O Prof. Ir. Clemente Ivo Juliatto é paranaense de São José dos Pinhais, região metropolitana de Curitiba, onde nasceu em 16 de agosto de 1940. Iniciou a carreira docente em 1961, como professor de Ensino Fundamental. Durante quase uma década, preparou-se para ser gestor universitário.
Na Harvard University, em Cambridge, Massachusetts, EUA, concluiu pós-doutorado em Administração Universitária (1990). No mesmo ano, como Fulbright Scholar, desenvolveu pesquisa sobre a melhoria da qualidade da Educação e do desempenho nas Instituições de Ensino Superior. Alguns anos antes, em 1984, na Columbia University, em Nova Iorque, completou o Doutorado em Administração Universitária. Na mesma Instituição, realizou dois Cursos de Mestrado na área de Ensino Superior: Educação – Planejamento e Pesquisa Institucional (1982).
Desde que iniciou suas atividades administrativas e acadêmicas na PUCPR em 1975, exerceu os cargos de Vice-Reitor Comunitário, Pró-Reitor de Planejamento, Assessor da Reitoria, Vice-Presidente da então Sociedade Paranaense de Cultura, docente no Mestrado em Educação. Foi Reitor da PUCPR por 16 anos, no período de 1998 a 2013. É Reitor Emérito da PUCPR.
Discurso de posse dos dirigentes acadêmicos da PUCPR por ocasião do Lançamento da Reestruturação das Unidades Acadêmicas da Instituição, em Curitiba, aos 14 de dezembro de 2011.
Pronunciamento por ocasião da outorga do título de Doutor Honoris Causa a Dom Anuar Battisti, Arcebispo de Maringá.
Pronunciamento por ocasião da outorga do título de Doutor Honoris Causa ao Professor Metry Bacila.
Reitor da PUCPR abre o ano letivo com palestra para professores.
O reitor da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), Clemente Ivo Juliatto, participou, na terça-feira (12/02/2008), da abertura do ano letivo 2008 da Universidade. Durante palestra especial para os professores e diretores da graduação e pós-graduação, o reitor apresentou a missão da PUCPR e falou sobre a importância do papel do educador.
Segundo Juliatto, a Universidade não deve apenas dar formação intelectual e profissional ao aluno. “É também preciso formar cidadãos honestos, éticos, solidários e conscientes de seus deveres”, disse.
O diferencial da formação cristã oferecida pela Universidade, de acordo com a Palavra de Deus, o ensinamento da Igreja e a espiritualidade marista.
A dimensão pastoral das ações educativas da Universidade, segundo a Palavra de Deus, as orientações da Igreja e a espiritualidade marista.
A comunidade acadêmica analisada em cada um de seus segmentos: os estudantes, os professores, os colaboradores e os dirigentes. O conceito-chave da obra está na tese de todos são “educadores“, embora cada um desempenhe um papel diferente na comunidade educativa.
Há quem sonhe como gostaria de ser lembrado daqui a 20, 40 ou 100 anos, se lhe for permitida essa pretensão. Não considere tal preocupação como a mais importante, mas a direcione agora mesmo e comece a constituir planos de obras, atitudes e exemplos para ser reverenciado na ocasião oportuna. Certamente, alguns serão lembrados por se empenhar em florescer as ciências, as artes, as comunicações, a cultura e a criação de novas oportunidades de trabalho; outros, por elevarem os padrões de excelência da educação, da pesquisa, da medicina, do jornalismo, do direito e do voluntariado; outros, em promover a sintonia na família, na comunidade eclesial ou com a sociedade e as nações.
Pessoalmente, gostaria de ser recordado pela contribuição em transformar as escolas do ensino fundamental, médio e superior num lugar em que o mal seja a ignorância e no qual o bem seja o conhecimento, como propunha Diógenes, onde não se busque somente o conhecimento, mas também se almeje alcançar a sabedoria; num espaço de liberdade para a pesquisa e convivência harmônica entre fé, cultura e ciência, colocadas em benefício de todos, como desejava Jaspers; num jardim de cultivo de talentos, de virtudes humanas e cristãs das crianças e jovens, como pretendia Newman; num lugar onde não haja espaço para a mediocridade e desavenças, e o alto desempenho seja a conquista de todos; enfim, numa comunidade de mestres e discípulos, irmanados na busca da verdade.
Mesmo que não se chegue a ver esse futuro na intensidade do sonho, ainda assim devemos lutar intensamente por ele e, quando um dia, finalmente, chegar, ele irá apreciar o nosso esforço. As energias, habilidades, competências e responsabilidades que temos e assumimos não são para ser economizadas, mas para ser gastas todas em favor desse sonho. O fascínio que exerce sobre nós um sonho que se constrói é que ele está, constantemente, chegando e, constantemente, por vir. Administrar projetos, sonhos e ideais não é fazer uma soma, mas pintar um quadro, por exemplo, no qual uma nova paisagem está sendo desenhada, e, a cada dia, recebe mais uma pincelada. Talvez esta seja a resposta de esperança que a juventude, um tanto impaciente, mais procura.
Naturalmente, só há futuro para quem possuir qualidade, integridade e souber crescer com moral, criatividade e inovação. Há futuro para quem possui visão e expectativa abrangente, busca cultivar diferenciais e corrige visões distorcidas e imediatistas. Terá êxito quem servir bem à sociedade e aos grupos humanos. Nesse sentido, temos muito a aprender e fazer, começando por praticar e sinalizar aos jovens e às lideranças valores autênticos, soluções construtivas e maneiras humanas de interação com os clientes, usuários, colaboradores e públicos diversos.
Nesse particular, de forma cíclica, no Brasil e em toda a história da humanidade, houve momentos ora mais tensos, ora menos difíceis. O importante é que, em sua maioria, foram descobertos caminhos para enfrentar e superar as crises locais, regionais e mundiais. O final do século XX e início do terceiro milênio bem poderiam ser comparados ao que foi descrito na Bíblia, como o período dos sete anos das vacas magras, no tempo de José do Egito. Importante que se compreenda que as dificuldades, numerosas e graves, não são apenas individuais – estas, os cidadãos as sentem na própria carne. São, também, coletivas. Infelizmente, muitas instituições e, também, algumas nações, continuam navegando em águas turbulentas.
Reunir, dar visibilidade e valorizar efetivamente a massa crítica qualificada em recursos humanos são estratégias para vencer desafios sociais e econômicos e desenvolver a pesquisa científica. Os descuidos no passado nos servem de alerta, se de fato queremos construir um futuro mais promissor. O Brasil ,dispõe de potencial qualitativo e quantitativo para recuperar, em parte, o tempo perdido. Para isso, é preciso estimular o aprendizado superior, a descoberta criativa e a democratização do saber. A par disso, é fundamental alargar e motivar o trabalho interinstitucional. Trata-se de uma mudança conceitual e de um redirecionamento nacional e internacional de rumos no campo da investigação científica, ainda não totalmente percebido pelos governos, organizações e pessoas, em termos de sua integração progressiva na escala de novos valores. Embora o desenvolvimento não se tenha sucedido de maneira uniforme nos países e nos continentes ao longo da história, o futuro exigirá equilíbrio, solidariedade e crescimento mais igual e com menos sofrimentos humanos, em especial no que toca aos desvalidos que, bem ou mal, não deixaram de concorrer, tampouco se omitiram a participar do progresso do todo. Muito mais do que normas prescritas em convenções e assembléias, por si sós, a ética e a justiça são duas dimensões que asseguram um futuro melhor e mais próspero à humanidade toda, pobres e ricos, brancos e pretos, sábios e pessoas não escolarizadas. Está na hora de considerar a problemática social à luz dos direitos humanos. Cooperação, respeito e paz são três protocolos e ações que precisam ser resgatados urgentemente, se de fato temos o compromisso de melhorar a qualidade de vida por meio da prática da justiça. É bom que se diga que os países industrializados e desenvolvidos do primeiro mundo, principalmente da Europa e da América do Norte, precisam evoluir na mesma direção. Todos terão que passar por ampla reformulação de conceitos. Temos obrigação de garantir um futuro melhor e com mais qualidade à população, porque a globalização da solidariedade assim o exige e determina. Servir com qualidade e dignidade são propósitos gravados no coração, na alma e na inteligência das pessoas sábias e de bem. Esse horizonte é o caminho da paz e do progresso; é por ele que caminhamos com determinação e tenacidade. O futuro grandioso será o resultado de uma conquista coletiva. Por essa razão, estamos convencidos de que a inteligência, os intercâmbios, a humildade e a perseverança são suportes para chegar lá. Acreditamos que não há coisa que seja impossível ao ser humano. Sabemos, entretanto, que o êxito só acontece depois de muito esforço e suor. A humanidade experimenta cada vez com mais intensidade a necessidade de praticar o bem e de promover o altruísmo. Nos quadrantes da terra, as causas sociais e humanitárias são portadoras de um apelo forte de união entre governantes e cidadãos do bem. A convocação geral para a solidariedade, fraternidade e liberdade é a grande mensagem que ecoa na atualidade. O mundo é hoje o que, até agora, o conseguimos construir. Será, no futuro, o que nós o fizermos, melhor ou pior. Será melhor, se nós amarmos com o coração e com a inteligência. Enfim, terá a exata dimensão de nosso trabalho, determinação e amor a Deus e aos semelhantes. Desnecessário dizer que, no mundo criado com tanta sabedoria, não há lugar para desavenças e desperdício de tempo e recursos. Somos, então, conclamados a assumir metas, visões e valores para os quais o ser humano foi criado originalmente, e a prestar a nossa colaboração para que eles se tornem realidade, diariamente.
Véspera de festejar 70 anos de fundação, em 26 de setembro próximo, a Academia Paranaense de Letras compara-se a uma colméia de integrantes, vivos ou falecidos, repletos de vida, grandeza e humildade. A instituição nasceu para associar pessoas dignas e sábias. O objetivo maior da Academia é o bem da cultura, da educação e de seus membros. As suas manifestações públicas contemplam o pensamento e o testemunho de seus confrades, pessoas experientes e renomadas.
Na Academia, respira-se e cultiva-se otimismo, humanidade, visão de futuro e de esperança. Construtiva, a Academia alcança as profundezas do ser superior, faculta filosofar e refletir na atuação cotidiana, entusiasma e se propõe a melhorar o que existe e a auxiliar a construir o novo. Celebrar 70 anos também contribui para voltar um pouco no tempo, retrabalhar o contexto e a origem da entidade e complementar o processo de intercomunicação entre os acontecimentos do passado, a realidade do presente e as expectativas do futuro. São manifestações que reiteram o quanto precisamos privilegiar as adaptações num ambiente em célere mudança. Amor, respeito às diferenças e solidariedade são prioridades absolutas para bem viver em qualquer tempo e lugar. Porém, nada somos e nada podemos alcançar sem a graça, a confiança e a presença divina.
O contexto histórico torna os vultos maiores, mais venerados e imortais. Nesse ato, quero reverenciar a memória dos fundadores, pioneiros e membros que já partiram e se encontram no reino celestial e parabenizar a atual diretoria e os integrantes pelo êxito da instituição, que é coletiva e importante para todos que temos a felicidade de participar dessa plêiade de intelectuais. Essa passagem histórica ajuda a refletir sobre os novos tempos, traçar com mais propriedade novos cenários e horizontes, compreender visivelmente a realidade das organizações culturais não governamentais e, ao mesmo tempo, fortalecer a fé e a nossa esperança. Outro aspecto que a comemoração embasa é que precisamos cada vez mais uns dos outros. Juntos, podemos nos fortalecer, conscientizar e conhecer melhor o que somos e o tanto que podemos avançar neste mundo em franca transformação cultural. O ser humano de nossos dias precisa de reencontros, convivências e televivências, união de esforços e conhecimentos compartilhados. A Academia vem comprovar o quanto a instituição preserva a memória dos pioneiros, no que se refere ao cumprimento de seus princípios, filosofia, missão, solidariedade, ética e diálogo multidisciplinar.
Gradualmente, a avaliação passa a integrar as rotinas administrativas das Instituições de Ensino Superior como atividade pertinente e indispensável. No ensino brasileiro, há muito espaço para se alcançar padrões de excelência, sobretudo no que diz respeito ao aprimoramento de sua prática, processos, métodos e instrumentos. O melhoramento da qualidade da educação não ocorre espontaneamente, nem por acaso. Ele é fruto do comprometimento de todos os membros da comunidade acadêmica, inclusive dos alunos e familiares, não excluída a coragem de fazer as mudanças necessárias por parte das lideranças docentes e administrativas. A avaliação é o instrumento de que a gestão dispõe para tornar esse comprometimento uma realidade efetiva. O confronto dos conceitos de administração e de avaliação demonstra que a avaliação é prática essencial da atividade administrativa. A administração deve ser entendida como a coordenação de esforços coletivos da instituição para o alcance dos seus objetivos. Uma administração bem sucedida é aquela que garante a consecução dos propósitos almejados. Nada é mais óbvio para os administradores e os membros da organização do que medir o alcance do êxito ou o grau de fracasso que obtiveram com o seu desempenho. O propósito sempre será o de aumentar o grau de eficiência, eficácia e efetividade institucional.
A mensuração do grau de sucesso ou de fracasso da instituição oferece aos gestores os elementos objetivos necessários para manter, aperfeiçoar ou redirecionar os procedimentos administrativos da entidade. A melhoria da administração constitui aprimoramento tanto no gerenciamento quanto na instituição, dado que a administração sem avaliação é incompleta e, como o fluir do tempo, representa uma atitude irresponsável pelas conseqüências danosas que ocasiona.
O objetivo último da avaliação é o aprimoramento da instituição. Para a universidade, a avaliação torna-se elemento essencial na busca da qualidade e no alcance da própria excelência, em alguns dos seus setores mais privilegiados. A avaliação, tanto na teoria quanto na prática, não pode ser vista como algo paralelo ou adendo do funcionamento normal da gestão, visto que ela é essencial à operação de uma unidade acadêmica ou programa educacional. A organização que procede à auto-avaliação deve convencer os seus membros a viverem em contínuo “estado de mudança”, o que não deixa gerar algum desconforto. Os integrantes da organização que estão realmente comprometidos com os objetivos da instituição aceitam essa situação de desconforto e abraçam com entusiasmo as iniciativas de avaliação, convencidos e seguros de que as mudanças virão em nome do melhoramento. Os que temem as mudanças ou não comungam com os objetivos da instituição naturalmente a ela vão opor-se. Em geral, todos querem o aperfeiçoamento institucional, todos acreditam no melhoramento e consideram a avaliação como o meio condizente para tal fim. Quando, porém, ausência clima organizacional que reivindica a concordância de objetivos, alguns podem resistir à avaliação. Entretanto, premissa de que a avaliação constitui atividade essencial na administração é legitima e de alta estima em qualquer organização.
Nenhum óbice ou razão pode descartá-la na organização acadêmica. A auto-avaliação da instituição logo tende a criar mecanismos condizentes com a sua realidade especifica, para verificar o grau de eficácia na consecução dos seus propósitos e da sua missão. Os estudos institucionais de avaliação são de crucial importância para o planejamento, validação, regulação e sucesso de todo o processo de gerenciamento. A elaboração de estudos sistemáticos de avaliação e de propostas planejadas de mudança é comportamento habitual e comum em nossa instituição universitária. A avaliação mostra com clareza em que pontos a educação, a pesquisa e os serviços prestados à comunidade podem ser melhorados. A avaliação criteriosa identifica dia após dia os aspectos do desempenho, cujo melhoramento se faz desejável e necessário.
Os avanços das ciências de todos os ramos são sempre reveladores de novos campos a conquistar. Os erros revelam que o conhecimento humano é também falível e, muitas vezes, estamos enganados relativamente à verdade a respeito do Universo. A consciência de que o conhecimento é passível de erro mostra que a verdade é muito maior do que as teorias. Assim,nunca conseguimos conhecer toda a verdade, mas apenas parte dela. Por isso, não podemos nos afastar da humildade e devemos dedicar respeito aos que conhecem o que ainda desconhecemos. Apesar de dezenas de conflitos regionais, neste momento, a humanidade nutre desejos de paz, justiça, entendimento e prosperidade, valores cada vez mais proclamados.por outro lado, também afirma – se não haver mais valores que servem como princípios comuns a todos. Ao contrario, parece haver somente valores “meus” e “seus” que não precisam, necessariamente, ser idênticos. A este nível de questionamento chegou a noção de valor que a cultura pós-moderna criou. Em face disso, julgo ser imprescindível voltar os olhos para a dimensão da sabedoria, que está muito acima dos conhecimentos, tecnologias e informações. Diferentemente do conhecimento, a sabedoria não só é encontrada em livros; deve ser vivenciada. O aluno, por exemplo, pode encontrá-la sobretudo nas palavras, exemplo, comportamentos, relacionamentos e tantas outras demonstrações que os verdadeiros mestres da vida, gentilmente, lhe oferecem. Ser permanentemente um aprendiz é postura fundamental de vida de professores, pais, religiosos, comunicadores, dirigentes, políticos, lideranças e estudantes. O sábio é capaz de perceber que existem novos paradigmas a ser desvendado. Como nos lembra Thomas Kuhn, a sabedoria consiste em admitir que o paradigma não é “o” paradigma e’por essa razão, devemos estar sempre dispostos a aprender. A sabedorias não é como um simples valor cultural, mas como um valor da vida humana.assim, a pessoa sabia não se assemelha aos grandes conhecedores da língua e costumes, de obras de arte e de peças musicais,de formulas matemáticas e de esquemas racionais, que são cegos para os valores da vida, da ética e da transcendência. O sábio transcende o próprio conhecimento, sabe não somente falar sobre os mistérios da vida, mas, sobretudo, sabe dizer qual é o sentido que a vida contém. O sábio é, quando exterioriza o seu ser, aquele que consegue formar, ao mesmo tempo, o profissional hábil e o cidadão honesto, o trabalhador da técnica e o homem da vida, o estudante disposto a aprender e o executivo preparado para fazer e ser. São Marcelino Champagnat, fundador da Congregação dos Irmãos Maristas, ensina: “O testemunho pessoal e comunitário dos educadores maristas, religiosos consagrados e leigos, é tão importante quanto às atividades que realizam as escolas, universidades, hospitais, meios de comunicação, catequese.” Sob certo ponto de vista, as crises atuais, no Brasil e em muitas partes do mundo, são crises de valores que se sustentam no relativismo. Segundo tal tendência, tudo é relativo aos diferentes gostos pessoais de cada um. Mais importante do que imprimir velocidade para descoberta de novos conhecimentos científicos e tecnológicos, é premente a necessidade de resgatar a sabedoria iluminada pela luz de um novo humanismo, centrado na dignidade e integridade humana, respeito ao semelhante e à natureza, solidariedade, otimismo, liberdade, entusiasmo, esperança e desenvolvimento social. E de que mais estão precisando o jovem de hoje e o homem de nossos dias? Portanto, a sabedoria é a justa medida, a visão equilibrada, o ponto de convergência dos múltiplos interesses e valores, da harmonia dialogada entre ciência e transcendência, dos princípios que se propõem e dispõem a construir um universo mais igual para todos os seus habitantes, dos ditames, significados e verdadeiras razoes da nossa existência. A sabedoria afirma, por exemplo, que a corrupção e a ausência de ética não se constituem em liberdade plena, mas proclamam, ao contrario, a desumanização e a deterioração do ser humano. O bem e o bem-estar do semelhante são as grandes vontades e dimensões existenciais do criador e de todas as suas criaturas.
Nos contatos que tenho com os universitários, sempre os desafio a, no dia da formatura, fazerem jus a dois diplomas, ao invés de um apenas: um de competente profissional na área específica de estudos de seu curso e outro de ‘‘gente boa’’. Ambos os diplomas devem, naturalmente, ser conquistados por merecimento. O primeiro por terem aprendido as lições básicas de ciência, e o segundo por terem aprendido, também com os seus mestres, importantes lições de vida.
