.

Em 2020, em plena pandemia, Francisco nos brinda com uma “carta magna” sobre nossas relações humanas: Fratelli Tutti (sobre a fraternidade e a amizade social). Se em Laudato Si’ nos convidava a uma profunda revisão de nosso estilo de vida e sobre o cuidado com nosso planeta, agora nos indica questionamentos e posturas sobre os nossos relacionamentos.

Essa encíclica foi estimulada pelo Grande Imã Ahmad Al-Tayyeb, com o qual, um ano antes, havia assinado uma declaração conjunta; um gesto assim nos indica que um novo mundo somente é possível reconhecendo-nos como irmãs e irmãos. Também relembro que a Fratelli Tutti inspirou meu discurso de posse, em dezembro de 2021.

Por fim, o monge trapista e escritor Thomas Merton afirmava que 10 anos é um “bom tempo na vida de um ser humano”. Em 10 anos muitas mudanças e acontecimentos podem nos definir e definir os rumos da história. Entretanto, quando falamos do Papa Francisco, 10 anos dessa “primavera” na vida da Igreja e do mundo ainda é pouco. Obrigado, Papa Francisco, por ser um farol de esperança em nosso mundo e para nossa Universidade.

Muchas Gracias!