Mapear horário e ponto de embarque de usuários aumenta eficiência do transporte público
Pesquisadores da PUCPR identificaram que cerca de 90% dos passageiros realizam trajeto fixo; estudo mostra que a gestão por meio de aplicativo pode aumentar a mobilidade nas grandes cidades
A superlotação no transporte público, seja em ônibus, trens ou metrô, é um problema urbano frequente nas cidades. Em todo Brasil, foram realizadas cerca de 22,4 milhões de viagens de ônibus por passageiros pagantes/dia em 2021, segundo dados do Anuário da Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU). Além da falta de segurança e do desconforto dos passageiros, a aglomeração nos veículos é prejudicial à saúde, ainda mais durante surtos de doenças respiratórias, caso da Covid-19. Mapear horário e ponto de embarque e desembarque de usuários pode colaborar para a eficiência na prestação do serviço de transporte, além da segurança e conforto dos usuários, diminuindo a lotação dos ônibus, especialmente nos horários de pico.
Foi o que concluíram pesquisadores da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) em estudo sobre o tema, desenvolvido em Curitiba (PR), mas que pode ser replicado em qualquer cidade. Durante um período que englobou pouco mais de um ano, eles coletaram os dados diários de embarque de passageiros em cada uma das estações-tubo da linha 503 (Boqueirão), que representa, aproximadamente, 6% do fluxo diário de passageiros da capital paranaense.
O número de passageiros foi combinado em quatro modelos estatísticos que avaliaram dias úteis, sábados, domingos, feriados, períodos escolares, período de pagamento de salários, incidência de crimes e condições climáticas. A coleta das informações foi realizada de 07 de janeiro de 2019 a 20 de fevereiro de 2020.
“Cerca de 90% dos passageiros obedecem a uma rotina praticamente fixa, que envolve o trajeto entre casa e trabalho e casa e escola, além da volta, havendo pouca variação na lotação dos ônibus nos mesmos horários. Assim, seria possível escalonar essas atividades em horários adequados para evitar a lotação dos ônibus, distribuindo os passageiros de acordo com seus horários respectivos”, explica Luis André Fumagalli, pesquisador do Programa de Pós-Graduação em Gestão Urbana (PPGTU) da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), um dos autores da pesquisa.
Segundo Fumagalli, esse tipo de projeto é próprio da cidade digital estratégica. Seria possível evitar a superlotação nos ônibus e paradas com sincronização em tempo real, facilmente realizável via aplicativo instalado nos smartphones dos usuários, por exemplo, do horário e ponto de partida de cada passageiro de acordo com o horário e ponto de desembarque.
Ainda, além de frear a contaminação por doenças respiratórias em momentos críticos, o gerenciamento da demanda aumenta a eficiência do sistema de transporte público, reduzindo custos, tempo de viagem, consumo de combustível, níveis de poluição, aumentando conforto e segurança e mantendo o preço da tarifa em valores aceitáveis.
Outro achado interessante dos pesquisadores diz respeito aos principais motivos pelos quais as pessoas continuam usando o transporte público: porque ainda é o meio de transporte mais barato em comparação com outras opções e/ou porque é o único meio de transporte disponível para um grupo específico da população.
Publicação internacional e prêmio – O artigo “Challenges for public transportation: consequences and possible alternatives for the Covid-19 pandemic through strategic digital city application” (“Desafios para o transporte público: consequências e possíveis alternativas para a pandemia de Covid-19 por meio de aplicação estratégica de cidade digital”, em tradução livre) foi publicado no Journal of Urban Management, revista científica que é referência mundial na área de planejamento urbano, e venceu o Prêmio Capes/Fundação Volkswagen de 2022 na categoria “Modelos Sustentáveis de Negócios Conectados a Melhorias Urbanas”, cuja entrega será realizada no dia 07 de dezembro.
Além do Luis André Fumagalli, pesquisador do Programa de Pós-Graduação em Gestão Urbana (PPGTU) da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), assinam o estudo Denis Alcides Rezende, professor do PPGTU da PUCPR e Thiago André Guimarães, Grupo de Pesquisa em Tecnologia Aplicada à Otimização (GTAO), Universidade Federal do Paraná (UFPR).
A pesquisa pode ser acessada aqui.