Concordo com Duderstadt, em sua obra ‘‘Uma Universidade para o Século XXI’’: ‘‘O mundo vai ser sempre olhado pela qualidade das pessoas. Na era do conhecimento, na qual as pessoas educadas e suas idéias se tornam a riqueza das nações, a universidade nunca foi mais importante, e o valor de uma educação universitária melhor avaliado.’’ O que se espera, no entanto, é que essa privilegiada instituição não venha a frustrar o mundo, o nosso país e a juventude que nela confia.
Com persistência e até com voracidade, na universidade devemos buscar o conhecimento por todos os meios. Há mais de dois séculos, Benjamin Franklin já garantia que ‘‘investir no conhecimento rende sempre melhores juros’’. Na era do conhecimento, como está sendo denominada a fase histórica que atravessamos, o conhecimento é muito engrandecido. Penso, entretanto, que não devemos nos contentar com qualquer conhecimento, mas com aquele que é verdadeiro, útil, capaz de transformar e de melhorar a nossa vida e a da sociedade. Vale aqui o alerta de Charles de Foucauld, declarado bem-aventurado, há poucos meses, pelo Papa Bento XVI: ‘‘A ciência só aumenta a nossa gaiola, não a abre’’. Numa universidade, deve-se, portanto, ir além da aquisição do conhecimento. É preciso sair em busca da verdade, que nos liberta e transforma. Aliás, este é o conceito original de Universidade, que não me canso de repetir: ‘‘uma comunidade de mestres e discípulos irmanados na busca da verdade’’.
E o que é a verdade? Entendo que a verdade seja o conhecimento conseqüente, carregado de significado e de implicações. Eu diria que numa universidade católica deve-se ir ainda além: dar um passo adicional em busca da sabedoria. Passar do conhecimento à verdade e desta, quando possível, à sabedoria, que é a aplicação da verdade à vida. Enquanto o conhecimento se aloja na cabeça, a sabedoria mora no coração. O sabido tem a cabeça cheia; o sábio, além da mente esclarecida, tem o coração sensível, generoso e voltado para as boas causas. Heráclito, já na Antigüidade, observou que ‘‘saber muitas coisas não ensina a ser sábio’’.
Quando inauguramos a Biblioteca Central da PUCPR, fizemos questão de gravar na placa de bronze alusiva ao evento: ‘‘A sabedoria construiu para si uma casa’’, pensamento retirado do livro dos Provérbios (9,1). Imagino, e ardentemente desejo, que a PUCPR seja a morada da sabedoria. Para formar profissionais competentes e ‘‘gente boa’’, definitivamente, precisamos de ciência e de sabedoria. A propósito, vem-me à mente aquela frase grafitada por um estudante gaiato na carteira de uma universidade espanhola: ‘‘A sabedoria me persegue, mas eu sou mais rápido!’’ É preciso, então, que a PUCPR deixe impressa a sua marca, de modo indelével, primeiro na alma dos seus professores e depois na alma dos seus estudantes.
Mais do que o lugar da informação, a Universidade Católica deve ser o lugar da formação. Tanto melhor é a universidade, quanto mais se dedica à formação dos seus estudantes. Considero fundamental transformar as salas de aula e todos os espaços universitários em laboratórios de formação.
A mocidade tem enorme potencial de entusiasmo para causas nobres, que não pode ser desconhecido ou ficar subutilizado. O idealismo e a generosidade sempre foram suas características. Moços e moças estão a esperar oportunidades e convites para se envolverem em projetos comunitários, sociais e ambientais. A bem da verdade, a maioria das pessoas e instituições sentem necessidade de praticar o bem e a justiça. Sem exceção, todas as instituições educacionais devem ensinar a lição da solidariedade e da preservação do meio ambiente a crianças e jovens, oferecendo-lhes oportunidade de vivê-la em experiências concretas. Não podemos aprender a andar de bicicleta ou a nadar, com aulas apenas teóricas. Assim é também com a caridade: amar se aprende, amando; servir se aprende, servindo. Enquanto instituição voltada para a conservação e a produção de conhecimentos, a universidade tem, como missão, colocar a riqueza deste mesmo conhecimento a serviço da sociedade, em vista do desenvolvimento integral do ser humano. “Eu vim para que todos tenham vida e a tenham em abundância.” (Jo. 10,10). Esta expressão de Jesus deve ser palavra de ordem, propósito constante, bússola orientadora, enquanto gestores, educadores, comunicadores, médicos, empresários, cidadãos. O saudoso Papa João Paulo II, na Encíclica sobre a solicitude social da Igreja ( Sollicitudo Rei Socialis ), exorta que apliquemos a Palavra de Deus à vida das pessoas e da sociedade e isso implica, necessariamente, que levemos a sério o dever da solidariedade, a ação comunitária, o voluntariado e o senso de cidadania. Assim, as universidades precisam tornar explícito o seu compromisso social, que deve ser amplo e atuante. Convém lembrar o que diz o professor Cristóvam Buarque, em seu livro A Aventura da Universidade : “O que faz a universidade elitista não é o fato de que alguns pobres não terão seus filhos médicos, mas o fato de que os pobres não terão médicos para seus filhos.” Os Programas de Ação Comunitária e Ambiental – ProAção e os Projetos Comunitários da PUCPR são importantes também porque têm efeito multiplicativo. Discípulos e mestres atuam em várias áreas, com muitas frentes de trabalho. Oportunizam a realização de atividades no campo do ensino, da pesquisa e da extensão universitária. A possibilidade de aplicar imediatamente conhecimentos e descobertas científicas avançadas aprendidos nos laboratórios e nas salas de aula requer a adoção, pela academia, de novas abordagens pedagógicas, espaços para estudos e trabalhos conjuntos e integração de esforços entre especialistas. Está claro que ninguém resolve nada sozinho, que uns precisam dos outros, e que é, precisamente, a soma de esforços que promove as diferenças desejáveis e duradouras. O pedido “dá-me de beber”, dirigido por Jesus à Samaritana que se aproxima do poço para apanhar água, lembra também a sede do povo israelita no deserto do Sinai; uma sede saciada pela intervenção divina que faz brotar água da rocha; uma sede de dimensão espiritual, aquela da Samaritana, que acabará por solicitar a Jesus que sacie a sua sede, suplicando: “Senhor, dá-me dessa água, para que eu não tenha mais sede.” Notamos como do diálogo que parte da sede de Jesus que pede água à mulher, chega-se à água que Ele oferece. Água viva que satisfaz toda sede e torna-se, para quem a bebe, uma fonte que jorra para a vida eterna. Em essência, os ProAção e os Projetos Comunitários saciam a sede e a fome das populações e organizações assistidas, por meio da solidariedade da juventude universitária.
O aluno é a razão de ser da universidade, dos processos pedagógicos e de toda a estrutura de apoio. Os esforços realizados são para que ele aprenda, cresça, seja feliz e se realize como pessoa e como profissional. Nosso compromisso, em particular, é oferecer educação integral diferenciada para que o jovem, quando concluir os estudos superiores, saia da universidade com cabeça aberta, coração sensível, bons hábitos de vida e de relacionamento, seja mais solidário e melhor sob todos os aspectos, não só em nível intelectual e habilitação profissional. Currículos modernos, professores facilitadores da aprendizagem, metodologias avançadas para a disseminação e investigação de novos conhecimentos, infra-estrutura de apoio funcional, ferramentas inovadoras de aprendizagem são fatores que asseguram educação de excelência ministrada para os 27.048 alunos da Pontifícia Universidade Católica do Paraná. Não foi só o currículo dos cursos de graduação que modernizamos e, sim, implantamos nova abordagem de ensino mais prático, sendo o foco principal deslocado para o aluno e a aprendizagem. Renovação pedagógica, atualização dos métodos didáticos e revolução dos processos de avaliação são avanços importantes que vêm transformando a universidade nos últimos seis anos. Ao mesmo tempo, a Associação Paranaense de Cultura, dos Irmãos Maristas, entidade mantenedora da PUCPR, procura acentuar os valores tradicionais do humanismo, que sempre fizeram parte das universidades católicas. A propósito, nos últimos 10 a 15 anos, as interações impulsionadas pela globalização e outros fenômenos exigiram ampla redefinição de objetos, processos de trabalho e formas de relações interpessoais, quer das nações, quer das organizações e profissionais em todos os campos de atuação. Nas universidades, a formação dialogada tornou-se mais abrangente, generalista, integrada e participativa. A capacidade técnica incorpora a perspectiva humana; uma depende da outra para concretizar a formação tanto da pessoa, quanto do cidadão. Nessa reflexão, não se pode pensar só em formar cientistas e técnicos altamente especializados, mas é essencial preocupar-se em desenvolver valores humanos, características do cidadão ético e construtor da nova sociedade. O cidadão consciente sabe que é a medida de todas as coisas, como ensinou Protágoras. Quem trabalha a serviço da pessoa precisa, também, cuidar bem do semelhante e da vida do planeta. Foi com esse propósito que a Católica criou o Programa de Ação Comunitária e Ambiental (ProAção), com sedes em Tijucas do Sul, Guaraqueçaba, Guaratuba, Paranaguá, Fazenda Rio Grande e São José dos Pinhais. O grande desafio do ProAção é o de promover, de forma integrada e equilibrada, o desenvolvimento social, educacional e econômico, sempre com respeito à natureza, nossa mãe e perpétua protetora. A coexistência do desenvolvimento com a preservação do patrimônio natural não é, e não pode ser, incompatível. A função da universidade e das pessoas inteligentes é, precisamente, a de descobrir fórmulas viáveis e de fazer propostas concretas para tornar esse objetivo uma realidade para o bem da comunidade regional e de toda a humanidade.
Ao começar novo ano acadêmico, considero importante a recomendação de Clarice Lispector: “Mude, mas mude devagar (sem atropelar); o que importa é a direção, não a velocidade”. O cargo de reitor para o quadriênio 2006-2009 me transforma no capitão de um barco, acalentado por uma utopia, vazio de ilusões, mas carregado de esperança e de coragem para conduzi-lo a bom porto. Consola alunos, professores e gestores a afirmação d e Schopenhauer: “A sabedoria já pertence àqueles que a buscam”. Portanto, tenho consciência clara de que em todas as instâncias é preciso mudar e inovar, mas sem desestabilizar.
A universidade é instituição transmissora de ciências, construtora de conhecimentos e formadora de consciências. A universidade deve ser o farol do conhecimento, da verdade, da sabedoria e do humanismo. A ela compete cuidar do espírito de modo integral e do futuro. Expressiva é a imagem do educador inglês Alfred North Whitehead quando compara a universidade a uma corrida de revezamento, em que a tocha olímpica é passada de mão em mão, ou seja, de geração em geração, para iluminar os caminhos da humanidade. Espero que, na noite das crises por que atravessam as pessoas e a sociedade, a universidade represente sempre um luar de esperança. Para essa desafiadora missão, não lhe pode faltar a coragem ante o imprevisível, a coerência da autocrítica e a disposição de inovar-se, de desconstruir-se para reconstruir-se. O Brasil precisa de uma universidade aventureira da verdade e promotora da sabedoria.
Onde encontrar a sabedoria?. Precisamente, este é o título de um recente livro de Harold Bloom. O autor a procura nas lições dos grandes mestres da literatura. Mas um provérbio persa nos alerta: “Procura a verdade na meditação, e não nos livros mofados. Quem quer ver a lua olha o céu, não a lagoa”. Ao procurar responder a esta pergunta – onde encontrar a sabedoria? – arriscaria acrescentar que devemos buscá-la também na universidade, nas lições dos mestres.
É ocasião de reiterar minha admiração pelo saudoso papa João Paulo II, uma das mais expressivas lideranças do nosso tempo. Era um papa universitário, não só por ter sido professor de faculdade na Polônia, mas por ter sido um intelectual que nos legou importantes lições. A PUCPR e os Irmãos Maristas, em particular, lhes são muito gratos por três razões especiais.
Foi ele quem concedeu, em 1985, o honroso título de pontifícia à nossa universidade. É de sua autoria a carta magna, Ex Corde Ecclesiae, sobre as universidades católicas, documento que orienta o nosso fazer universitário. Foi ainda João Paulo II quem declarou santo, em 18 de abril de 1999, o educador Marcelino Champagnat, fundador da Congregação dos Maristas e inspirador e padroeiro da PUCPR. Este papa deixou para professores e estudantes uma mensagem que é um verdadeiro programa de ação: “Fazer da universidade um lugar onde o ser humano encontra rumo para o futuro, inspiração para o serviço efetivo à sociedade, formação integral e ambiente em que o conhecimento é plenamente cultivado”. (Homilia no Jubileu dos Professores Universitários, em 10/setembro/2000.)
O atual pontífice Bento XVI também é um papa universitário. Foi um dos professores universitários mais jovens na Alemanha e ensinou em quatro instituições, chegando a ser vice-reitor de uma delas. É um intelectual brilhante. Cresceu ainda mais no meu conceito quando o vi afirmar que figuras como Thomas Morus e John Henry Newman são para ele grandes modelos. Confesso que o são também para mim. Estas duas ilustres figuras foram homenageadas com a denominação de dois auditórios no campus Curitiba. A mensagem do atual papa é bem oportuna: “É importante que em uma universidade católica não se aprenda só a preparação para uma profissão. Uma universidade tem de ter como fundamental a construção de uma interpretação válida da existência humana”. (Encontro com os jornalistas da Agência Zenit, 19/abril/2005.)
Nos últimos anos, observa-se redução drástica do papel dos estados como fontes geradoras de emprego. Mas as mudanças nas formas de emprego atingem outros patamares, destacando-se o alargamento da indústria de informações e de entretenimento como setores empregadores e de geração de renda. Igualmente, é perceptível a ampliação do papel social do terceiro setor, formado principalmente pelas organizações não governamentais, e crescimento do setor de serviços, favorecido pelas terceirizações.
Ainda, em relação às mudanças no contexto profissional, está havendo aumento da qualificação média da força de trabalho, acompanhada por novo processo de polarização das qualificações intra e extramercado de trabalho. Ao mesmo tempo, verifica-se crescimento da complexidade e do conteúdo intelectual em seus diversos níveis: gerencial, administrativo, técnico e operacional, e diversificação das formas e dos modos de trabalho: virtual, em equipes multifuncionais, empresa individual, e assim por diante.
As transformações na estrutura ocupacional criam novos cargos e funções e, ao mesmo tempo, eliminam outros. Definitivamente, será cada vez mais constante a perda de espaço dos contratos de trabalho vitalícios ou estáveis, e emergência de formas alternativas, como empregos temporários ou em tempo parcial. No Brasil, alguns condicionantes do futuro precisam ser repensados com urgência, sobretudo no que se refere à inovação tecnológica coexistindo com deficiências nos sistemas de educação, ciência e tecnologia, e envelhecimento da população e mudanças na estrutura etária.
De qualquer maneira, tudo indica que o Brasil se coloca como um dos países emergentes com chances de se inserir, de forma competitiva, em um contexto mundial de rápidas e profundas transformações. E, mesmo padecendo de restrições e estrangulamentos estruturais e conjunturais, possui massa crítica e potencialidades que viabilizam o seu desenvolvimento em bases sustentadas. Seguramente, as principais tendências do panorama mundial abrangem reorganização da economia intensificada pelos avanços científicos e tecnológicos e transição relativamente instável na direção de um novo paradigma de desenvolvimento universal.
É compromisso da universidade introduzir o jovem à cultura dos novos tempos e ajudá-lo a visualizar horizontes seguros, cultivar valores relevantes e capitalizar energias de forma colaborativa. Educar pressupõe preparar o jovem para conviver e distinguir as coisas provisórias e os valores duradouros, compreender as perseveranças e as fraquezas e acreditar na bondade humana.
Os trabalhos e exemplos dos professores e gestores visam educar para o desenvolvimento da valorização da compreensão e do entendimento humano e para a convivência fraterna. Por isso, formamos alunos com visão cristã da sociedade, conciliando ciência, cultura, técnica e fé. O empresariado participa desse processo educacional, mostrando o perfil de profissionais de que necessita. A PUCPR estabeleceu como uma de suas metas formar profissionais que atendam às características peculiares da região e elevar a produtividade das empresas, especialmente por meio da formação e investimento em talentos. A ação educadora focaliza a felicidade, a realização e a promoção do ser humano.
A boa liderança decorre da combinação sinérgica de arte, técnica, habilidade, poder de convencimento e capacidade de exercer influência positiva em âmbito coletivo. Nossa missão social é promover o bem, dentro e fora do campus. A escola é uma instituição a serviço do bem. Esperamos que cada membro da comunidade universitária – professor, estudante, funcionário e dirigente – também o seja.
Isso implica crescer na fé e na dignificação pessoal, familiar e social. Por meio da educação de qualidade acreditamos ser possível corrigir erros históricos do País e sermos uma alavanca para o desenvolvimento da sociedade que tanto merece e de que muito precisa.
Com essa motivação, transformamos a universidade em uma família que produz um bem social. Essa é a razão de nossa convicção, otimismo e esperança de um amanhã melhor para a juventude desta terra. Enquanto a universidade cresce e se expande nos quadrantes do Estado, ela supre necessidades da mocidade e se alia aos seus sonhos de um futuro melhor. Por excelência, nosso produto é gente cheia de vida e de expectativas. Não somos seres feitos só de carne, de ossos e de conflitos, mas sobretudo pessoas com valores, emoções, crenças e fé.
De acordo com a pedagogia marista, buscamos, diariamente, oferecer oportunidade para aprofundamento no ser e no agir. Plagiando Kierkegaard, posso dizer que a grandeza da nossa universidade só pode ser entendida e admirada olhando-se para trás; mas só pode ser vivenciada e amada olhando-se para frente. Bem hajam os que se dedicam à educação. Graças à conjugação de esforços de muita gente, o campus São José dos Pinhais, em funcionamento há 15 anos, está consolidado. Tudo começou numa Quarta-feira de Cinzas, em fevereiro de 1991. Em reunião com algumas pessoas, acertamos o aluguel de poucas salas que seriam preparadas às pressas para o início das aulas, na segunda-feira seguinte, nesta edificação do antigo Seminário dos Sagrados Corações.
A implantação da unidade iniciou-se com 420 universitários. Gradualmente, foi crescendo e hoje abriga 2.498 alunos. Já colaram grau 5.046 profissionais, expressiva contribuição social desse campus. O que era preciso fazer está sendo feito e bem feito, para a educação do jovem, nossa vocação e razão de ser e de existir. Sabemos que o caminho é longo. Por isso, vamos em frente, pois a educação e a universidade são permanentes vir-a-ser.
Qualquer obra que se inicia nasce da coragem e convicção nas coisas em que se acredita. Educação é puro ato de amor e confiança num futuro melhor para o Brasil. Educação é obra de amor como já proclamava S. Marcelino Champagnat, fundador do Instituto Marista. Há 15 anos, começava o processo de concretização do título “Pontifícia Universidade Católica do Paraná”, com a transformação em uma universidade de abrangência estadual. Em 1991, iniciaram seus estudos no Campus São José 420 universitários. Hoje estudam 2.498 alunos. E já concluíram o curso superior neste Campus 5.046 profissionais.
Foi a união de esforços com a igreja, Prefeitura Municipal, Câmara de Vereadores, Poder Judiciário, empresariado, imprensa, lideranças regionais e demais forças atuantes da região que favoreceu a criação e a consolidação desta unidade. Recentemente, foram criadas mais três sedes educacionais: em 2002, o Campus Londrina; em 2003, o Campus Toledo; e, em 2004, o Campus Maringá. Embora sejam cinco campi, a PUCPR é única e indivisível: católica, comunitária e marista. Adota o mesmo projeto pedagógico e cultua os mesmos valores e crenças. A instituição é uma obra projetada para o bem da comunidade civil e empresarial, eclesial e intelectual. De igual forma, leva-se para os quadrantes do Estado educação de qualidade adaptada às exigências dos novos tempos.
O desafio maior para a administração foi e continua sendo assegurar a implantação das condições de infra-estrutura e outras para ser uma universidade de excelência nos aspectos pedagógico, científico e comunitário, que de fato orgulhe a juventude estudiosa, os governos e a população. A abertura de novos espaços educacionais possibilita que mais gente adquira cultura iluminada pela ciência e fé. O relacionamento universitário com a comunidade é caracterizado pela confiança e lealdade recíprocas, respaldadas pela cordialidade, diálogo produtivo, ausência de posturas autoritárias e dogmáticas, reconhecimento dos direitos de cada um, atitude de serviço e responsabilidade. É dada atenção contínua às tendências sociais e culturais que exercem influências na realização pessoal e na formação da consciência dos jovens, assim como no seu bem-estar social, profissional, físico, emocional e espiritual.
