Maternidade ignorada e “efeito-tesoura” fazem mulheres perderem espaço na ciência
Letícia Fortes, com informações da Revista Piauí
O Pacto Educativo Global tem o objetivo de promover a mulher em todos os espaços da sociedade, inclusive na ciência. Porém, a maioria dos postos mais elevados na pesquisa científica não são representados por mulheres no Brasil Uma das maiores dificuldades é conciliar as tarefas da maternidade com a rotina de pesquisa, principalmente devido ao fato de as leis não protegerem os direitos das mulheres pesquisadoras nessa fase da vida. Além da maternidade, o “efeito-tesoura” também prejudica a ascensão das pesquisadoras, uma vez que esse movimento promove a redução de mulheres na ciência em cargos mais elevados e, mesmo quando há doutoras disponíveis, elas são sub-representadas na docência.
Na teoria, as mulheres têm o direito de conciliar a maternidade com a vida acadêmica. De acordo com a Lei 13.536, toda bolsista tem direito a até 120 dias de licença-maternidade, permitindo a prorrogação dos prazos de vigência das bolsas da Capes. No entanto, a Lei não protege a bióloga e doutoranda em Ciência Animal na Universidade Estadual de Londrina (UEL), Camila Ribeiro, que recebeu a última parcela da bolsa em fevereiro deste ano, quando sua filha Maria Alice tinha oito meses.
Ribeiro é apenas uma das diversas mulheres entrevistadas pela Revista Piauí que foram forçadas a abrir mão da carreira acadêmica em virtude da maternidade. Há vários relatos em grupos no Facebook de mães mestrandas e doutorandas que não conseguem se manter na pesquisa em função da pressão da produtividade. Isso ocorre porque muitos pesquisadores são descredenciados dos programas de bolsa devido à queda de publicações, desconsiderando as dificuldades da maternidade.
De acordo com informações apuradas pela Revista Piauí, apenas 8 (16%) das 49 fichas de avaliação da Capes fazem menção à maternidade e flexibilizam alguns dos critérios, como: ciências biológicas II, direito, administração pública e de empresas, ciências contábeis e turismo, economia, sociologia, antropologia/arqueologia e ensino interdisciplinar.
A área de educação menciona licença de forma geral, mas não especifica a maternidade. As outras quarenta áreas (ou 82%) não adotam em seus documentos de avaliação nenhuma ação relacionada à maternidade. Outra dificuldade para a ascensão das mulheres na ciência é o “efeito-tesoura”, que diminui a representação feminina nos altos cargos de pesquisa.
De acordo com um levantamento do Grupo de Estudos Multidisciplinares da Ação Afirmativa (Gemaa/Iesp-Uerj), apoiado pelo Instituto Serrapilheira, a área de astronomia/física tem 26% de doutoras, mas apenas 15% de professoras. Para além do efeito-tesoura, há uma baixa presença de mulheres em geral nessa área tanto no Brasil quanto em outros países.
Já a área de economia tem 37% de doutoras, mas apenas 20% mulheres docentes. Nas ciências biológicas, quase 50% das mulheres são professoras em programas de pós-graduação, mostrando uma equidade de gênero. Porém esse percentual ainda é inferior à quantidade de doutoras na área (65%).
De maneira geral, os entraves relacionados à maternidade e ao “efeito-tesoura” na ciência vão no sentido oposto do objetivo do Pacto Educativo Global de “promover a mulher”. Por isso, é importante propor ações sociais para reduzir essas barreiras, de forma a possibilitar a construção de uma cultura de paz mais inclusiva ao redor do mundo.
Uma das iniciativas organizadas pela sociedade civil foi a organização Parent in Science, que discute a parentalidade no ambiente acadêmico e fornece uma rede de apoio para mães pesquisadoras. E você, tem alguma ideia para contribuir com a promoção das mulheres na ciência? Conte pra gente nos comentários!