Doar-se ao outro como forma de cuidado: celebração da Semana de Enfermagem
Curso de Enfermagem da PUCPR completa 70 anos
A celebração da Semana de Enfermagem acontece anualmente em vários países pelo mundo e tem como objetivo homenagear esses profissionais e destacar a sua importância para os sistemas de saúde e sociedade como um todo. Ela também é uma oportunidade para reconhecer e agradecer aos profissionais de enfermagem por seu compromisso e dedicação no cuidado aos pacientes, bem como para discutir e buscar soluções para os desafios enfrentados pela profissão, como condições de trabalho, remuneração adequada e formação profissional.
Este ano, o tema proposto pela ABEn Nacional (Associação Brasileira de Enfermagem) é “Valorização do Trabalho em Enfermagem com Desenvolvimento Sustentável e Bem Viver”. A semana começa no dia 12 de maio, Dia Internacional do Enfermeiro e nascimento de Florence Nightingale, enfermeira inglesa considerada a precursora da enfermagem moderna, e termina no dia 20 de maio, data que marca a morte de Ana Néri (1814-1880), pioneira da Enfermagem no Brasil, ela foi voluntária nos hospitais militares de Assunção, durante a Guerra do Paraguai.
Ana Néri
No dia 08 de agosto, sensibilizada pela dor da separação dos filhos que foram convocados para a guerra, Ana Néri escreveu uma carta ao presidente da província oferecendo seus serviços como enfermeira para cuidar dos feridos da guerra. Seu pedido foi aceito e apesar da falta de condições, materiais e higiene, ela chamou a atenção pelo seu trabalho e dedicação. A profissional conseguiu até mesmo montar uma enfermaria modelo, feita com os seus próprios recursos.
Enfermagem como missão
Em seu último ano na graduação de enfermagem na PUCPR, Rickson Cristina Ferreira fez intercâmbio para a Universidade do Minho, em Braga, Portugal. A escolha do país foi feita com base nos depoimentos de sua amiga do curso, que já estava na UMinho.
“Durante os 12 meses que vivi em Portugal, tive oportunidade de praticar o que é ser um profissional de enfermagem em outro país, que lá era de maneira mais autônoma. Vivenciei vários procedimentos que talvez não teria a oportunidade de fazer no Brasil”.
Rickson também conta sobre o dia a dia da Enfermagem de Reabilitação, especialidade legal em Portugal e Canadá. “Acompanhar a atuação do profissional na reabilitação motora, respiratória e de feridas é fascinante. É um trabalho em domicílio que tem uma grande humanização na assistência”.
Trabalhos voluntários
Durante sua graduação na PUCPR, Rickson acompanhou eventos que abordaram sobre o voluntariado na África.
“Eu já estava participando de alguns trabalhos voluntários pela universidade, que foram responsáveis por minha cura interior e transcendental, o que me tornou um humano melhor e com a certeza de que a minha missão é se doar da melhor maneira ao próximo, ao bem”.
Durante seu intercâmbio na UMinho, Rickson foi o primeiro brasileiro a participar do Projeto Sementes, ação voluntária de extensão que leva estudantes portugueses e europeus para uma realidade diferente da europeia.
“A alegria de ter conquistado essa oportunidade ainda é viva todos os dias dentro de mim. Parece impossível que já tenham passado 10 meses desde o dia que voei rumo a África na comunidade de Loura, em Cabo-Verde. A sensação é que já pertencia a este lugar. Os dias, foram preenchidos com o olhar de amor do povo cabo-verdiano, que nos ofereceu a hospitalidade, “Morabeza”, a arte de acolher, sendo este, um dos maiores tesouros que guardam”.
Seleção e viagem
A seleção para o Projeto é feita durante 8 meses pela Pastoral Universitária de Braga, com toda a equipe e direção do Pa. Duque. “Nesse período tive experiências de retiro, voluntariado local, encontros mensais, captação de recursos para a missão, entre outros. Essas atividades foram feitas para certificar que eu estava apto para viver em um lugar que não há recursos e sim esperança, amor e sonho”.