No livro Um Brasil mal-educado, Pedro Demo adverte que as maiores vítimas do atraso educacional são as crianças e os jovens. O cidadão bem educado sabe pensar, intervir na hora certa, exigir mudanças, exercer competente e eticamente a profissão. É bom que se denuncie que, no mundo, dos 6,5 bilhões de habitantes, mais de um bilhão ainda carecem de formação básica e vegetam no analfabetismo. A globalização passa tanto pela acessibilidade à educação quanto pela redistribuição de renda. Portanto, a maior beneficiária da abertura deste campus é a juventude. E, gradualmente, a presença da universidade influencia diretamente na transformação de toda a sociedade.
Aproveito esta ocasião para voltar um pouco na história e ressaltar que o trabalho educacional da PUCPR começou, efetivamente, há 47 anos, completados no último dia 14 de março. Os processos de aprendizagem, investigação científica e prestação de serviços são embasados no humanismo cristão, na solidariedade e na formação para a cidadania e para a transcendência. A universidade preserva até hoje a mesma preocupação que tinha seu fundador, dom Manuel da Silveira D´Elboux, em 14 de março de 1959: formação integral da juventude. Isso implica formar profissionais competentes, pessoas boas e cidadãos éticos.
Dos 6,5 bilhões de habitantes da Terra, cerca de 1,1 bilhão são analfabetos. Por isso, as necessidades e as prioridades da globalização nos suscitam reflexão profunda sobre essa complexa e difícil situação educacional. As escolas de ensino fundamental e médio, as universidades, os meios de comunicação social e os governos têm poderes e responsabilidades para mudar essa realidade. É consenso entre os educadores que a formação integral é transformadora e libertadora. Só educa quem ama e deposita no coração, na alma e na mente do educando esperança, confiança, alegria, paz e harmonia.
Independente de posição social e econômica, crianças e jovens precisam traçar perspectivas e alimentar esperança no futuro, buscar felicidade em caminhos seguros e não se iludir com paraísos irreais. Cada dia me convenço mais que a mocidade está disposta a construir um mundo novo e melhor. Por natureza, o jovem é audaz e nutre expectativas que ultrapassam as coisas visíveis. Reconhecido como apóstolo da juventude, São Marcelino Champagnat foi um jovem revolucionário modelar, por não se conformar com a trágica ignorância humana e espiritual daquela época.
Canonizado pelo papa João Paulo II, em 18 de abril de 1999, padre Champagnat foi o fundador da Congregação dos Irmãos Maristas. Tendo como alicerces a humildade, a modéstia, a simplicidade e a confiança em Deus, viveu como vivem hoje, em sua maioria, os educadores, padres, religiosos, dirigentes e membros da nossa sociedade. Marcelino José Bento Champagnat nasceu em 20 de maio de 1789, em Marlhes, centro-leste da França. Por meio da educação familiar, seus pais, Maria Chirat e João Batista, inspiraram-lhe o gosto pelos estudos, a habilidade para os trabalhos manuais, o senso de responsabilidade, a abertura para o novo e a fé cristã.
Nessa época, a Europa passava por transformações profundas, oriundas da Revolução Francesa. Marcelino cresceu e foi educado em um contexto extremamente difícil. Logo depois de ser ordenado padre, em 22 de julho de 1816, foi nomeado vigário da paróquia de La Valla, aldeia isolada e região muito pobre. A par das atividades cotidianas de sacerdote, com urgência, traçou várias frentes de trabalho: visitar doentes, ensinar catequese, assistir pobres, acompanhar famílias. Em 2 de janeiro de 1817, aos 27 anos, instituiu a Congregação dos Irmãos Maristas. Quando faleceu, em 6 de junho de 1840, a Família Marista contava com 290 irmãos, atuando em 48 escolas primárias. No Brasil, a congregação começou atividades em 1897, em sua primeira escola na cidade de Congonhas do Campo, Minas Gerais. No País, hoje, estudam em instituições maristas mais de 100 mil alunos na pré-escola, ensino fundamental e médio e 60 mil no ensino superior. Mais de 50 mil crianças carentes são assistidas em obras sociais.
Presentes no Paraná a partir de 1924, os maristas administram e mantêm colégios e obras em Londrina, Maringá, Ponta Grossa, Cascavel, Itapejara d’Oeste, Toledo, Guaratuba, Paranaguá, Guaraqueçaba, São José dos Pinhais, Tijucas do Sul, Fazenda Rio Grande. Em Curitiba, as principais obras são a PUCPR, o Hospital Universitário Cajuru, o Colégio Santa Maria, o Colégio Paranaense, o Sistema Clube de Rádio, a Rádio Paraná, o jornal Voz do Paraná, a repetidora da Rede Vida de Televisão, a Editora Universitária Champagnat, o Círculo de Estudos Bandeirantes, a Rádio FM e a TV Lumen.
Ainda, os maristas administram a Aliança Saúde PUCPR-Santa Casa de Curitiba. Este conjunto de obras comunitárias e educacionais é modelo de transformação social. Pacientes, os pais de Marcelino educaram com amor, afeto, disponibilidade e presença. Corajosamente, Champagnat tomou a iniciativa e fez as coisas acontecerem, nas salas de aula e fora delas, nos hospitais, nas famílias, nas organizações, no campo, nas cidades e em todos os ambientes onde viveu e atuou. Os ideais de Champagnat são cultivados e frutificam nos cinco continentes do globo terrestre.
As instituições de ensino superior têm compromissos explícitos com a excelência acadêmica integral e com a evolução da sociedade. Esses compromissos são assumidos em favor da clientela e da comunidade a que servem. O objetivo maior da educação integral não é o conhecimento de fatos, mas a aquisição de valores. Por isso, pode-se dizer que a qualidade de uma universidade é medida muito mais pela qualificação de alunos que dela saem do que pelo tipo de alunos que nela ingressam.
É oportuno lembrar que, há mais de dois mil anos, Cícero perguntava a seus pares se existia algo melhor a fazer em favor da República do que educar a sua juventude. O historiador inglês Herbert George Wells, após analisar a evolução da nossa civilização, dava razão a Cícero, ao concluir: “A história humana torna-se cada vez mais uma corrida entre a educação e a catástrofe”. Outro expoente das letras e do pensamento, já nosso contemporâneo, o imortal escritor Jorge Luis Borges, refletindo sobre a mesma pergunta, ensaiou uma resposta: “Não sei se a educação pode salvar-nos, mas não conheço nada melhor”. Pelas suas palavras, parece que ainda paira um resquício de dúvida, que é desfeita com a voz abalizada da Unesco, que arremata: “A educação é, sem dúvida, o maior investimento que uma nação pode fazer por ela mesma e por seus cidadãos”. E por ter absoluta certeza da resposta, a PUCPR abriu, recentemente, novos campi universitários: Londrina, em 2002; Toledo, em 2003; Maringá, em 2004.
Entendo que o cultivo do conhecimento, o trabalho intelectual, a pesquisa, a aprendizagem e as outras atividades acadêmicas e educativas devem ser tratados com o rigor científico e o padrão de qualidade que a dignidade e a grandeza do trabalho exigem. Mais do que qualquer outra coisa, a universidade é, em sua essência, uma comunidade de mestres e discípulos irmanados na busca da verdade e da sabedoria. Aproveito esta oportunidade para fazer aos professores, estudantes e dirigentes um apelo com carinho: Estejam cientes de que vocês, e principalmente vocês, fazem a excelência da escola. Cada um realizando aquilo que lhe é próprio, mas todos perseguindo os mesmos propósitos. Daqui a alguns – ou muitos – anos, vocês irão ter saudade e orgulho deste ambiente e período da vida.
Lembro que as primeiras universidades nasceram à sombra das catedrais. Eram todas universidades católicas. Algumas delas beiram quase um milênio de existência, como as de Bolonha, Paris e Oxford. Nota-se, assim, o papel secular desempenhado pela Igreja na educação, na cultura e na promoção dos valores humanos. A Igreja acredita que é preciso educar todo o homem e o homem todo, como afirma a Constituição Apostólica Ex Corde Ecclesiae. Esse documento abre o seu primeiro parágrafo referindo-se à universidade católica como “nascida do coração da Igreja”.
A universidade é o centro do pensamento e a fiel depositária da grande herança cultural e do saber acumulado pela humanidade. O conhecimento é, reconhecidamente, a poderosa mola propulsora que impulsiona a evolução da sociedade e, por isso, é o seu bem mais precioso. Este mesmo conhecimento é, precisamente, a matéria-prima com que opera a universidade. A função da academia é a de guardá-lo, sistematizá-lo, expandi-lo e disseminá-lo. Em época de verdadeira explosão de conhecimentos e informações, como é a que atravessamos, cresce ainda mais a importância social da universidade. Um novo campus universitário, por exemplo, é um novo canteiro, onde é cultivado o pensamento, e um novo jardim, onde floresce o conhecimento.
Concordo com o sábio Confúcio, que disse que “os jovens devem ser olhados com carinho e respeito”. Discordo em absoluto de Arthur Rimbaud, quando afirma que “ninguém é sério aos 17 anos”. Ao longo da minha carreira de educador, iniciada em 1961, sempre tive a oportunidade de conhecer e conviver com muita gente séria nesta idade. Confiar na juventude significa, acima de tudo, estimulá-la e orientá-la a construir seus próprios caminhos e ideais. É como o pai que, ao presentear o filho com uma bicicleta, segue atento e ansioso ao seu lado, mas não pode pedalar ou se equilibrar em seu lugar.
Por isso, quando se estabelece entre educador e educando uma declarada “relação de poder”, apoiada na autoridade de um sobre o outro, impede-se o desenvolvimento do sentimento de amor, do qual sempre falava São Marcelino Champagnat, fundador da Congregação dos Irmãos Maristas. É evidente que isso não significa fazer concessões medíocres e utilizar mecanismos populistas diante dos estudantes. Ao contrário, significa exercer a autoridade não pela força, mas pela competência, dedicação, caráter, exemplo e postura decidida diante da vida e dos valores duradouros.
Uma conseqüência da atitude de amor e de respeito pelos alunos é a confiança que se deposita neles. Tomando como base este ensinamento, entendo que o professor não deve ter outro procedimento senão a atitude de amor por seus alunos. Isso implica cultivar relacionamento cordial e respeitoso, clima de diálogo, postura de escuta atenta e de interesse por seus problemas e suas crises, a par da atitude de valorização de suas riquezas pessoais e de seus talentos. Implica, também, o desenvolvimento de um clima de família, sem o qual não se pode cultivar o verdadeiro amor, pois a escola não pode ser diferente do lar.
Vale ressaltar que o jovem deve ter algo de adulto, não menos importante, também o adulto deve ter em si algo de jovem. Quem segue esta regra pode até chegar a ser velho no corpo, mas nunca o será na mente, como bem observou Cícero.
Por isso, a função da universidade não é a de encher cabeças, mas a de formar cabeças. E formar também as mãos e o coração. As instituições de ensino superior têm a função de produzir pessoas de cultura. E pessoa culta é aquela que sabe o que conhece, sabe o que desconhece e sabe onde e como encontrar o que desconhece. A propósito, Arnold Toynbee nos lembra que o importante em educação é ensinar a gente a se educar a si mesma. Já conhece bastante quem aprendeu a aprender.
Jean-Paul Sartre, filósofo existencialista do século passado, dizia que a pergunta fundamental que todos devemos nos fazer é: “O que vou fazer daquilo que fizeram de mim?”. Espero que todos os estudantes que cursam universidade possam dizer: “Vou ser uma pessoa competente e de bem, um bom cristão altruísta, um líder positivo e ético. Vou ajudar a população do meu país a ser mais gente e mais feliz”. Tenho certeza de que, se assim for, seus pais e seus educadores se sentirão mais realizados. A universidade – a sua alma mater – sentir-se-á orgulhosa de seus pupilos.
Por isso, acredito plenamente na predição de Eleanor Roosevelt, gravada no bronze da placa de inauguração da sede dos diretórios estudantis do campus São José dos Pinhais da PUCPR: “O futuro pertence àqueles que acreditam na beleza dos seus sonhos”. A experiência comprova que vale a pena lutar por algo em que se acredita.
Praticamente em todas as organizações há muitos heróis, alguns identificados, outros anônimos. São tantos corajosos que plantam ou edificam obras perenes e passam despercebidos! Por exemplo, o principal auditório do campus São José dos Pinhais da PUCPR leva o nome de Leopoldo Scherner, um educador que se confunde com a própria evolução da universidade. No último mês de março, festejou 50 anos como colaborador da instituição. Foi um dos fundadores e primeiro diretor desta unidade, em funcionamento há 15 anos.
De público, aproveitamos esta ocasião para prestar nossas homenagens ao professor Scherner e a todos os pioneiros deste campus: João Oleynik, Paulo Moretti, irmã Zélia Kopacheski, Sérgio Pereira Lobo, Constantino Comninos, Roberto Eurico Schmidt Júnior, Lúcia Izabel Czerwonka Sermann, Kiyoharu Miike, Sylvio Antônio Ribeiro Degaspari, Dorei Brandão, Sylvio Péllico Netto, Orivaldo João Busarello, irmão Joaquim Gonçalves, Euro Brandão e tantos outros professores e colaboradores da primeira hora. No seu livro Campus São José dos Pinhais: uma história em 15 anos, o professor Valério Hoerner Júnior registra a colaboração de todos.
São lideranças que se notabilizaram ao longo desses 15 anos e teceram a história da instituição como figuras ímpares na docência e na gestão. São empreendedores que se destacam por sua postura de competência profissional, humana e cristã, pela lealdade e integração no espírito da instituição e pela fraternidade na inter-relação com os jovens estudantes. Obrigado a todos, pelas lições, exemplos e testemunhos, e também por serem verdadeiros ícones da educação paranaense e brasileira.
Com extrema capacidade e intuição de educar, essas lideranças são pessoas solidárias que enxergam com clareza a suprema arte da educação transformadora. De modo muito particular, queremos expressar nossa carinhosa gratidão ao arcebispo emérito dom Pedro Fedalto, que sempre apoiou as iniciativas pioneiras, as decisões e a atuação da universidade. A universidade é pontifícia porque Fedalto ajudou pessoalmente para a instituição merecer este título de louvor. Por excelência, dom Pedro Fedalto, dom Moacyr José Vitti e dom Ladislau Biernaski são benfeitores maiores desta universidade por seus ensinamentos e orações.
Lembramos também Moacir Piovezan, à época prefeito de São José dos Pinhais, que muito se empenhou na vinda da PUCPR para esta cidade, em harmonia com a Câmara de Vereadores. Com saudade, nos lembramos de Euro Brandão, reitor à época, para homenagear uma figura notável de educador e líder de boas causas. Não podemos deixar de mencionar o trabalho dedicado do irmão Joaquim, sempre atento a todo tipo de necessidade dos alunos, professores e administração no período em que esteve servindo a esta casa.
Hoje, é uma sede acolhedora, bem arborizada e com excepcionais condições ambientais que favorecem o aprendizado, a convivência e a reflexão intelectual. Muito do que a comunidade usufrui se deve ao talento e criatividade do arquiteto Manoel Coelho, responsável pelos projetos desenvolvidos pela Associação Paranaense de Cultura, mantenedora da universidade.
É bom que se diga que, ao abrir novos campi, a PUCPR supre necessidades essenciais, atende a interesses públicos, presta serviços educacionais de qualidade, promove a competência profissional e assegura à municipalidade trabalho de alta qualidade técnica. O crescimento da universidade não deve ser identificado somente sob o ângulo das instalações físicas e expansão da infra-estrutura. O verdadeiro desenvolvimento é aquele que possibilita a realização da pessoa em sua plenitude e integralidade. Há unanimidade entre educadores e educandos que ignorância, alienação, exploração dos sentimentos alheios e desqualificação profissional são situações predatórias.
A globalização, entendida como resultante da consolidação de blocos de cooperação intercontinental, estimula o desenvolvimento de políticas de integração científica e cria condições para um entendimento sociocultural internacional. A mobilidade acadêmica e a cooperação entre instituições de ensino superior e centros de pesquisa estão fundamentadas no entendimento de que, para elas, é necessário e, mesmo vital, promover a circulação de competências intelectuais. Esta circulação, de fato e na prática, demonstra possuir alto poder de fertilização da academia.
Particularmente neste momento, diante de novos desafios decorrentes do processo de mundialização, as universidades são beneficiadas pelo incremento da mobilidade estudantil e docente. Ela favorece o processo criativo da produção de conhecimentos, ajuda a repensar e a aprimorar a própria instituição universitária e, mais importante, traz repercussões favoráveis na promoção do desenvolvimento socioeconômico dos países. A mobilidade acadêmica é vista, no âmbito da Comunidade Européia, como importante fator de integração e elevação da qualidade do ensino e da pesquisa, socializando experiências e conduzindo a uma reflexão conjunta de diferentes sistemas educacionais de ensino superior.
Dessa maneira, incentivar a mobilidade acadêmica nada mais é do que resgatar a própria gênese da universidade, na sua mais pura essência. Ela surgiu na Idade Média como uma comunidade universal, ou seja, internacional, de estudantes e professores provindos de vários países. Daí deriva a origem do nome universidade. Será que depois de assistirmos à formação de alianças estratégicas entre empresas, com o surgimento de organizações de amplitude mundial e à formação de megablocos econômicos regionais, vivenciaremos também a transnacionalização das universidades? Estaria fora de cogitação a formação de grandes redes de conhecimento internacionalizado? Isso, provavelmente, não é mera hipótese utópica.
Acredito que um modelo de cooperação internacional precisa repousar sobre três premissas: a) forte compromisso entre os participantes, em que a cooperação seja vista como prioridade estratégica institucional; b) garantia da efetividade do custo/benefício dos programas; c) desenvolvimento de uma chamada “terceira cultura”, resultante da combinação das culturas institucionais envolvidas no processo. A reunião destes fatores garantiria a relevância dos resultados dos programas de cooperação internacional. A história tem comprovado que estudantes e professores que tiveram a oportunidade de enriquecer seus conhecimentos, sobretudo culturais, com experiências internacionais, possuem outra visão de mundo, e trazem significativas contribuições ao processo de desenvolvimento das comunidades onde se inserem. Investir em intercâmbio acadêmico tem dado bons resultados para todas as partes envolvidas.
Por isso, os dirigentes de instituições de ensino superior responsáveis pela formação das novas gerações estão conscientes de que os cidadãos devem ser educados para viver numa sociedade globalizada. A interdependência que já começamos a vivenciar clama fortemente pela aproximação entre as instituições e os países e pelo incentivo ao intercâmbio universitário.
Toda aprendizagem tem também uma base emocional. Por isso, é fundamental entusiasmar as crianças e os jovens a aprenderem simultaneamente por meio da palavra e do testemunho, processo que começa na família, continua na escola e prossegue na vida toda. Pais e professores, procurem transmitir a seus filhos e alunos mais do que lições de conhecimentos. Sejam mestres na ciência, no exemplo cotidiano, nas posturas e nas atitudes. Tenham presente que vocês são observados e considerados também como modelos. Por essa razão, é preciso que os pais e professores sejam eternos educadores.
Mais importante do que o ensino é a aprendizagem, porque esta é o fim e aquele é o meio. Temos consciência de que, se o estudante falha no aprender, é porque o mestre, de alguma forma, também falha no ensinar. Albert Einstein ensinou: “A suprema arte do professor é despertar alegria na expressão criativa e no conhecimento do aluno”. Acrescento a recomendação do educador Alfred North Whitehead: “O mais importante é que o estudante experimente a alegria da descoberta”. Em sua maioria, professores, pais e comunicadores estão convencidos de que a educação, mais do que produto, é processo de crescimento humano e construção do saber legítimo.
Por certo, a pedagogia criativa, a motivação, a curiosidade intelectual e o empenho do professor fazem enorme diferença nas escolas e universidades. Não imaginemos que os alunos vão aprender tudo o que é ensinado. Longe disso! A educação adquirida é apenas iniciação nos conceitos e nas aptidões básicas para a profissão e a vida. O importante mesmo é que o estudante saia da escola disposto a continuar aprendendo, mas bem equipado com o instrumental necessário, em condições de prosseguir sozinho no permanente caminho da auto-educação e do auto-aperfeiçoamento. A educação é a fascinante aventura de aprender a vida inteira. Nessa caminhada, cada um avança mais ou menos na medida do seu talento e do seu esforço.
O filósofo Soren Aabye Kierkegaard dizia: “O que realmente importa na faculdade não é que o aluno aprenda isso ou aquilo, mas que a sua mente se desenvolva e que a sua energia interior seja despertada”. A pessoa culta e educada não é aquela que sabe tudo, mas aquela que sabe onde encontrar o que desconhece e sabe se comportar frente a situações de desafio que a vida lhe oferece. Por isso, quero convidar o professor a ser criativo nas suas atividades acadêmicas e didáticas, a entusiasmar os seus alunos e a considerar, com apreço, o que já dizia Galileu: “Você não pode ensinar tudo a ninguém; você somente pode ajudar alguém a encontrar o que procura por si mesmo”.
Vocês, estudantes, são a razão de ser das instituições de ensino. Uma universidade faz muitas coisas, mas, de longe, a mais importante de todas é bem educar para a vida os seus acadêmicos. A escola é facilitadora: ela só ajuda os estudantes a se educarem a si mesmos. O valor da educação adquirida na escola é medido pelo que cada estudante consegue agregar ao seu desenvolvimento integral durante os anos de estudo. Isso abrange o intelectual, o profissional, o emocional, o ético, o cívico e o espiritual. Estudantes inquietos e curiosos – não quero dizer agitados e rebeldes -, não se contentem com a simples média, porque média lembra mediocridade, palavras que possuem a mesma raiz. Caros estudantes, busquem sempre mais, superem aquilo que lhes é ensinado, não tenham receio de, no final, brilhar tanto ou mais que seus mestres. Não decidam restringir o seu interesse apenas às aulas, mas vivam a academia em sua plenitude. Não imitem o comportamento daquele estudante que escreveu numa carteira de aula de uma universidade espanhola: “A sabedoria me persegue, mas eu sou mais rápido!”.
Chegou a hora de educar as crianças e a juventude para novos consórcios, alianças e paradigmas de relações existenciais. Os meios de comunicação criam modelos e jeitos novos de vida para o homo comunicationalis, ou o homem em relação. A seu modo, divulgam e interpretam o mundo e o estar-no-mundo. A comunicação é parte intrínseca do funcionamento das organizações modernas. Infelizmente, do ponto de vista de educação, seu processo ainda é limitado e, em muitas situações, o foco é questionável.
Em face disso, a formação escolar integral precisa avançar mais para fazer frente às novas bases culturais da sociedade. Em geral, os cursos universitários dispõem de recursos de infra-estrutura e pessoal docente capaz de conciliar interesses específicos de formação profissional. Todavia, as unidades acadêmicas podem se fortalecer com o entusiasmo, motivação e ânimo por parte da direção, docentes e discentes.
Por sua vez, a mensagem televisiva educativa pode alcançar recantos preciosos a que os educadores, médicos e profissionais de outras especialidades não têm acesso. Em futuro relativamente próximo, a tendência é que a educomunicação, via rádio, televisão e internet, se torne um dos segmentos de mercado que oferecerá expansão de demanda de mão-de-obra. Portanto, investir na formação de jovens nos cursos universitários neste campo é atribuir-lhes responsabilidade para suas ações. Como resultado, estarão preparados para promover a paz e a justiça por meio da palavra, da verdade, da solidariedade e do amor. Jornalismo, Relações Públicas, Marketing Institucional e Publicidade e Propaganda, por exemplo, são instrumentos de comunicação que devem se situar no mesmo plano, de forma a permitir uma atuação integrada, ética, equilibrada e conseqüente da política dos meios de Comunicação Social.
Com essa linha bem definida, os diversos veículos de comunicação não só devem investir em novos ouvintes, espectadores e leitores, como precisam ter propósitos claros de restaurar valores essenciais por meio da atuação ética, competente, livre e formadora da cidadania. Assim, haverá maior democratização dos avanços científicos e aperfeiçoamento profissional, a par de propiciar novo impulso ao empreendedorismo, à solidariedade, ao voluntariado e à formação do senso crítico. Independente de classes sociais e econômicas e faixa etária, o telespectador será cada vez mais exigente, seletivo e crítico. Atualidade, confiabilidade, relevância social, cultural e educacional são ingredientes básicos da qualidade da programação televisiva.
Por serem atividades complementares, educação e comunicação, da mesma forma que cultura e religião, não apresentam qualquer incompatibilidade; todas são de interesse público. Podem e devem andar de braços dados, como primas irmãs. Mais ainda, com fins comuns, educação e comunicação precisam funcionar de maneira integrada, visando prestar um serviço da mais alta relevância às pessoas, o que representa um ganho cultural para a sociedade contemporânea. Ao ser colocada no ar, uma emissora de rádio ou de televisão, por exemplo, pode propagar, imediatamente, a educação, a ciência e a cultura de forma simultânea.
Educação, comunicação e qualidade de vida não são paradigmas estáticos e desconexos, mas evoluem de acordo com os ciclos históricos, alterações sociais e desenvolvimento cultural. São construções da inteligência, da alma e do coração que caminham ao lado da sociedade e de suas instituições, como verdadeiros incentivos para se chegar à dignificação plena do ser humano.
Cada ano que passa, cresce o número de alunos de graduação e pós-graduação que elaboram suas monografias, dissertações e teses sobre esta temática. São pesquisas densas, inteligentes e oportunas. Apresentam conteúdo com características originais e apontam rumos, projetos e responsabilidades tanto das TVs quanto das instituições de ensino. Informar, formar, entreter, divertir, vigiar e integrar são tarefas nobres dos meios de comunicação. Em geral, traduzem o pluralismo de pensamentos e a essencialidade cotidiana. Na contemporaneidade, é vital servir-se de todos os recursos disponíveis e meios de comunicação, em especial a televisão, para educar e ajudar a formar a sociedade toda.
Pelo poder da televisão na era eletrônica e potencialidade de acelerar estágios da civilização, a par da capacidade de reorganizar a realidade social, há consenso entre os pensadores de que a humanidade do século XXI reclama de nova postura ética e padrões morais mais elevados de boa parte dos meios de comunicação social. No mundo inteiro, exige-se dos profissionais que atuam na esfera das mídias inovadoras, como as TVs educativas, Web TVs, TVs Universitárias e vídeos educativos, efetivo conhecimento da arte, da técnica, da estética e das políticas culturais, adicionado da capacidade inventiva e responsabilidade pública.
Foi com essa prospectiva que a Pontifícia Universidade Católica do Paraná aprovou, por decisão unânime, durante reunião do Conselho Universitário, em 22 de setembro de 1987, a reativação do curso de Comunicação Social, com a oferta de 70 vagas, habilitação em Jornalismo, para o concurso vestibular de 1988. Naquela sessão, refletiu-se muito sobre pesquisa publicada em agosto de 1987, a qual alertava que 70% das pessoas adultas brasileiras reclamam da qualidade das notícias e da forma como são publicadas no País. Isto comprovava, no mínimo, dois fatos básicos: há um campo bastante promissor para a educomunicação e o povo brasileiro está descontente com a qualidade da informação recebida.
Transcorridos 18 anos, outra pesquisa, agora desenvolvida pelo Ibope Mídia, intitulada Target Group Index, publicada em agosto de 2005, revelava que o cenário pouco evoluiu. Apenas 32% dos brasileiros disseram estar satisfeitos com os programas de televisão. Para a maioria da população, a TV exagera nas apologias da violência e do sexo e é pouco educativa. Observa-se, portanto, que os investimentos em tecnologia nem sempre são os mais importantes. Antes, o investimento mais significativo diz respeito à própria formação e atuação humana e ética dos proprietários e profissionais da área. A grande missão é preparar, séria e urgentemente, agentes que terão microfones e câmaras nas mãos, além de transmissores e satélites ao seu dispor. Estamos convencidos de que precisamos cada vez mais educar a criança e o jovem para o bom uso desses meios em vista dos fins que buscamos.
Toda sociedade pode avaliar o prejuízo humano causado pelo mau uso dos meios de comunicação social. A Escola de Frankfurt, ao formular a Teoria Crítica, mostrou a necessidade de se considerar o conceito de indústria cultural, seus méritos e seus vícios. Por certo, todos os educadores estão convencidos de que a televisão, por exemplo, tem enorme potencial educativo, político e socializador. Sabemos, por outro lado, das conseqüências da má utilização dessa tecnologia, seja na promoção da violência, seja na divulgação de contravalores, seja na divulgação da cultura da morte. As instituições e as pessoas esclarecidas e bem intencionadas devem fazer a opção pela cultura da vida e pelo cultivo das artes e das ciências.
Em 6 de junho, comemora-se o Dia de São Marcelino Champagnat. A santidade tem origem no amor a Deus e ao próximo. É Deus que escolhe um lugar, um tempo, uma pessoa e a consagra. Champagnat é uma dessas pessoas. Como homem pleno e fecundo e apóstolo zeloso das crianças e da juventude, Marcelino doou a sua vida para fundar um instituto religioso e construir o Reino de Deus. Foi sinal profético em tudo o que se dispôs a fazer no dia-a-dia. É um santo que nos convida a agir de forma dinâmica no presente e olhar para o futuro com audácia e esperança.
Foi reconhecidamente um homem realista, empreendedor e pragmático. A semente lançada por Champagnat se frutificou por todo o globo terrestre. Sua ação está presente em 76 países e mais de 5.000 religiosos maristas. A sua inspiração pedagógica reafirma a essencialidade da educação integral no processo de crescimento das pessoas e das sociedades. No Paraná e no Rio Grande do Sul, as duas Pontifícias Universidades Católicas da região são mantidas e administradas pela Congregação Marista, entidade fundada por Champagnat, em 2 de janeiro de 1817.
Padre Champagnat nasceu em 20 de maio de 1789 e morreu em 6 de junho de 1840, aos 51 anos de idade, na França. A Europa, nessa época, passava por um período de profundas transformações, oriundas da Revolução Francesa com seus ideais de progresso social e solidariedade, mergulhando Paris numa grave crise na sociedade e na Igreja. Nesse contexto, Marcelino cresceu e foi educado. Champagnat foi canonizado pelo saudoso Papa João Paulo II, em 18 de abril de 1999.
Sem exceção, todas as pessoas que atuam nas áreas da educação, saúde, comunicação, pastoral, catequese e outras podem desenvolver matizes, características, clima, jeito próprio de Champagnat. Para tal, basta ter devotamento ao bem comum e coração cheio de ternura, cultivar a alegria e o respeito, acolher as pessoas com amor, seguir a verdade do Evangelho, enxergar além do tempo e do espaço, preparar obras para a continuidade, viver intensamente a ética e a solidariedade, ser entusiasta e idealista, não ter medo ou vergonha de ser peregrino da fé, da moral e do humanismo cristão. São básicos o cultivo e o engrandecimento das amizades.
Universidades e faculdades, colégios, hospitais, meios de comunicação e obras sociais mantidas e administradas pelos maristas são pequenas Igrejas que praticam o Evangelho e voltam-se para alcançar o transcendente. Marista consagrado ou marista leigo é toda pessoa que ama integralmente a Deus e ao próximo. O amor é um só, sem fronteiras, sob aspectos diferentes. A cada dois anos, em média, a massa tecnológica e os conhecimentos dobram, mas os valores que unem as pessoas, como respeito, afeto, atenção, gratidão e fraternidade, são permanentes. A solidariedade e o amor fazem parte da amizade. No Brasil, os maristas mantêm mais de 100 mil alunos na pré-escola, ensino fundamental e médio, mais de 65 mil no ensino superior e 50 mil crianças carentes são assistidas em obras sociais. Qualquer criança e jovem podem ser educados por meio da escola, mídia, arte cênica, coral, obra assistencial. Tudo isto faz parte da missão e confirma aspectos essenciais da missão marista. A via de santidade de Marcelino passa pela unificação profunda de todo o ser e atuar, no amor de Deus, para se abrir ao próximo, exprimindo e traduzindo a fé em obras.
Recordo-me que, em sua homilia, na solenidade de canonização, em 18 de abril de 1999, Sua Santidade João Paulo II ressaltou que os santos são exemplares testemunhas da fé ardente, da caridade genuína, do zelo pela alma, do amor à verdade e da fidelidade ao Evangelho e à Igreja. A quotidiana aspiração do ser humano é a ressurreição, mas para isso precisa colocar em seu coração a paz, a fé e a esperança plena em Deus. Por isso, todos somos convidados a dar atenção máxima para a virtude da caridade, a Deus e aos irmãos, especialmente aos que dela necessitam.
As instituições de ensino superior concentram o pensamento avançado e são as fiéis depositárias da grande herança cultural e do saber acumulado pela humanidade. As primeiras universidades nasceram à sombra das catedrais. Eram todas universidades católicas. Algumas delas beiram quase um milênio de existência, como as de Bolonha, Paris e Oxford. Nota-se, assim, o papel secular desempenhado pela igreja na educação, na cultura e na promoção dos valores humanos. A igreja acredita que é preciso educar integralmente todas as pessoas, como afirma a Constituição Apostólica Ex Corde Ecclesiae. Esse documento abre o seu primeiro parágrafo referindo-se à universidade católica como “nascida do coração da igreja”. Essencialmente, a universidade é uma comunidade de mestres e discípulos irmanados na busca da verdade e da sabedoria. A todos os professores e aos estudantes de nível superior, dirijo-me com especial carinho e lhes faço um apelo: Estejam conscientes de que vocês, e principalmente vocês, fazem a diferença na universidade. Cada um realizando aquilo que lhe é próprio, mas todos perseguindo os mesmos propósitos. Há dois mil anos, Cícero perguntava a seus pares se existia algo melhor a fazer em favor da República do que educar a juventude. O historiador inglês Herbert George Wells, após analisar a evolução da nossa civilização, dava razão a Cícero, ao concluir: “A história humana torna-se cada vez mais uma corrida entre a educação e a catástrofe”. Outro expoente das letras e do pensamento, já nosso contemporâneo, o imortal escritor Jorge Luis Borges, refletindo sobre a mesma pergunta, ensaiou uma resposta: “Não sei se a educação pode salvar-nos, mas não conheço nada melhor”. Pelas suas palavras, parece que ainda paira um resquício de dúvida que é desfeita com a voz abalizada da Unesco, que arremata: “A educação é, sem dúvida, o maior investimento que uma nação possa fazer por ela mesma e por seus cidadãos”. É por ter absoluta certeza da resposta que a PUCPR abriu três novos campi: Londrina, em 2002; Toledo, em 2003; Maringá, em 2004. A democratização do conhecimento, a educação integral, a investigação científica e a solidariedade são, reconhecidamente, as poderosas molas propulsoras que impulsionam a evolução da sociedade e, por isso, são os seus bens mais preciosos. O conhecimento é, precisamente, a matéria-prima com que opera a universidade. A função da academia é a de guardá-lo, sistematizá-lo, expandi-lo e disseminá-lo. Em época de verdadeira explosão de novos conhecimentos e informações, como é a que atravessamos, cresce ainda mais a importância social das instituições educacionais. Por isso, a abertura desses campi universitários representa novos canteiros, onde são cultivados os pensamentos, e novos jardins, onde florescem os conhecimentos. O cultivo do conhecimento, o trabalho intelectual, o ensino, a aprendizagem e as outras atividades acadêmicas e educativas devem ser tratados com o rigor científico e o padrão de qualidade que a dignidade e a grandeza da missão exigem. As entidades educacionais têm um compromisso explícito com a qualidade, a inovação e a sintonia social. Esse compromisso é assumido com a clientela e com a comunidade a que serve. O objetivo da educação não é só o conhecimento de fatos e a formação profissional, mas a aquisição de valores. Por isso, pode-se dizer que a qualidade de uma escola é medida muito mais pelo padrão de alunos que dela saem do que pelo perfil de alunos que nela ingressam.
A universidade não educa só para a pessoa exercer competentemente determinada profissão ou melhorar o status social ou ganhar a vida, mas para alargar horizontes e visão de futuro, crescer em várias dimensões, viver outras responsabilidades e ser feliz. Bertrand Russell, laureado prêmio Nobel, enfatiza que “a educação superior deve ter dois objetivos: primeiro, oferecer conhecimentos definidos numa área específica; segundo, criar hábitos mentais que tornem o educando capaz de adquirir conhecimento e formar bons julgamentos por ele mesmo”. Desenvolver a inteligência, lapidar o caráter e aprender a trabalhar e conviver em comunidade são objetivos da educação.
Nessa prospectiva, o jovem sempre carrega sonhos como projeção de sua própria existência. Os sonhos ajudam a fortalecer a motivação. Jung, respeitado psicólogo suíço, lembra que Deus fala aos homens por meio de sonhos e visões. Khalil Gibran, inspirado poeta sírio, recomenda: “Confie nos sonhos, pois neles pode estar escondido o portal da eternidade”.
Para o poeta francês Paul Valéry, a melhor maneira de fazer os sonhos se tornarem realidade é acordar. Isso implica visualizar oportunidades, estudar com afinco, exercitar o senso crítico e criativo e ser útil à sociedade. “Os céus só ajudam as pessoas de ação”, escreveu Sófocles. As idéias das pessoas decididas devem ser trabalhadas pelo cérebro e pelos braços ou, então, elas não são nada mais do que sonhos e, talvez, fontes de frustrações.
No Brasil, é um privilégio ingressar na universidade. Não passam de 13% os jovens brasileiros que estão nas instituições de ensino superior. Nos Estados Unidos e Japão, passam de 50%. Outra realidade lastimável chama a atenção: no Brasil, são apenas 7% a 8% dos cidadãos que concluem curso superior. Se esse universo não contribuir, efetivamente, para o desenvolvimento e crescimento da economia, se não conquistar independência cultural, então, parcela da humanidade não terá o futuro que espera e merece. Insisto, a sociedade não necessita, apenas, de profissionais habilidosos e preparados para enfrentar o mercado de trabalho. Precisa, acima de tudo, de cidadãos conscientes, dignos, honestos, éticos e solidários.
A par disso, “a Universidade Católica desempenha formação específica e uma importante missão, a de construir uma humanidade agradável a Deus. Entre os problemas que ela precisa afrontar, encontra-se o constante desafio representado pelas relações entre fé e razão, fé e cultura, fé e progresso científico” (dom Álfio Rapisarda).
Por ser uma instituição mantida pelos Irmãos Maristas, a PUCPR se empenha em seguir, em conjunto com os leigos que compõem o seu corpo docente e técnico-administrativo, orientações e projetos educativos de formação integral. Seus alicerces estão fundamentados no espírito de família e de fraternidade; diálogo pluricultural e inter-religioso; educação para a justiça, a paz e a solidariedade; formação de pessoas livres, justas e comprometidas na transformação da sociedade.
É oportuno mencionar a inscrição encontrada na Saint Paul’s School, de Concorde, New Hampshire: “Vamos aprender na terra coisas cujo conhecimento pode continuar no céu”. Na Universidade Católica, é o diálogo entre ciência, técnica, cultura e fé que fertiliza a inteligência, a alma e o coração. Importante, entretanto, é que fiquemos sempre atentos para estar do lado de Deus, da sociedade e do bem. O ser humano se engrandece quanto mais se aproxima do Criador e ama o próximo.
O berço de tudo o que temos e o exemplo de vida dos inventores, dos santos e de tantas pessoas honradas servem de motivação e inspiração na construção de um futuro melhor. O jovem, em especial, deve sentir o agradável dever de reconhecer o idealismo, a criatividade, a determinação e o empreendedorismo desses heróis e mártires. Desprendimento, espírito altruísta e criatividade motivam a trajetória para crescer e se realizar no ambiente familiar, na sociedade e em harmonia com o mundo e com a natureza.