A missão tinha um custo individual e Rickson conseguiu obter esse valor por meio de uma vaquinha virtual nas redes sociais. Seu amigo Wes Castro, que morava em Portugal, foi o responsável por ajudar a unir mais pessoas para ter o recurso para sua ida.
Ele conta que a população foi muito receptiva durante os atendimentos de saúde e que também tinham interesse em esclarecer dúvidas. Com as crianças e jovens foram feitas atividades de aprendizagem, por meio de um corpo humano desenhado, no qual iam montando a estrutura do corpo e identificando cada órgão e sistema de maneira simplificada.
Conhecendo tradições
Rickson conta sobre a oportunidade de conhecer as várias faces de tradição daquele povo: de festas, músicas, comidas e hábitos.
“Pudemos experienciar a alegria de festas locais, que se caracterizam pela tradição, com música e danças típicas, sendo o funaná contagiante em todas as circunstâncias. Em Santana, localidade adjacente a Loura, há a tradição de comer em todas as casas por onde se passa, sendo típico comer uma pequena porção de comida em cada casa. Também andamos de ‘Hiace’, uma carrinha que funciona como pequeno autocarro, de modo a ir com os jovens de Loura ao Tarrafal”, conta.
“Nesta localidade, que fica no lado oposto da ilha, foi possível visitar o campo de concentração, local onde estiveram, na época da ditadura, vários presos políticos portugueses, e a praia do Tarrafal, uma das poucas de areia branca, na ilha de Santiago. Esta praia é extraordinária, com grande história, e caracteriza-se pelas suas águas claras e quentes e de onde se avista a bela ilha do Fogo”, detalha.
Algo que impactou os voluntários foi a celebração da bênção dos mais velhos, que simboliza a ação de respeito e proteção por quem acumulou mais sabedoria. “Esse gesto nos fez refletir sobre o respeito e amor existente entre as famílias. É perceptível que, para alguns membros da comunidade, somos como membros da família.
Além do desafio do intercâmbio e do voluntariado durante esse período, Rickson também comenta sobre viver em grupo nesse período na África.
“Inicialmente, viver em grupo com a Sara, Miguel e a Fatima, estudantes portugueses, foi também um desafio que exigiu uma adaptação, pois cada um tem a sua personalidade e rotinas completamente diferentes. Algo de positivo na nossa vivência é o fato de, sendo de nacionalidades distintas, ser possível conhecer melhor as culturas e as tradições portuguesas e brasileiras, resultando em boas memórias, alegrias e até mesmo relembrar a infância e traquinadas que praticamos”.
Para ele, os dias em Loura são preenchidos por gratidão e alegria. “É extraordinário sentir a felicidade no olhar da comunidade por estarmos vivendo com eles e, apesar da falta de água, da pouca comida e das parcas condições de saúde, encontramos sempre sorrisos nos rostos das pessoas com quem convivemos”, finaliza.
Características de um enfermeiro
A coordenadora do curso de Enfermagem, Ana Beatriz Rodrigues Costa, pontua as principais características de um enfermeiro:
– Profissional com formação científica e competência humana, que tem um papel fundamental e imprescindível no cuidado com as pessoas.
– Ele precisa desenvolver competências técnicas, mas também competências comportamentais ou socioemocionais para atuar.
“O conceito do respeito ao próximo está ancorado na nossa rotina diária como enfermeiros. Vivenciamos a espiritualidade na sua plenitude, exercitamos a fé, a esperança, o altruísmo, o amor, a empatia e o entendimento da finitude humana. Nos sensibilizamos diariamente com a dor do outro, e isto nos aproxima da Missão Marista, tendo a compreensão que a formação também ocorre pelo exemplo”, diz a coordenadora.
Enfermagem na PUCPR
O Curso de Graduação em Enfermagem da PUCPR neste mês de maio completa 70 anos de existência, reafirmando o seu compromisso na formação de excelência de novos enfermeiros, preparando-os para responder aos novos desafios do mundo. e esta formação também ocorre pelo exemplo.
A coordenadora finaliza com um trecho do livro de São Marcelino Champagnat “Antes de falar, é preciso ser testemunhas de valores que nós queremos transmitir. O testemunho de minha vida, como pai ou como educador, confere crédito as minhas palavras”.