No dia-a-dia, vê-se quão importante é o reconhecimento dos nossos antepassados e o fulgor das esperanças que eles alcançaram. A partir desse sentimento e percepção, com entusiasmo e sensibilidade, devemos continuar a caminhada e a prática do bem, inclusive visando garantir às novas gerações suportes para minorar seus sofrimentos e angústias, enriquecer os conhecimentos e os modos de vida, favorecer a felicidade e a realização pessoal e profissional.
O ideal, os feitos e a memória de mulheres e homens ilustres e abnegados nos enchem de coragem e disposição para prosseguir, com igual ou, até, maior empenho. A disposição de servir e fazer o bem à humanidade, o talento construtivo, o trabalho persistente, a dedicação incansável desses idealistas serão sempre virtudes reconhecidas pelo valor que elas concentram. Sigamos os passos e os exemplos com a mesma determinação.
Maquiavel dizia que onde a vontade é grande, as dificuldades não são imensuráveis. É certo que a vida de cada ser vai sempre apresentar desafios; devemos fazer o que é preciso e o que ela exige para melhorá-la, não o que, simplesmente, queremos e gostamos de fazer. Isso foi certo no passado e continua verdadeiro hoje e sempre. A prática do bem, a gratidão, a honestidade, a lealdade e a solidariedade são visões e valores iguais de todos os tempos; eles nos asseguram vitórias institucionais e desenvolvimento social (J.Patrick Murphy).
Já há dois milênios, Cícero ensinava que os homens se assemelham a deuses, quando fazem o bem à humanidade. Mais modernamente, Thomas Jefferson afirma algo semelhante, quando sustenta que a essência da virtude é fazer o bem aos outros. Longe, portanto, qualquer desânimo ao se deparar com a primeira pedra no meio do caminho.
Digo isso porque, queixar-se, virou lugar-comum e, convenhamos, uma atitude chata, tanto para quem a pratica quanto para quem a ouve. É algo inútil, quando se depara com pessoas pouco sensíveis. Soluções inteligentes são a união de potenciais e esforços, as alianças estratégicas e as ações comunitárias e humanitárias. Essas dão alento e abrem novas oportunidades de convivência. A globalização da solidariedade e a entreajuda auxiliam a sobrevivência terrena e a preservação do meio ambiente.
Não acredito em metas abstratas com formulações retóricas, por mais atraentes que sejam, se elas não puderem ser traduzidas em passos concretos, gradativos e, também, mensuráveis. Isso porque, se assim não for, impossível termos a certeza de algum dia vê-las alcançadas. O amanhã já começou, porque o projeto do futuro se faz hoje, com qualidade em todas as ações e, até, nos pensamentos.
Há muitas alternativas e sonhos fecundos para garantir às novas gerações o desenvolvimento social e um futuro melhor, uma das quais é ampliar as oportunidades educacionais. Conhecimento, se não for renovado e ampliado, está sujeito a depreciação, desgaste e corrosão. Em contrapartida, pode transformar-se em alavanca para melhoria cultural, industrial e econômica das pessoas, da sociedade e das nações que o valorizam.
Proximamente, será lançada obra que reconstrói a gênese, a existência e a evolução cinqüentenária do curso de Medicina da Pontifícia Universidade Católica do Paraná. Como reconhecimento da comunidade universitária por seu trabalho e dedicação inexcedíveis, o livro imortaliza uma das personalidades exponenciais da medicina paranaense, Mário Braga de Abreu, formador de várias gerações de médicos do Estado e do País. Ele completaria 100 anos em 25 de abril de 2006, se vivo estivesse. Existencial, o conteúdo da publicação premia o leitor e, ao mesmo tempo, recompensa o esforço, a dedicação e a inteligência do autor, professor da PUCPR e talentoso escritor Valério Hoerner Júnior. Mário Braga de Abreu será vulto imorredouro na memória dos paranaenses, também pelas cirurgias miraculosas de que se beneficiaram tantas e tantas pessoas e pela presença marcante no progresso das ciências médicas. É do arcebispo emérito de Curitiba, dom Pedro Fedalto, a afirmação: “Como fundador da Faculdade de Ciências Biomédicas e da própria universidade, falar do professor Mário de Abreu equivale a ressaltar a figura perfeita do Mestre da Medicina”. O livro reúne depoimentos inéditos e experiências de pessoas que ministraram com amor o magistério e exerceram com sabedoria a gestão institucional, ou que possuem laços profundos com esta universidade. Os estudos hão de frutificar, para iluminar as mentes das novas gerações. As lições proporcionam conhecimentos e concentram testemunhos que exaltam o amor à vida, à ciência e à prática cristã. Sabedoria, senso prático, liderança, fidelidade e desprendimento eram alguns atributos do nosso homenageado. É oportuno lembrar as palavras do saudoso reitor Osvaldo Arns: “Ao professor doutor Mário Braga de Abreu, fundador e alma inarrefecível de sua escola de Ciências Médicas da Universidade Católica e da Santa Casa de Misericórdia de Curitiba, o silêncio quedo e deslumbrado a curvar-se diante do gigante humanitário e fulcro exponencial da medicina, médico-símbolo da intangibilidade ética!”. É possível medir a grandeza de sua alma e a sua liderança, a própria espiritualidade visível, a consciência revolucionária sobre a saúde, pelo quanto, amorosamente, fez de caridade e soube propagar os ensinamentos de Cristo. Repousar na profundidade científica, na verdade dialogada entre ciência e fé e no amor ao próximo são referenciais do seu cotidiano. Foi uma pessoa que soube ensinar e que continuará ensinando a viver com dignidade. Conheceu a responsabilidade e o sacrifício da profissão, sem fazer qualquer esforço para se autopromover. De fato, amamos Mário Braga de Abreu neste banquete da misericórdia, dentro dos reencontros e acontecimentos a sós e certos que sempre estamos próximos. Silenciosamente, no decorrer da leitura da obra é possível adentrar na profundidade de seus atos, entender a sensibilidade intensa para o amor e ser envolvido pela personalidade do professor e médico-sacerdote Mário Braga de Abreu. “Estava doente e tu me assististe. Venha hoje, 8 de julho de 1981, fazer parte do reino que preparei para os justos e àqueles que exerceram a missão com espírito de caridade, como tu, Mário Braga de Abreu.” Pronto, eis-me aqui: “Senhor, entrego-me a ti, para que me leves aonde quiseres. Não imponho condições, nem pretendo ver onde me levarás. O homem não é senhor e nem dono da ciência, das honras e de coisa alguma, mas somente usufrutuário do seu corpo e da sua breve existência”. (Bernhard Haring.)
Nas duas últimas décadas do século XX, a humanidade conheceu mudanças radicais nos modos de vida, costumes e valores referenciais. Entretenimento, educação física e lazer são valiosos recursos comportamentais que ajudam a pessoa a viver melhor. Convivência familiar, amizade e recreação são fatores da maior importância em nosso dia-a-dia, por serem agradáveis à vida, fundamentais para a saúde e essenciais à integração comunitária e cultural. Quem assim pensa e age, exerce melhor as suas responsabilidades pessoais, familiares e sociais e, por conseguinte, vive melhor e mais integrado com a comunidade e com o mundo. Os esforços para viver sempre mais e melhor são também impulsionados pelas motivações, forças do espírito e potenciais de energia que carregamos dentro de nós. Na verdade, podemos gerar tanta energia interna quanto precisamos ou mesmo quanto queremos. A brevidade da vida, a velocidade dos anos e a percepção da variável tempo são realidades concretas, às vezes não despertadas e devidamente valorizadas. Parece que o normal é perceber essas coisas quando a vida chega ao fim. A valorização do tempo e a diligência no seu aproveitamento são conseqüências naturais dessa descoberta. Certo é que a vida é breve, muito breve. Carlyle a descreveu de forma poética: “Uma vida – um lampejo de tempo entre duas eternidades”, o antes e o depois. Por isso, gente de todas as idades deveria reservar algum tempo para melhorar a performance física e intelectual, até como meio para reduzir as condições de estresse do corre-corre cotidiano. A vida está sempre a nos apresentar desafios; devemos fazer o que é preciso e o que ela exige para melhorá-la, não o que, simplesmente, queremos e gostamos de fazer. Isso foi certo no passado e continua verdadeiro hoje. Muitos valores de agora são os mesmos de sempre: a prática do saber viver assegura vitórias. É importante controlar as tensões e verificar o quanto é possível alcançar êxito neste aspecto por meio da recreação. A saúde e o bem-estar decorrem de múltiplos fatores entrelaçados. O lazer promove a melhoria das condições de saúde, bem-estar e do padrão de qualidade de vida das pessoas. Esta, aliás, é a essência de vários livros, estudos e ensaios publicados recentemente. Por sua vez, encontros e conclaves intensificam e atualizam o conhecimento científico sobre a cultura do lazer e, ao mesmo tempo, alargam as fronteiras do intercâmbio e disseminam novas idéias nessa área. Também são ocasiões para promover a interdisciplinaridade e criar novos relacionamentos interpessoais. A reunião de pessoas que buscam se complementar acadêmica e profissionalmente faz crescer as dimensões culturais, sociais, intelectuais e espirituais. Estudantes, profissionais e estudiosos sentem a necessidade de comunicar os seus pensamentos e, nas universidades, encontram oportunidade fértil para fazê-lo. Sempre há algo novo e complementar para dizer, escrever, ler e ouvir. Recreação e esporte também embasam o sentimento altruísta e o trabalho de equipe, a par de melhorar o padrão de ensino e da pesquisa e fomentar a cultura do lazer e da educação física. Destinadas a pessoas de todas as idades, atividades extra-acadêmicas ofertadas pelas instituições de ensino superior complementam a aprendizagem e facilitam conhecer-se melhor, condições que favorecem o bem-estar, a auto-estima e a vida digna.
A verdade vem, necessariamente, acompanhada do bem comum. Em busca da verdade, deve-se colocar os conhecimentos e recursos a serviço das pessoas. Educação integral pressupõe preparar a cabeça do aprendiz para bem pensar, descobrir a verdade, abraçar a paz, dar habilidade às mãos para praticar a solidariedade. Ao mesmo tempo, é fundamental formar o coração e fortalecer a alma com sentimentos nobres, convicções sólidas e valores perenes. Nesse particular, o meio ambiente é um capítulo importante que não pode faltar na formação das crianças e jovens. A capacitação técnica deve ser complementada por profundo senso de respeito e espírito de cordialidade. Quem trabalha a serviço do bem público precisa, também, cuidar das condições do planeta, por ser a casa onde moramos. Os grandes desafios que os países, governos e sociedade enfrentam é o de promover o desenvolvimento social e econômico de forma integrada, sempre com respeito à natureza, nossa mãe e perpétua protetora. A coexistência do desenvolvimento e a preservação do patrimônio natural não são, e não podem ser, incompatíveis. A função da família, da escola e dos cidadãos inteligentes é, precisamente, a de descobrir fórmulas viáveis e de fazer propostas concretas para tornar este objetivo uma realidade para o bem universal. Percebe-se que a preservação do meio ambiente, em geral, e da vida, em particular, reveste-se de especial significado para todos os povos. O progresso tecnológico e o domínio do ser humano sobre a natureza trazem muitos benefícios. Contudo, é visível a crescente consciência e o receio que temos, cada vez mais fundado, infelizmente, quanto aos efeitos, às vezes desastrosos, dos avanços tecnológicos, quando a preocupação com o verdadeiro bem das pessoas não está presente. Existe, portanto, a necessidade clara de empreender iniciativas para proteger, preservar, defender e, em alguns casos, restaurar o meio ambiente, a fauna, a flora, os solos, as águas e o ar. As causas que tratam da promoção do bem comum exigem somatória de esforços das pessoas e das instituições, sejam elas públicas ou privadas. O trabalho em conjunto é sempre mais eficiente e mais eficaz. Por exemplo, é atitude inteligente e louvável a iniciativa do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis – Ibama-PR, prefeituras e Universidade Católica de formarem parcerias para a instalação do Centro de Triagem de Animais Silvestres – Cetas, com sedes em Tijucas do Sul e Toledo, em prol da preservação e da educação ambiental. As organizações sentem-se fortalecidas em participar de projetos desta grandeza, com a garantia de contarem com a colaboração e conhecimentos de professores e com o entusiasmo de estudantes. Como instituição educacional e científica, nossa universidade assume publicamente o compromisso de educar e envolver a juventude para a preservação e o respeito à natureza. A formação de profissionais comprometidos com a vida e com a sociedade é um dos elementos-chave da missão das instituições educacionais católicas. Para que todos saibam, o Centro de Triagem de Animais Silvestres – Cetas é unidade científica especializada em receber espécimes apreendidos pelas autoridades fiscais no comércio ilegal de aves e animais, realizar tratamentos, quando necessário, e promover a sua readaptação e posterior reintegração à natureza. O centro funciona também como ambiente privilegiado para a promoção da educação ambiental, a realização de estudos, pesquisas e para o treinamento de alunos, sobretudo aqueles dos cursos de Biologia, Zootecnia, Agronomia e Medicina Veterinária.
A partir do início da década de 1990, a globalização vem transformando as sociedades com intensidade e velocidade crescente nos cinco continentes. É um cenário que vai continuar se consolidando por mais algum tempo. No Brasil, as mudanças sociais também resultam da combinação da estabilidade econômica e política, da abertura externa e da reestruturação do setor produtivo. Mesmo padecendo de restrições e estrangulamentos estruturais e conjunturais, o Brasil dispõe de massa crítica, recursos naturais e potencialidades humanas que viabilizam o seu desenvolvimento em bases sustentadas.
Em seu livro A Terceira Onda, Alvin Toffler discorre sobre cinco grandes ciclos da evolução da humanidade. Chama-os de ondas. A primeira, a onda agrícola, que atinge até o século XIX, tem seu diferencial de poder na posse de terras. A segunda, a onda industrial, do século XIX até as décadas de 1950 e 1960, tem o seu diferencial no capital. A terceira onda, consolidada com o desenvolvimento da informática, desloca o eixo do poder para a inteligência, comunicação e informação. A onda da produtividade, que coexiste com a anterior, tem seu diferencial na excelência pela qualidade. A quinta onda, da imaginação e da intuição, começou a dar seus primeiros sinais no final do século XX e início do século XXI.
A par de estarmos adentrando essa nova era, presencia-se bastante heterogeneidade nos continentes e no seio dos países. Há muitas chagas sociais decorrentes das desigualdades, injustiça, corrupção, discriminação e marginalização. Contexto universal uniforme é, seguramente, o maior sonho da humanidade. Enquanto não alcançar, ninguém pode sonhar dormindo. Este sonho, uma realidade em potencial, assume características de desafio. Os chineses têm um provérbio cheio de sabedoria: “Não importa o tamanho da montanha, ela não consegue esconder o sol”.
Nos encontros e palestras para jovens, mostro a eles que é natural que as transformações na estrutura do trabalho criem novas ocupações e, ao mesmo tempo, eliminem outras. Será cada vez mais constante a perda de espaço dos contratos de trabalho formais e estáveis, e emergência de formas alternativas, como empregos temporários ou em tempo parcial. Também por causa desses condicionantes, a educação superior está sendo continuamente repensada, sobretudo no que se refere às inovações pedagógicas e tecnológicas. É preciso educar a juventude para sobreviver e crescer nesse novo contexto.
Ainda em relação às mudanças no ambiente cultural e profissional, está havendo aumento da qualificação média da força de trabalho, acompanhada por novo processo de polarização das qualificações intra e extramercado de trabalho. Em paralelo, verifica-se crescimento da complexidade e do conteúdo intelectual em seus diversos níveis: gerencial, administrativo, técnico e operacional, e diversificação das formas e dos modos de trabalho: virtual, em equipes multifuncionais e empresa individual.
Portanto, a mudança tornou-se processo permanente, não mais evento isolado. Num mundo de competições acirradas, vão sobreviver as organizações que estiveram mais bem adaptadas ao novo paradigma de desenvolvimento universal. Vale, aqui, a observação do saudoso reitor emérito da PUCPR, professor Euro Brandão: “Há que se insistir na prevalência da pessoa sobre a máquina e da ética sobre a técnica. De uma coisa temos absoluta certeza: avanço tecnológico e científico sem avanço social não provoca desenvolvimento, mas crescimento da exclusão e do mal-estar entre as pessoas”.
As organizações não podem dispensar nem a experiência dos mais antigos e tampouco a contribuição dos mais novos. Jovens talentos administrativos precisam ser descobertos, cultivados e testados. Uma instituição saudável sempre deve ter à sua disposição um bom banco de reserva, com craques dispostos e prontos a entrar em campo a qualquer momento. Ter habilidade em identificar talentos é sinal de competência e sensibilidade do próprio gestor e empregador.
A administração eficaz pode ser considerada como uma arte que exige habilidade no trato com as pessoas, que requer minuciosa atenção a uma variedade de obrigações e tarefas, e implica em possuir qualidades pessoais para supervisionar subordinados e disposição para exigir o cumprimento de normas e regulamentos. A administração precisa, ao mesmo tempo, liderança política, conhecimento técnico e desempenho burocrático. Em suma, liderança é um processo de persuasão e de exemplo. Para isso, é preciso ter boas idéias e poder de convencimento. A essência da liderança é, então, a habilidade de persuadir, de convencer, de obter a adesão dos outros, de fazê-los trabalhar por algum objetivo comum.
A liderança positiva repousa sobre alguns princípios que merecem ser lembrados. São eles: 1) A organização sempre pode ser melhorada e o esforço em fazê-lo sempre é compensador (Princípio da Perfectibilidade). 2) Como nem todos pensam da mesma forma, concordância plena não existe. Sem um mínimo de concordância, porém, o grupo não funciona (Princípio da Concordância). 3) O passado é criador do futuro; o que se faz hoje tem conseqüências amanhã (Princípio da Continuidade). 4) O líder controla os seus seguidores e é controlado por eles (Princípio do Controle Recíproco). 5) A influência do líder depende de sua credibilidade (Princípio da Credibilidade). 6) Existe enorme potencial de energia dentro das pessoas, muito mais do que se imagina (Princípio da Energia). 7) Existe também o efeito sinérgico dentro do grupo, pelo qual é possível multiplicar o esforço e os resultados (Princípio da Sinergia).
Os verdadeiros líderes demonstram nos seus comportamentos e compromissos pessoais algumas características que os distinguem das outras pessoas. É bom observá-los para ver se também nos incluímos nesse grupo. 1) Em geral, os líderes não estão satisfeitos com a situação existente; por isso, buscam oportunidades para mudar o status quo . Tomam iniciativas e assumem riscos. 2) A partir da situação real onde atuam, os líderes sempre imaginam cenários melhores. Sonham, então, com um futuro melhor para si e para os outros e conseguem seguidores neste sonho. 3) Os líderes preparam os outros para a ação. Eles sabem como buscar colaboração para a ação, reforçando e preparando os outros para agir. 4) Os bons líderes abrem caminho. Para tanto, dão o exemplo para os outros e planejam pequenas vitórias. 5) Finalmente, os bons líderes animam o grupo. Reconhecem a contribuição dos outros e celebram com os colegas as vitórias e sucessos, que são de todos.
Donald E. Walker, um experiente dirigente acadêmico americano, recomenda especial atenção para três proposições gerais, dadas em forma de conselho, que ele chama de axiomas dos administradores eficazes: 1) Respeite as pessoas com as quais você trabalha. 2) Entenda a organização para a qual você trabalha. 3) Lembre-se, como administrador, por que você está aí. É uma síntese feliz do que o administrador responsável não pode ignorar e esquecer.
O Programa de Ação Comunitária e Ambiental – ProAção da PUCPR é processo renovador de formação para a cidadania e promoção da solidariedade. A bem da verdade, é preciso dizer bem alto, essa é uma prioridade da educação integral para este século XXI. A prestação de serviços humanitários e gratuitos e o bem-estar pessoal e do próximo são características do cidadão consciente e do jovem altruísta.
Atuar em áreas sociais estratégicas é a principal característica do ProAção. Instituído em 18 de junho de 1999, o programa abrange ações nos campos da saúde, escola, educação ambiental, assessoria jurídica. Atualmente, há seis núcleos-sede em funcionamento: Tijucas do Sul, Guaraqueçaba, Paranaguá, Guaratuba, Fazenda Rio Grande e São José dos Pinhais. A iniciativa, pioneira, destaca-se por envolver várias frentes de trabalho, com efeito multiplicativo imediato. Os projetos são executados de conformidade com abordagens científicas e competências técnicas. O eixo condutor é a solução de problemas comunitários, formação da cidadania construtiva e realização pessoal.
Igualmente, o programa busca incentivar projetos de paisagismo, regenerar e introduzir novas espécies de flora e fauna silvestres, organizar e desenvolver atividades que aprimorem o setor agropecuário, dar suporte pedagógico e técnico às escolas e creches e orientar a comunidade local sobre auto-sustentação econômica. Sem essa contribuição, demoraria mais tempo para o poder público resolver a imensidão de problemas em que o País está mergulhado. Com união e utilização eficiente do potencial humano, técnico e científico existente na universidade em boas causas, torna-se mais fácil assistir pessoas que precisam de auxílio.
Outra finalidade do ProAção é cultivar o senso de solidariedade, voluntariado e cidadania pacífica. Essa consciência política e social exige da academia adoção de novos paradigmas pedagógicos, trabalho conjunto com instituições públicas e privadas e integração de competências e aptidões entre especialistas de áreas diversas de conhecimentos. Ninguém é capaz de resolver todos os problemas sozinho. Cada dia que passa, um necessita mais do outro. É precisamente a soma de esforços que promove as diferenças desejáveis e duradouras.
A originalidade desse programa está em facultar ao participante a aplicação de seus conhecimentos, exercitar a criatividade e promover iniciativas coerentes com a missão social, demonstrando a viabilidade de um compromisso concomitante e indissociável com a promoção do ser humano e com a defesa do meio ambiente. Ao mesmo tempo em que associa teoria e prática nos currículos da graduação e da pós-graduação, o ProAção abre um leque de possibilidades para professores e estudantes se envolverem em ações concretas. Por isso, é território privilegiado para a descoberta, a experimentação e a ação multidisciplinar.
Por seus bons propósitos, há cinco anos, precisamente em 7 de novembro de 2001, o ProAção foi premiado com o Certificado Selo de Empresa Socialmente Responsável, oferecido pelo Conselho de Ação Social Empresarial da Associação Comercial do Paraná. O programa visa, prioritariamente, melhorar a qualidade de vida das comunidades beneficiadas, desenvolvendo ações de acordo com as carências e necessidades locais e regionais. Ora são pessoas assistidas na saúde e educação ou famílias orientadas na área de serviço social, ora é a comunidade envolvida em projetos de preservação ambiental e desenvolvimento sustentável. O foco maior reside sempre na contribuição para o bem-estar integral dessas populações.
Abençoado o país ou a cidade que une gente de grande parte das etnias, culturas e credos. Bendita Curitiba que também acolheu 193 instituições religiosas vindas dos quadrantes da terra, a maioria dedicadas à educação. Curitiba é a metrópole brasileira da diversidade cultural, onde todos convivem pacificamente e vivem o bem-estar físico, social e espiritual. A excelência da educação ministrada nos três níveis é seu alicerce, a qual embasa a evolução regional, o desenvolvimento nacional e a projeção internacional. Daí sua gênese, atualidade, valores e dimensão histórica. Na esfera econômica, as inovações são compatíveis e adequadas às características de sua estrutura produtiva, educacional e configuração sociocultural. Políticas públicas convergentes, planejamento urbano, transporte coletivo, parques ecológicos e complexos industriais modernos a distinguem. Com segurança, é cidade pós-tecnológica. Mais uma vez, a educação deu o tom do progresso, a qual potencializa e ilumina o seu futuro promissor, mantém moderno e empreendedor o cidadão, globaliza manifestações testadas e experimentos inéditos. Sem ostentação, Curitiba transpira eficiência e competência; sem fulgor, inspira paradigmas e qualidades agregadas. Curitiba sempre foi movida por certa euforia, justificada pelo seu patrimônio e imponência cultural, arquitetônica, artística e educacional. Literalmente, é um laboratório de Primeiro Mundo, a melhor definição para esta gente que dialoga em alto nível com o mundo. De forma concreta, a educação cria unidade, consciência e orientação humanística. A intelectualidade sábia constrói obras belas e perenes, traça fundamentos e consolida horizontes planejados estrategicamente. O cunho de seriedade no ensino público e a proficiência dos estabelecimentos educacionais mantidos por congregações religiosas são bases e respostas para muitos fatores da florescente expansão industrial e comercial. O projeto educacional (Projeto Comunitário) implantado pioneiramente no Brasil pela PUCPR, a partir de 2000, por exemplo, tem o condão de formar cidadãos solidários e profissionais tecnicamente capacitados para atuar em qualquer parte do planeta. Desde a sua chegada a Curitiba, em 1925, os irmãos maristas, mantenedores de colégios, PUCPR, conglomerado de meios de comunicação, hospitais e dezenas de obras sociais e assistenciais, adotam processos pedagógicos inovadores e destinam parte de seus recursos e esforços para inserir socialmente multidões de adolescentes e jovens desfavorecidos social e financeiramente. Ao mesmo tempo, como ideal e metodologia para superar essa complexidade, exercitam produtivamente o diálogo entre educação, fé, ciência e caridade. Em vista do futuro, a Curitiba para a qual todas as forças vivas devem empenhar-se daqui para frente, inclusive a Igreja, não é para a Curitiba moderna, pioneira e conquistadora de prestígio internacional. Essas competências e talentos ela já conquistou. Agora, a Curitiba que queremos necessita voltar seu olhar intensamente para contingentes crescentes de pessoas que ainda não são assistidas em seus direitos e nem configuradas em sua dignidade humana. Precisamos assumir a natureza e as limitações dessa gente. No futuro, será esta história de amor e fraternidade que vamos relatar e justificar para as novas gerações. Bendita a cidade que cuida de toda a sua gente, investe na educação, na saúde, nas tradições culturais e religiosas, nos bons costumes e nas comunicações.
A extensão universitária e os projetos de solidariedade da Universidade Católica.
A Pontifícia Universidade Católica do Paraná – PUCPR tem feito grandes esforços para tornar cada vez mais claros os seus princípios educativos. Em 1993, um primeiro trabalho do então Reitor Euro Brandão, intitulado Identidade e Filosofia da Pontifícia Universidade Católica do Paraná, apresentava as principais características da identidade e da missão da PUCPR. Em 1998, a elaboração do Planejamento Estratégico explicitou a missão institucional. Em 2000, a publicação das Diretrizes para o Ensino de Graduação – Projeto Pedagógico veio incrementar o empenho de tornar conhecidos os princípios educativos norteadores da Instituição. Em 2002, foi publicado Um jeito próprio de educar – a formação cristã na PUCPR – reflexões e propostas, documento que apresenta os princípios educativos da PUCPR à luz da mensagem cristã. Além da área de ensino, esta Universidade tem uma presença significativa na área da saúde. Desde sua fundação, alia-se ao ensino a assistência no campo da saúde. Em 1977, a PUCPR adquiriu o Hospital Universitário Cajuru. A partir de 1999, ampliou-se sua atuação mediante a aliança estabelecida com a Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de Curitiba – ISCMC. O crescimento desse novo âmbito de serviço à comunidade torna indispensável a explicitação dos princípios norteadores de nossas práticas. Assim, temos a satisfação de apresentar Um jeito próprio de cuidar – reflexões e propostas para a área da saúde. Trata-se de um estudo sobre a identidade e a missão institucional no âmbito da formação e da assistência em saúde, segundo os princípios do humanismo cristão. Pela expressão “cuidar”, queremos enfatizar a atenção particular dada aos pacientes e a assistência prestada pela instituição na promoção da saúde e da melhoria da qualidade de vida. Cuidar, nesse sentido, nem sempre significa “curar”, pois os desígnios da vida não estão somente em nossas mãos, também pertencem a Deus. O documento pretende oferecer aos estudantes, professores, profissionais da saúde, administradores e mantenedores dos hospitais, das clínicas, dos centros de saúde, vinculados à PUCPR e à Santa Casa, subsídios de reflexão sobre a própria prática profissional. Além disso, é um instrumento para fortalecer a identidade institucional e incentivar a elevação dos padrões de qualidade dos serviços prestados. Em nome da comunidade da Pontifícia Universidade Católica do Paraná e da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de Curitiba, espero que esta publicação contribua para nossa reflexão e para o aperfeiçoamento de nossas práticas, que oriente a direção de nossos passos e que sirva para nos tornar cada vez mais comprometidos com a preservação e restauração da saúde das pessoas, criadas à imagem e semelhança de Deus.
A pesquisa e a pós-graduação na Universidade Católica, segundo as orientações da Palavra de Deus, do ensinamento da Igreja e da espiritualidade marista.
A visão cristã acerca do uso dos meios de comunicação na Igreja e na Universidade Católica. A atuação da PUCPR na área da comunicação social.
O líder que visualiza horizontes coletivos cultiva valores relevantes e capitaliza energias de forma sinergética consegue atrair afetividade e efetividade social.
Não basta ter boas idéias e intenções honestas. É essencial temperar as ações com qualidade e não esmorecer diante da primeira pedra encontrada no caminho. O crescimento pessoal e a segurança profissional dependem fortemente da ousadia, compartilhamento da ciência e da experiência, clareza de objetivos, argumentos e propósitos, abertura para participação e tomada de decisões, relacionamento cortês, mútua confiança entre os pares. Em suma, a boa liderança é uma combinação sinergética de arte, técnica, habilidade, poder de convencimento, capacidade de exercer influência positiva.
Para isso, o líder deve tornar-se um permanente vencedor não de ilusões, mas de esperança. A liderança é geralmente definida como a capacidade de fazer as coisas acontecerem – coisas boas, naturalmente – que, de outra forma, não aconteceriam. O sucesso, nesse campo, é a progressiva realização do sonho bom idealizado. O segredo? Reside na Constancia de propósitos e na mobilização dos colaboradores. O sucesso não aparece por acaso, como se fosse resultado de uma combustão espontânea. Para consegui-lo, o próprio líder precisa jogar-se no fogo, de preferência nele mergulhar de cabeça.
Nas organizações, nas nações e no mundo globalizado, o exercício do poder e da autoridade é sempre mais desafiador e está cada vez mais ligado ao exercício da liderança, criatividade e empreendedorismo. O presidente, o governador, o prefeito, o diretor ou o chefe de unidade não conseguem fazer grande gestão à frente do seu posto ou do seu cargo, se não juntarem, em sua pessoa, também as qualidades de líder isso, simplesmente, porque não são as ordens que funcionam, mas o exemplo do líder, sua capacidade de comunicar a visão, os horizontes, as necessidades, a missão e os desafios das novas conquistas.
A essência da liderança é a habilidade de persuadir, de convencer, de obter a adesão dos outros, de fazê-los trabalhar por algum objetivo comum. Liderança é, então, um processo de persuasão e de exemplo. Para isso, é preciso ter boas idéias e poder de convencimento. O líder tem que ser especialmente criativo e empreendedor. O líder sabe que não é proibido, mas, ao contrário, é altamente recomendado ter iniciativa e criatividade e ser empreendedor.
O político proclama que é preciso dividir para vencer – divide et impera, diziam os romanos. O sábio líder, ao contrário, procura unir as forças, pois está convencido de que o progresso institucional é uma empreitada coletiva. A primeira e grande condição da liderança de sucesso é absoluta identidade com a causa comum, afirma Woodrow Wilson, o bem-sucedido reitor da Universidade de Princeton, antes de tornar-se presidente dos Estados Unidos.
Um líder deve saber que trabalhar em equipe é como reger uma orquestra. Cada um tem um potencial e, juntos, podem exercer as expectativas. Sabe também como é importante acompanhar a equipe, descentralizando as informações e as tarefas. Estimular as ações e iniciativas para que o grupo aprenda a caminhar e pensar em conjunto. Organização e planejamento das tarefas são fatores fundamentais para não perder tempo, recursos e o foco no objetivo. Motivação é algo que vem de dentro e, para que isso aflore, o líder tem que ser transparente, verdadeiro e, principalmente, estar ao lado da equipe nos erros e nos acertos.
Mas o que vem a ser liderança? É a capacidade, inata ou adquirida, que algumas pessoas têm de influenciar as outras, de convencê-las a agir de acordo com as suas idéias, de envolvê-las em seus ideais e de entusiasmá-las por seus projetos. Peter Senge enfatiza o aspecto coletivo, ao definir liderança como a “capacidade de uma comunidade humana – pessoas vivendo e trabalhando juntas – para criar novas realidades”. E acrescenta: “Líderes conduzem mudanças. Isso é o que se espera dos verdadeiros líderes”. Peter Drucker vai ao essencial: “Liderança é visão. Não há nada mais a dizer”.
Lançado dia 12 de dezembro, no livro O Império das Casas Abandonadas: crianças e adolescentes “de rua” e a polícia, de começo a fim, podem-se perceber as preocupações do autor, tenente-coronel Roberson Luiz Bondaruk, ao escolher um tema da maior gravidade para ser objeto de reflexão também na área jurídica do ensino universitário. De fato, a obra retrata a situação em que vive parte da nossa gente brasileira. Com maior acerto, é um trabalho de grande admiração e valoração, muito mais do que uma monografia apresentada como requisito para conclusão do curso de graduação em Direito da PUCPR.
É um trabalho de valor que interessa a todos os segmentos da sociedade. No primeiro capítulo, o autor analisa a conjuntura atual e apresenta a realidade vivenciada por crianças e adolescentes em situação de risco. No capítulo seguinte, faz um estudo da polícia, desde a sua formação histórica até o presente momento. No terceiro capítulo, perscruta a estrutura de proteção dos direitos da criança e do adolescente e dos órgãos públicos. Por último, relaciona elenco de propostas para a resolução de problemas levantados. Como conclusão, o escritor faz um alerta: “Se a sociedade não der a devida atenção àqueles que são meninos de rua hoje, num futuro não muito distante pagará um preço muito alto por essa omissão”.
Roberson Bondaruk mostra com precisão um lado da face do sofrimento social, em que a dor da violência, a desestruturação da família e a falta de amor ao próximo transparecem em cada criança e adolescente abordados. Ninguém pode se acomodar ou se conformar frente a situações tão graves. As responsabilidades são afetas a todos, mas principalmente aos pais, educadores, instituições educacionais, igreja, autoridades, lideranças e meios de comunicação.
Esse livro não se encerra nos conteúdos, ensinamentos, revelações e advertências que traz à luz. É subsídio da maior riqueza para pessoas, autoridades e organizações que querem ver, reconhecer, dimensionar e promover a recuperação de tecidos da humanidade sofredora e da sociedade contemporânea enferma.
Como educador, entendo que o processo de construção da personalidade e da espiritualidade das crianças, adolescentes e cidadãos responsáveis começa com o afeto e o amor dos pais, alicerçado, na etapa seguinte, por uma educação integral e sólida, embasada em princípios morais, éticos e religiosos. A família bem constituída é célula do bem; a família mal-estruturada pode ser indício e projeção de misérias. Por isso, família, educação, religião e amor são primas-irmãs da liberdade, da justiça, da integridade e da paz social.
Historicamente, a família e o amor a Deus e o amor ao próximo sempre foram dimensões sólidas da vida, da segurança pública e do bem comunitário. O amor não é sofisma moral; é, isso sim, o comandante supremo, a gênese, a fecundidade, o princípio e o fim da dignidade. Com absoluta segurança, a família bem constituída e bem orientada desconhece muitos desencantos da sociedade retratada nessa obra, conseqüência das deformidades, dilacerações do amor, inferioridade, indiferenças, competições egoístas, desunião, drogas, prostituição e sexo como objeto de prazer.
O compromisso da Editora Champagnat da PUCPR e das entidades que colaboraram na publicação dessa obra tem como alicerce o senso da responsabilidade participativa. O grande sonho da universidade e do autor dessa publicação é que o mundo se transforme numa família, na qual haja verdadeiramente perdão e comunhão, aceitação das diferenças e fraternidade. Neste Natal, o sonho do Menino Jesus é que se inicie um mundo sem fronteiras, no qual todos sejamos de fato irmãos na fé, na união familiar e no respeito social.
Cada pessoa dispõe de potencialidade para cooperar na construção de um mundo melhor; promover a arte, a ciência, a filosofia e a fraternidade; cultivar valores morais e intelectuais. Vale a pena oferecer o melhor dos esforços, dons e talentos para causas nobres, justamente pela sua transcendência. É normal que nos ocupemos do futuro, pois é no futuro que iremos passar o resto das nossas vidas. O ser humano é um eterno aprendiz, um aprendiz também de imortalidade. Quanto mais avança em anos, sente que mais tem a dizer e de menos tempo dispõe para dizê-lo.
Quando nos encontrarmos do outro lado da margem da vida, continuaremos existindo. Ficaremos, também, perpetuados nas realizações e nas marcas que tivermos deixado na margem de cá. No caso de um escritor, serão os seus escritos. No caso de um educador e comunicador, serão as suas lições. No caso de um filósofo, serão os seus pensamentos. No caso de qualquer outra pessoa, serão as ações que tiver realizado em benefício da humanidade.
A brevidade da vida conflita com o anseio de infinito que acalentamos no coração. De igual forma, as limitações e as circunstâncias não permitem a plena realização, recriação e consolidação de muitas expectativas. O breve tempo que vivemos tem, mesmo, um sabor de introdução, um gosto de aperitivo, a exigir o curso ou o prato principal. Tolstói sustentou ser a fé a força da vida. O pensamento da imortalidade dá sentido à vida, esse presente maravilhoso que todos recebemos, generosamente, de Deus.
Ser humilde, modesto e simples é justamente respeitar a dignidade humana, promover a paz e viver as lições contidas no Evangelho. Pitágoras fez da Amizade o alicerce do Templo das Musas, o elo de ouro da sua doutrina: “Meu amigo é o outro eu mesmo”. Os bens materiais, a riqueza, o poder, a arte, “a ciência e a tecnologia, se desprovidos de aspectos éticos, podem levar a numerificação e desvalorização da personalidade. A produtividade e a economicidade, erguidas como fins primordiais da vida, têm deformado a própria razão de existir, subtraindo do homem o que ele tem de mais precioso: a sua dignidade”. (Euro Brandão.)
A modernidade está embasada em valores do humanismo, da solidariedade e da cidadania. O trabalho é de equipe que soma competências humanas e experiências gerenciais. A essência da administração não é conseguir realizar só o que é oportuno e necessário, mas implantar, desbravar e alcançar o que se pretende. Portanto, voltar-se para a vida é não parar no tempo. O mundo evolui a passos largos, a cada instante. A única coisa de que temos certeza é que precisamos estar preparados para o vir-a-ser. Não podemos engessar o amanhã, temos que dar paz ao futuro. “Feliz o homem que encontrou a sabedoria e alcançou o entendimento.” (Pr, 3,13.)
Vida e sabedoria constituem a principal riqueza do ser humano. Sabedoria não é, certamente, idêntica ao conhecimento. Enquanto este pode ser facilmente encontrado nos livros ou por meio de outros recursos, aquela só se encontra escrita nas páginas da vida daqueles que pacientemente a souberam procurar e cultivar. Nesse sentido, pode-se dizer que um inculto pode ser sábio. É também possível que alguém que domine uma grande cultura não seja guardião de sabedoria alguma.
A sabedoria não se confunde, por certo, com a arrogância e a soberba intelectuais, que são fruto mais da prisão a alguma verdade pré-fabricada. Da mesma maneira, é fundamental colocar-se sempre na condição de aprendiz. Guimarães Rosa conseguiu sintetizar em uma bela máxima: “Professor é aquele que, de repente, aprende”.
É infinito o alcance dos meios de comunicação social. Eles abrem acessos à humanidade para atividades culturais e, ao mesmo tempo, apontam caminhos para abolir ou diminuir desigualdades econômicas, culturais, educacionais e sociais. São instrumentos que alavancam e proporcionam entretenimento e lazer, difundem valores, propagam a identidade cultural e as tradições, melhoram o aproveitamento e a utilização do tempo.
Inversamente, também podem oportunizar desperdício de tempo, gerar superficialidades, deformar a mente da criança e do jovem. Tudo depende do uso correto dos programas.
Considero importante que os pais, professores, acadêmicos, lideranças religiosas, gestores públicos dêem exemplo às crianças e aos jovens e ensinem que a leitura de jornais, revistas, livros e outras boas obras são o alimento do espírito. Ela é para a mente o que o exercício físico é para o corpo. Francis Bacon, conhecedor perspicaz da natureza humana, afirmava que a pessoa é o que sabe. No fundo, então, é, também, o que lê.
Indistintamente, todas as pessoas têm direito à cultura e à informação de qualidade. A leitura faz um ser humano completo, a discussão lhe dá agilidade mental e a escrita faz dele uma pessoa exata. Podemos acrescentar que somos também o que escrevemos, lemos e assistimos. É imprescindível, pois, se expor e escrever, se possível, diariamente.
Quem não gosta de ler iguala-se a quem não sabe ler. Pois quem sabe ler e não o faz não tem qualquer vantagem sobre um analfabeto. De fato, quem lê pouco, aprende pouco, sabe pouco. O imortal Cervantes observa que quem lê muito e anda muito vê muito e sabe muito. O aluno de um só livro é um aprendiz vagaroso e, se for um mestre ou um gestor, ainda pior, é professor ou administrador mal equipado.
São incalculáveis os benefícios que os meios de comunicação impressos e eletrônicos podem oferecer à sociedade, contribuindo, inclusive, para dar uma visão coerente e conciliadora entre os princípios da fé e os fundamentos e novas descobertas da ciência. De alguma forma, todo cidadão sofre influência ou é beneficiário da comunicação social. O uso adequado dos meios de comunicação pode contribuir para a elevação do padrão de vida dos povos, trazer benefícios à coletividade, influir e ampliar os horizontes da cultura e proporcionar divertimento sadio.
A Universidade tem sido definida como “uma comunidade de mestres e discípulos irmanados na busca da verdade”. Esta definição da academia, no meu entender, a mais bela já escrita, remonta aos da idade média. Ela porem, continua atualíssima. Nela, cada palavra tem sentido e está muito bem posta. Ela não fala de prédios e laboratórios, de orçamentos e currículos, e de avaliações, por certo estes e outros – ingredientes imprescindíveis no composto acadêmico. Vai ao essencial, ou seja, o relacionamento fraternal em busca do tesouro do conhecimento e da sabedoria.
É preciso ter bem presente que o administrador acadêmico é o coordenador dos esforços coletivos dos membros da comunidade universitária. Que a universidade de qualidade é aquela que consegue executar bem a sua missão e cumprir o que promete. E que o administrador bem sucedido é aquele que, por seu esforço e competência, consegue agregar mais qualidade à sua instituição e ao setor que comanda.
As melhores práticas da administração acadêmica assentam, preferencialmente, sobre uma visão positiva da universidade e da atuação dos gestores. É sempre preferível focalizar a premissa da saúde da instituição ao invés da sua doença. Com freqüência, a adoção de uma visão patológica dos eventos do campus leva a uma abordagem irrealista e inapropriada de como a instituição opera. Isso não significa que o administrador não deva estar atento e alerta para não permitir a contaminação do ar que se respira no campus dos límpidos mananciais da academia. Conservar a pureza e a limpidez doa ar e das fontes é condição essencial para garantir a credibilidade social da universidade e a segurança de um produtivo trabalho acadêmico.
Aliás, a universidade é uma instituição social bastante vulnerável, por ser muito suscetível às influências externas, sobretudo as de natureza ideológicas e política e, por vezes, até partidária. Isso acontece porque ela lida com dois elementos sempre muito efervescentes: idéias e jovens. Em muitos assuntos, ela torna-se uma caixa de ressonância da sociedade mais ampla. Os administradores, entre outras responsabilidades, também são os guardiões da saúde e da credibilidade e da instituição. São também os seus defensores contra a manipulação política e ideológica.
Como instituição empenhada na busca da verdade e como um espaço concentrador de inteligência, é preciso que a universidade saiba separar o joio do trigo, que abrace o que tem valor e que descarte o ilusório. O administrador responsável, por acreditar na nobreza e dignidade da sua instituição e no seu alto potencial de contribuição social, sabe que a sua função não é a de policiar as pessoas, mas de resolver problemas, de oferecer condições e, sobretudo, a de elevar os padrões de excelência da sua escola. Por isso, adota uma abordagem de preferência propositiva e proativa. Joga menos na retranca e mais no ataque. Pois é só fazendo gol que se ganha o jogo.
Tem consciência, entretanto, de que é preciso sempre jogar limpo. Não é o caso, portanto, de cultivar preconceitos, preferidos, heróis ou vilões. O bom gestor não escolhe o caminho da confrontação, pois sabe que ela não leva a lugar algum. Está convencido de que a melhor via é da cooperação e do entendimento. Sabe que o melhor cimento para integrar e unir a comunidade é a confiança recíproca. Com ela presente, quase tudo funciona. Sem ela, nada funciona. Está disposto a ajudar a todos ao longo do caminho e a fazê-lo com desinteresse e transparência. Donald E. Walker, um experiente dirigente acadêmico americano , nos aconselha: “O trabalho do administrador e promove o talento – ajudar as pessoas trabalhar de modo efetivo e construtivo. Saúde e vitalidade vêm de baixo para cima e a gente deve tomar cuidados para não abafar as fontes de criatividade”.
A nossa universidade é uma instituição confessional e comunitária, com um compromisso social próprio, que adota valores definidos e uma filosofia educacional especifica. Tais características devem ser mantidas para que ela possa continuar a prestar um serviço diferenciado à sociedade.
Administrador competente se considera “primus inter pares” (o primeiro entre os iguais). Por isso adota atitude de serviço. Assume para servir e não para ser servido. Administra mais serviço do que comandando. Na sua visão, a comunidade é considerada como um grupo de constituintes legítimos, com interesses diferentes. Na academia, considera os estudantes como interessados em aprender e, por isso, procura motivar os professores a tornar o ensino mais atraente. Não receia os professores e os estudantes e não se afasta deles. Tem certeza de que todos são merecedores do seu respeito. Está convicto de que no meio dos alunos encontram-se futuros profissionais brilhantes, que poderão tornar-se o orgulho da sua escola e dos seus mestres.
O gestor competente é aquele que reconhece que o seu cargo também inclui atribuições burocráticas. Qualquer organização sofre quando a burocracia não é executada pelo setor adequado e no devido tempo. Dar vazão à burocracia significa não deixar acumular papéis sem despacho, enviar informações e relatórios nos prazos previstos, não deixar telefonemas sem resposta e nem e-mails sem retorno e outras tarefas da rotina diária.
Por sua vez, o administrador menos competente possui, em geral, visão estereotipada dos membros da comunidade. Os professores são, por ele, vistos como acomodados e sem iniciativa, pessoas sem idealismo que esperam apenas o salário no fim do mês e que lutam apenas por seus interesses. Os funcionários são pessoas dependentes, na maioria das vezes, desqualificados, incapazes de fazer uma tarefa completa e bem feita, que não chegam atrasados e não saem antes da hora só porque têm de bater cartão. Os alunos são jovens ingênuos, irresponsáveis, que fazem o escrito necessário, quando não baderneiros e criadores de caso. Diante de um quadro tão pouco animador, sobra para ele, o administrador, correr atrás do lucro e carregar a instituição nas costas. Sente, então, a compulsória obrigação de se opor às tendências prevalentes da inércia, da falta de compromisso e do desinteresse generalizado. O seu papel, como administrador, seria o de mover a instituição para longe da indolência, de impor moral e de restaura a dignidade do ambiente. O administrador menos competente tende a se preocupar mais com a autoridade do seu cargo e a considerar mais o status de sua posição e os privilégios dela advindos. Imagina que o prestigio do seu posto seja o elemento central da saúde da instituição. Por isso está preocupado em defender a qualquer custo a aura de santidade do seu cargo. Já administradores mais competentes aceitam os privilégios e o status dos seus postos, mas os “vestem” de forma light. Assumem, sim,as honras da posição e as suas obrigações cerimoniais, sem permitir que seus egos sejam contaminados. As dificuldades e resistências provenientes dos subordinados não são interpretadas como ataques pessoais ou como “ameaças à coroa”. Mesmo quando se sentem aborrecidos com alguma atitude deselegante dos colegas ou dos estudantes, temperam esse sentimento com uma dose de afeição. O administrador mais competente é compreensivo, procura aparar as diferenças entre as pessoas e construir a unidade, mesmo com a diversidade de pensamento. Enfrenta opositores com naturalidade e até aceita as excentricidades com certo bom humor.
Os administradores menos competentes têm medo das pessoas, sobretudo daquelas que pensam me maneira diferente. Apresentam baixa tolerância à diversidade de idéias, de opiniões e de propostas. Adotam um estilo de gestão despótica, operam como tanques e gostam de administrar ao som dos canhões. Preferem cortar a cabeça dos que têm a ousadia de a eles se opor e não hesitam em restaurar uso da guilhotina. Adotam a política da terra arrasada porque acreditam que o mundo seria bem melhor se fosse reconstruído à base dos seus critérios. Enquanto isso, o administrador incompetente não se apressa em encontrar as soluções para os problemas que surgem no seu setor. Preocupa-se ainda menos em preveni-los. Para se ver livre deles, não hesita em encaminha-los, naturalmente mais crescidos, à instância superior. É adepto do estilo de administração “ao-ao”, pelo qual o diretor de curso remete a decisão do problema ao decano do centro, este transfere ao pró-reitor responsável pelo assunto, o qual, fiel à tendência das bases, finalmente, ao reitor ou a seu vice. O reitor, não tendo mais para quem mandar, tem de resolver o problema, que por não ser de sua esfera, deveria ter sido resolvido na base. Esse modelo é muito difundido na Academia, ao menos, quando se trata das decisões desagradáveis. Para as poucas decisões agradáveis, o modelo é totalmente dispensável.
O administrador incompetente nunca muda de idéia e, quando toma uma decisão, nunca revê sua posição. Acredita que voltar atrás desprestigia o seu cargo. Não concordo muito com essa posição. Quando o gestor erra, a melhor coisa a fazer é admitir o seu erro. Ao final, todos ficarão sabendo do ocorrido, de um jeito ou de outro. Mudar de idéia não significa ser fraco, significa ser razoável. Ninguém de nós tem compromisso com o erro. Temos, sim, todos, compromisso com o acerto, que se não vier num primeiro momento que, ao menos, venha num segundo.
A educação constitui fator principal para formar pessoas esclarecidas e prepará-las à vida produtiva. Sem ela, não existe inclusão social, nem exercício possível da cidadania. Ela é também a primeira responsável pelo desenvolvimento. O conhecimento sempre foi a base da evolução humana, o desenvolvimento social e o progresso econômico. Penso que, para as pessoas, para o Paraná e para o Brasil, a única coisa melhor do que a educação é mais educação. O nosso país ainda tem muito a avançar nessa direção.
Há mais de 2000 anos, Cícero, o grande político e pensador, perguntou aos colegas do senado romano. “Que presente maior e melhor podemos oferecer à República do que ensinar e instruir a juventude?” John Kennedy, outro político notável, afirmou: “Nosso progresso, como nação, acontecerá mais rápido do que nosso progresso em educação. A mente humana é o nosso recurso fundamental” “Por constituir a última etapa da escola, a universidade deve ser, por excelência”. O lugar onde a sociedade e o estado permitem florescimento da consciência mais lúcida da sua época.” ( Karl Jaspers).
Por isso, no último dia 14 de março, date em que a Pontifícia Universidade Católica do Paraná comemorou o seu 44o. aniversário, foi lançada a pedra fundamental do campus Londrina, localizado nas antigas instalações do Jóquei Clube, avenida Tiradentes s/n., em terreno de 202.952,49 m2, doado pela Prefeitura Municipal de Londrina, com aprovação da Câmara de Vereadores, o primeiro bloco terá área de construção de 13.838,90 m2. os cinco pavimentos do bloco comportarão 48 salas de aula, 3 auditórios, biblioteca, área administrativa, cantina e outras repartições. A previsão para a conclusão do primeiro prédio é para janeiro de 2004. Desde o ano passado, quando foi inaugurado o campus, os universitários utilizam, provisoriamente, as dependências do Colégio Marista de Londrina.
O governo da cidade de Londrina assimilou muito bem a lição de Cícero e Kennedy e de tantos outros governantes esclarecidos. Entendeu que o investimento em educação é imprescindível para o desenvolvimento social e econômico dos seus habitantes. Por isso, quisemos gravar para a posteridade, de modo indelével, no bronze da placa de lançamento da pedra fundamental, a frase do sábio Aristóteles: “Todos os que meditaram a arte de governar os homens se convenceram de que o destino de um país depende da educação dos jovens”.
É propósito da entidade mantenedora, a Sociedade Paranaense de Cultura, dos Irmãos Maristas, transformar a PUC-PR em uma Universidade que seja o orgulho do estado do Paraná e do Brasil, com atuação na região metropolitana de Curitiba, Londrina (2002) e Toledo e Maringá (2003). A administração superior trabalha para tornar a PUC um lugar onde não se busque somente o conhecimento, mas também se almeje alcançar a sabedoria; num espaço de liberdade para a pesquisa cientifica, colocada em beneficio de todos; num jardim de cultivo de talentos, de virtudes humanas e cristãs nos jovens, por meio do Programa Comunitário e do Programa de Ação Comunitária e Ambiental; numa comunidade de mestres e discípulos irmanados na busca da verdade.
A PUC-PR é resultado de um sonho fascinante e grandioso do fundador, dom Manuel da Silveira D’Elboux; do grão-chanceler, dom Pedro Fedalto; dos pioneiros, dirigentes, professores e colaboradores. Queremos ser os dignos continuadores de iniciativa tão benemérita. A PUC-PR está em Curitiba, São José dos Pinhais, Londrina, Toledo, Maringá para casar com estas regiões e o estado do Paraná. A implantação de um campus pressupõe caminhada longa, vontade política, determinação e perseverança.
Guimarães Rosa nos ensina: “Mestre não é aquele que sempre ensina, mas aquele que de repente aprende”. Quanto mais sabemos, mais temos consciência do quanto ainda temos a aprender. Essa é a essência da mecânica humana do conhecimento. A atitude mais freqüente que veio na Academia Paranaense de Letras, na Pontifícia Universidade Católica do Paraná, nos 17 Colégios de ensino fundamental e médio da Província Marista do Brasil Centro-Sul, nos cinco hospitais da Aliança Saúde PUC – Santa Casa e por onde passo é a disposição dos jovens, e dos menos jovens também, em aprender sempre mais. Essa postura de “modéstia intelectual”, na expressão de Karl Popper, jamais deve ser superada.
Como bons mestres das ciências, das letras, da política, das comunicações, da administração, da cultura da disciplina, mas, principalmente, como mestres da vida, considero que os gestores, intelectuais, comunicadores, religiosos, lideranças públicas também são educadores. Enquanto os conhecimentos e o domínio das tecnologias nos facultam a ganhar a vida, a sabedoria nos ensina a viver e a ensinar a viver bem. Por excelência, somos educadores quando preparamos o cidadão, visualizamos os segredos da vida, lapidamos as inteligências, sensibilizamos o coração, imprimimos na alma valores éticos e testemunhos de afetividade, solidariedade e amor.
É notória a preocupação crescente com as mudanças que estão ocorrendo, em alta velocidade, no ambiente profissional, social e familiar. Os fantásticos recursos da tecnologia e da era digital, as multimídias, as redes, a internet, o acesso à informação em domicilio, as novas máquinas e inteligências artificiais, os livros paradidáticos descartáveis, tudo isso inovou e energizou as pessoas e os cenários internos e externos das organizações, no país e no exterior. Trabalhar com esses horizontes tornou-se sério desafio para quem ocupa posição de liderança. O futuro desejado para o Brasil aponta para objetivos audaciosos nas áreas da educação, da pesquisa especializada, da preservação ambiental e desenvolvimento sustentável, do terceiro setor e da assistência social e comunitária.
Sem sombra de dúvida; é sobre nós e a quem tem o legítimo poder de tomar decisões que recai a maior carga da responsabilidade. Em função da natureza das atividades que exercemos, temos a missão de educar, de influir na formação da cidadania, de encontrar alternativas para melhorar a sociedade e apontar o caminho do bem, da felicidade e da compreensão solidária. Dentro desse novo contexto e intelectualidade, o que faz crescer a humanidade são a justiça, a ética, a honestidade, o caráter, o respeito e o diálogo.
A educação é um vigoroso ato de fé e de amor. Atualmente, há dois tipos de educação universitária: um ensina como ganhar a vida, e o outro, como viver a vida. Toda universidade falha gravemente se se preocupa unicamente com a primeira parte. O fundamental é tanto entender a vida , quanto e, sobretudo, aprender a vivê-la.
Quando ensina, o mestre sabe que está alcançando e antecipando um futuro melhor para o educando. Esta é a razão por que consideramos a vida, a fé, a educação, a ciência associada à ética as mais expressivas manifestações de Deus. A cultura a fé e a vida constituem trinômio inseparável. Para o mestre e educador John Dewey,da Universidade de Columbia, Estados Unidos, educação não é nem mesmo preparação para a vida; ela já é a própria vida.
A ciência e a literatura armazenadas na cabeça têm que passar na medida do possível, para a prática. O conhecimento descoberto e assimilado intelectualmente que transita livre e espontaneamente pelo coração é sabedoria extremamente fértil e produtiva que vai transformando a sociedade e melhorando a vida das pessoas. Todo trabalho educacional permanece inacabado e se torna mesmo um desperdício de esforço se essa etapa termina. O melhor saber é aquele que busca a iluminação para agir. Encanta-me a figura proposta pelo educador inglês Whitehead, que descreve o processo educacional como uma corrida de revezamento, onde o facho iluminador do saber é passado de mestre para discípulo, para o contínuo aperfeiçoamento e progresso da humanidade.
Considero, com apreço, o que já dizia Galileu: “Você não pode ensinar nada a ninguém: você pode ajudar alguém a encontrar o que procura por si mesmo.” Levo em consideração também a recomendação do educador Whitehead: “o mais importante é que o estudante experimente a alegria da descoberta.” Lembro-me, ainda, da expressão de Einstein: “A suprema arte do professor é despertar alegria na expressão criativa e no conhecimento.” Por conseguinte, mais do que o produto, educação é um processo. Se o estudante falha no aprender, é porque o mestre e a universidade, de alguma forma, também falham no ensinar.
“Ensinar é um exercício de imortalidade. De alguma forma, continuamos a viver naqueles cujos olhos aprenderam a ver o mundo pela magia da nossa palavra. O professor não morrerá jamais.” (Rubem Alves)
Há diferença entre professor e educador? Com certeza. Ser professor é exercer uma função técnica; ser educador vai além. A base do compromisso educacional é o fim e não o meio. Os tempos atuais exigem bem mais que o saber, exigem que levemos o aluno a pensar, a analisar, a comparar, a contextualizar, a superar preconceitos, a buscar soluções para os problemas que afetam a sociedade. Enfim ser educador é condição para podermos formar bons cidadãos. Para tornar isto possível, é necessário transformar os professores da Instituição em educadores. O professor/educador precisa, além de ser democrático e cooperativo na sua relação com os alunos, que sua práxis seja vivida a partir de uma congruência entre o que pensa com o que diz e faz. Assim, a condição de professor–educador também se aprende e se constrói.
E o que é ensinar? Não pode e nem deve ser somente prover os alunos de conhecimentos de modo mais ou menos adequado e interessante. Ensinar é sobretudo, educar para a realização pessoal e profissional do aluno, integrado em uma sociedade que clama por cidadãos justos, tolerantes, generosos e solidários. Para o professor/educador é um constante desafio o educar para a cidadania. Hoje, mais do que nunca, dada a conjuntura da sociedade atual e a crise de valores em que vivemos, cumpre-nos proclamar bem alto que não é suficiente apenas repassar fatos e números, e nem habilitar os alunos para o uso de novas tecnologias. O educador tem de ser o elemento que ajuda a abrir perspectivas, que desperta o potencial, que possibilita a concretização dos sonhos, e que não esquece de imprimir indelevelmente nos corações a mensagem dos valores que constituem o fundamento da sociedade. Este é o educador necessário para hoje.
O educador constrói, habita um mundo em que a interioridade faz diferença, em que as pessoas se definem por suas visões e utopias, amor e esperanças. Ser educador é muito mais do que ser professor. Na PUC/PR, somos educadores com um perfil específico: educadores, católicos e maristas. Esta tríplice dimensão ilumina a caminhada. Se a função do professor é orientar o aluno na aprendizagem , a melhor das aulas nada vale se o aluno não aprende. Falo do professor como estimulador da construção do conhecimento. Conhecimento não apenas como sinônimo de garantia de conduta ética, de cidadania. Pois não é suficiente trabalhar apenas o conhecimento. Precisamos de professores educadores que ajudem o aluno a desenvolver e a assimilar a sabedoria; que estejam convencidos de que mais importante do que encher cabeças é importante formar cabeças. E sabedoria não é uma cabeça cheia, mas uma cabeça bem formada, que sabe discernir e aprecia o bem, o belo, a verdade, a justiça e a solidariedade. O conhecimento atinge o intelecto e a sabedoria, o coração.
Estou eu a falar de educação, convencido de que, numa escola, todos são e devem ser educadores, desde o professor e o diretor, até o laboratorista e a zeladora. Todos, sem exceção, contribuem para a formação das novas gerações por suas palavras, atitudes e exemplos de vida. Aliás, São Francisco Gárate, grande educador em Bilbao, Espanha, foi porteiro da Universidade de Deusto durante 40 anos – um exemplo admirável para todos nós. Só quem realmente ama o que faz consegue fazê-lo bem feito. Gratidão a todos os professores e funcionários que, por 1,10,20,30,35 ou mais anos, têm construído sobre rocha, sobre valores sólidos e contribuído, efetivamente, para o cumprimento da missão de educar. Assim, o educador não morrerá jamais!
Há mais de 2000 anos, Cícero, o grande político e pensador, perguntou aos colegas do senado romano: ´´Que presente maior e melhor podemos oferecer à República do que ensinar e instruir a juventude?´´ John Kennedy, outro político notável, afirmou: ´´Nosso progresso, como nação, não acontecerá mais rápido do que nosso progresso em educação. A mente humana é o nosso recurso fundamental.´´ Penso que, para as pessoas e para a nação, a única coisa melhor do que educação é mais educação. O nosso país ainda tem muito a avançar nessa direção.
Por isso, no último dia 14 de março, data em que a Pontifícia Universidade Católica do Paraná comemorou o seu 44º aniversário, foi lançada a pedra fundamental do campus Londrina em terreno de 197.852,93m2. O primeiro bloco com 14.571,48 m2 terá cinco pavimentos e comportará 48 salas de aula, 3 auditórios, biblioteca, área administrativa, cantina e outras repartições. A previsão para a conclusão do primeiro prédio é janeiro de 2004. Desde o ano passado, quando foi inaugurado o campus, os universitários utilizam, provisoriamente, as dependências do Colégio Marista de Londrina.
A PUC/PR lançou a pedra fundamental em terreno doado pela Prefeitura Municipal de Londrina, com aprovação da Câmara de Vereadores. O governo desta cidade assimilou muito bem a lição de Cícero, de Kennedy e de tantos outros governantes esclarecidos. Entendeu que o investimento em educação é imprescindível para o desenvolvimento social e econômico dos seus habitantes.
Por isso, quisemos gravar para a posteridade, de modo indelével, no bronze da placa de lançamento da pedra fundamental, a frase do sábio Aristóteles: ´´Todos os que meditaram a arte de governar os homens se convenceram de que o destino de um país depende da educação dos jovens.´´ É propósito da entidade mantenedora, a Sociedade Paranaense de Cultura, dos Irmãos Maristas, transformar a PUC/PR numa Universidade que seja o orgulho do estado do Paraná e do Brasil, com atuação na Região Metropolitana de Curitiba, Londrina (2002) e Toledo e Maringá (2003).
A administração superior trabalha para tornar a PUC um lugar onde não se busque somente o conhecimento, mas também se almeje alcançar a sabedoria; num espaço de liberdade para a pesquisa científica, colocada em benefício de todos; num jardim de cultivo de talentos, de virtudes humanas e cristãs nos jovens, por meio do Programa Comunitário e do Programa de Ação Comunitária e Ambiental; numa comunidade de mestres e discípulos irmanados na busca da verdade.
A PUC é resultado de um sonho fascinante e grandioso do fundador, dom Manuel da Silveira D´Elboux; do grão-chanceler, dom Pedro Fedalto, dos pioneiros, dirigentes, professores e colaboradores. Queremos ser os dignos continuadores de iniciativa tão benemérita, em Londrina e em todo o Paraná.
Vivemos num tempo em que os detentores do poder são, muitas vezes, considerados suspeitos e que as ações que emanam da autoridade são questionadas. É bem verdade que a única autoridade que merece respeito e acatamento é aquela que é atribuída ao líder pelos liderados, como resposta e na proporção da atitude de servidor adotado pelo chefe. Essa constatação nos ensina que a liderança serviçal é a única que convém e a única que realmente funciona na organização e fora dela também.
Também é verdade que uma universidade pode ser parcialmente explicada, por uma visão pluralista e democrática. Até organizacionalmente, ela possui estruturas policêntricas de autoridade. A perspectiva pluralista exige, então, administração participativa, transparência, comportamento ético de todos os membros da comunidade, a começar pelos dirigentes.
Henry Rosovsky, além de ter sido por longos anos um respeitado provost (pró-reitor acadêmico) na Universidade Harvard, onde implantou uma conhecida e bem-sucedida reforma acadêmica, escreveu um livro sobre a academia, intitulado: A Universidade: Um Manual do Dono. Num dos capítulos mais interessantes, o autor aborda os princípios que asseguram uma performance confiável dos gestores. Aos mais afoitos e devotos de uma visão eminentemente democrática da universidade, ele alerta que a realidade não é bem essa. Ele define a universidade não como uma democracia baseada no voto, mas como, uma hierarquia baseada no mérito.
Com clareza, Rosovsky afirma que nem tudo na universidade pode ser melhorado se for tornado mais democrático. Para o autor, as relações entre os segmentos ou grupos constituintes da comunidade (professores, estudantes, funcionários e mantenedores) são hierárquicas; as relações dentro dos segmentos tendem a ser mais democráticas. No seu entender, excessiva democracia, ou seja, paridade e linhas de autoridade mal definidas e não respeitadas, são causas de paralisia administrativa. Ele defende que existem diferenças básicas entre os direitos de um cidadão dentro de uma nação e os direitos de uma pessoa dentro de uma organização social de participação voluntária.
Existem organizações que, por natureza, não são democráticas, mas hierárquicas, como: a família, o exército, a Igreja, a escola e outras mais. Parece claro e justo que os direitos e as responsabilidades numa universidade devem também refletir a duração do compromisso da pessoa com a instituição. Henry Rosovsky costumava repetir: “lembrem-se, estudantes: vocês estão aqui por quatro, cinco ou seis anos, os professores estão aqui por toda a vida (profissional), e a instituição está aqui para sempre”. O autor prossegue dizendo que numa universidade, aqueles que possuem mais conhecimento, devem ter mais voz. Também observa que, na universidade, a qualidade das decisões é melhorada, quando se previne o conflito de interesses. Enfatiza que as vantagens privadas não podem prevalecer sobre as obrigações públicas. É uma outra forma de dizer que os interesses pessoais não podem prevalecer sobre os institucionais.
O autor, finalmente, recomenda que, para funcionar bem, um sistema hierárquico de governo não pode dispensar mecanismo de consulta e de assumida responsabilização pelas decisões tomadas. Esta é um conselho fundamental a ser levado em consideração, por que a qualidade e a sinceridade da consulta e a responsabilidade com que é assumida determinam a qualidade da própria decisão e das suas conseqüências na gestão institucional.
Lembro-me bem do meu predecessor, professor Osvaldo Arns, homem de rara cultura e ilhada integridade, que conduziu os destinos desta Universidade por doze anos, de 1974 a 1985, com quem tive a oportunidade de trabalhar muito próximo e de quem muito aprendi. No momento em que entregava o cargo de Reitor da PUC-PR, em janeiro de 1986, proferiu estas palavras que me emocionaram. “Eu sempre procurei ser fiel à instituição”. E eu sei que eram palavras verdadeiras. É um exemplo a ser imitado pelos seus sucessores e por todos os administradores desta casa.
As organizações humanas, sejam comerciais, produtivas, educacionais, culturais, políticas, recreativas, de saúde, de comunicação e, até, religiosas foram criadas para satisfazer alguma necessidade do cidadão, de algum grupo social e da sociedade como um todo. No momento em que esta necessidade desaparece ou que é melhor satisfeita por outro tipo de instituição, desaparece, em conseqüência, por inutilidade ou incompetência, a instituição que presta o serviço correspondente.
A academia não é exceção à regra. A universidade, como escola de nível superior ou centro de intelectualidade, surgiu na necessidade sentida, já na Idade Média, de fazer avançar o conhecimento humano e de formar profissionais qualificados para o serviço à sociedade. No passado, no entanto, tal serviço era dirigido a formar uns poucos profissionais na área de cultura clássica, oriundos de segmentos aristocráticos da sociedade. Gradualmente, porém, esse serviço foi-se expandindo e a universidade tornou-se um centro de formação de líderes para quase todos os segmentos da sociedade moderna. Com isso, ela foi se tornando o próprio coração da sociedade, como afirma Grayson Kirk.
A universidade tem, pois, na sua origem, a vocação inata para o serviço. Fundamentalmente, ela é servidora da sociedade. Tal fato parece óbvio, mas, na prática, nem sempre tem sido levado em consideração. Algumas instituições universitárias que desapareceram ao longo do tempo ou entraram em decadência são evidencias de que essa obviedade é apenas aparente. Nunca é demais enfatizar este principio básico da relação de serviço da universidade para com a sociedade.
Como Universidade Católica, Pontifícia e Marista, a PUC-PR segue as orientações da Igreja e da Congregação dos Irmãos Maristas como parâmetros para a sua missão e para a sua pedagogia. É de sua vocação o diálogo harmônico entre ciência, fé e cultura, o que permite formar profissionais competentes, íntegros e, principalmente, cidadãos solidários, éticos e transformadores. Como Universidade Comunitária, volta-se para os aspectos sociais, principalmente para aqueles de atendimento às comunidades carentes. Dessa forma, estabelece parcerias com entidades públicas e privadas e desenvolve projetos de extensão em diversas localidades do Paraná, principalmente por meio do programa de Ação Comunitária e Ambiental (ProAção) e Projeto Comunitário.
Pode-se afirmar que, desde o primeiro dia de sua fundação, em 14 de março de 1959, por Dom Manuel da Silveira D’Elboux, a Universidade Católica tem apresentado índices de crescimento contínuo em, praticamente, todos os campos nos quais exerce alguma atividade. Inovação pedagógica, revisão nos métodos de trabalho, desenvolvimento de projetos de pesquisa, projetos comunitários e de extensão, assistência ao aluno, produção cultural são pontos que enriquecem o balanço social e a evolução histórica da Universidade.
Tudo isso vem elevando o conceito educacional do Paraná no âmbito estadual, nacional e internacional. Essa projeção, que resultou da organização e da coerência de objetivos da Instituição, tem seus fundamentos na qualificação, competência e esforços das autoridades hierárquicas da Igreja, dos Irmãos Maristas, dos professores, colaboradores e alunos e de seus dirigentes: dos pioneiros aos que hoje nela atual e estudam.
A PUCPR é uma instituição particular e de utilidade pública, um patrimônio da Igreja e da sociedade. O trabalho educacional é fundamentado no humanismo cristão, na solidariedade e na formação para a cidadania. A implantação do novo Projeto Pedagógico, em 2000, e a utilização de modernos métodos de aprendizagem modificaram o ensino e proporcionaram ao aluno novas formas der construção do conhecimento. Em qualquer circunstancia e momento, o estudante é sempre o centro dos empreendimentos e a participação maior da Universidade.
O diálogo franco, sincero e produtivo, a maneira humana e cordial de se relacionar, o incentivo aos discentes, docentes e funcionários para crescerem como cidadãos são fatores que se sobressaem no agir de forma integrada. Ações, projetos, programas e propósitos visam, essencialmente, contribuir para a realização e formação integral da juventude e para a melhoria da qualidade de vida das pessoas e da sociedade paranaense e brasileira.
Fruto do consenso e trabalho compartilhado, o Plano Estratégico da Pontifícia Universidade Católica do Paraná – Horizonte 2010 concentra e sistematiza idéias norteadoras em cinco colunas: missão clara para toda a comunidade da Instituição, rumos que seguirá para alcançar diferencial competitivo, sintonia social, concentração na excelência acadêmica, visão estratégica de futuro.
As inovações modernas e criativas nas linhas pedagógicas, introduzidas a partir de 2000 mudaram a mentalidade em relação à educação até então centrada no professor e no ensino. Agora a aprendizagem está focada no aluno, e a interdisciplinaridade facilita a atuação simultânea de vários professores.
Podemos afirmar que a Universidade está em fase de absoluta renovação e consolidação, simultaneamente, o ensino, a investigação cientifica e a atuação comunitária. Depois de criteriosa análise conjuntural do cenário mundial e brasileiro, o programa de reformulação e renovação dos currículos foi elaborado por meio de debates coletivos que envolveram professores e especialistas, auxiliados por assessoria especializada. Com sólido lastro de sustentação em modernos conceitos de educação, o Projeto Pedagógico é o carro-chefe que sintetiza e corporifica de forma criativa os propósitos a visão de futuro e a atuação da Universidade.
Ao mesmo tempo em que inova e renova, procura acentuar valores tradicionais do humanismo cristão. Sustentado por fundamentos ético-sociais, epistemológicos e didático-pedagógico, o Projeto pedagógico tornou os currículos mais atraentes agradáveis, práticos e interessantes. É por assim dizer, uma espécie de identidade institucional, essencial para superar limites das metodologias tradicionais, em direção a uma nova postura do professor, sintetizada na metodologia dialética.
Este ecossistema crítico, solidário e evangelizador tornam a educação modificadora formadora de agentes de transformação social. Educação critica, construtiva e evangelizadora capacita o estudante a construir respostas duradouras para problemas de que a própria sociedade busca soluções. Progressivamente, a motivação para o aprendizado se associa à motivação para a pesquisa e para o trabalho criativo e solidário junto à comunidade, realizado sistemática e continuamente pelo Programa de Ação Comunitária e Ambiental (ProAção) e Projeto Comunitário. A Universidade desenvolve mentalidade aberta para a cidadania, oportuniza relacionamento e entre ajuda com a população.
As inovações pedagógicas também permitiram reformular o regime de avaliação. Ao mesmo tempo, possibilitaram ampliar a flexibilidade e a agilidade acadêmica, a introdução de novas metodologias do ensino e de recursos tecnológicos no processo ensino-aprendizagem, maior interação entre aluno e professor, atuação no ensino a distância e educação continuada, otimização do uso da base física instalada, mudança do calendário de anual para semestral. Na medida que são desenvolvidas e utilizadas para o ensino, a pesquisa aplicada e a atuação junto às comunidades menos favorecidas social e economicamente estimulam, facilitam e complementam a aplicabilidade e a integração do aprendizado teórico e prático.
Ao cultivar unidade de objetivos e propósitos, as mudanças atingem, rapidamente, outros patamares da instituição, como os cinco hospitais que fazem parte da Aliança Saúde PUCPR – Santa Casa de Misericórdia de Curitiba e o Lúmen – Centro de Comunicação. Em todas as unidades, profissionaliza-se a gestão e amplia-se a capacidade de aprender a atuar junto com o empresariado, governo, comunidade e organismos públicos privados. Ao mesmo tempo em que a missão é cumprida, as metas estabelecidas são atingidas. As transformações quebraram uma série de paradigmas intramuros da Universidade, mas o significado maior é expresso em triplo exercício relacional; profissão, cidadania e transcendência.
Uma das maiores desgraças que pode ocorrer para a nossa época é frustrar a juventude que acredita nos gestores de organismos públicos e instituições privadas, e a de decepcionar, assim, a sociedade que nos sustenta e que deposita grande expectativa em nosso desempenho.
E, neste ponto, é bom não esquecermos que as responsabilidades da universidade são exatamente as mesmas dos seus dirigentes. A universidade, como rótulo, é mera abstração; o que é concreto, o que existe de fato, são as pessoas que a compõem.
Refletir sobre responsabilidades, não somente agora, mas a toda hora, faz bem porque as idéias inspiram e movem, efetivamente, as ações. É fundamental dar-se conta de como os conceitos de universidade, as idéias de liderança e de serviço podem ser combinadas na administração acadêmica e de como os gestores podem contribuir para o alcance dos objetivos institucionais de ensino, formação integral, pesquisa e extensão. Isso é válido tanto para a alta administração quanto para decanos, diretores de cursos e coordenadores de setores, e até para professores por entender melhor a universidade, a casa onde trabalham e a administração e, talvez, desejosos de um dia assumir, também eles, algum cargo de gestão.
Pessoalmente, considero-me, primeiro, um educador por vocação e escolha pessoal. Depois, um administrador, por convite e por obediência. Essa condição me move a usar este veículo de comunicação para apresentar aos gestores e à sociedade algumas considerações que julgo úteis e oportunas. Para aqueles que, numa oportunidade como esta, estão em busca de algum conselho prático para levar a bom termo as responsabilidades que estão assumindo e para lidar com uma realidade, talvez totalmente, nova no seu trabalho, ouso oferecer algumas recomendações.
São lições simples e despretensiosas, aprendidas no estudo, no ensino, na observação e na prática da administração acadêmica, que eu gostaria de repartir. Para os mais experientes, pode até parecer óbvio e sabido o que direi. Espero entretanto, que as nossas experiências, confirmem idênticas conclusões. E que, no seu íntimo, estejam dizendo: “É assim mesmo; o reitor tem razão.” Dos mais novos espero está reação. “O que o reitor está dizendo faz sentido; vou experimentar seguir os seus conselhos.”
São aspectos a serem levados em conta no exercício de seus mandatos como dirigentes acadêmicos. São considerações relativas à maneira de lidar com as tarefas diárias, sejam elas grandes ou pequenas, ao modo de tratar as pessoas e os segmentos da comunidade universitária – os professores, os estudantes, os funcionários, os seus colegas dirigentes e os mantenedores. Referem-se às habilidades, atitudes e qualidades que podem fazer a diferença entre o sucesso, maior ou menor, e mesmo o insucesso de um gestor acadêmico.
Assumir a coordenação de um setor oficial, público ou privado, a direção de um curso ou a direção de um centro universitário, não requer, unicamente, a disposição para o serviço. Exige-se, ainda, a capacidade de liderança. Os dirigentes estão a frente de grupos de trabalho, de equipes de profissionais, de turmas de alunos, enfim, de uma pequena comunidade de pessoas com objetivos comuns. Lá nas salas de aula e nos corredores do centro, lá no “chão da fábrica” onde de fato acontece a atividade fim da universidade, lá é que se espera uma presença de liderança. O exercício da liderança elemento essencial para o funcionamento de qualquer grupo humano, também da comunidade universitária que, além de tudo, é uma escola de liderança.
Os comandados de um dirigente acadêmico e a própria universidade que nele confia têm algumas expectativas naturais sobre ele. Esperam que seja autêntico, coerente e ético; seja honesto, sincero e leal para os seus companheiros; saiba ouvir e seja conciliador; tenha preocupação com os colegas e ajude-os a crescer; reparta as vitórias com os companheiros; tenha cabeça aberta e olhe para o futuro; seja competente, criativo e imaginativo; esteja disposto a tomar iniciativas e assumir responsabilidades, seja corajoso e determinado; não se importe com os desafios e não desanime; e demonstre equilíbrio emocional (maturidade).
Indistintamente, todas as pessoas apreciam flores, jardins e parques. Fazemos questão de ter flores em casa e, em ocasiões especiais, costumamos presentear com flores as pessoas queridas. Gostamos de cultivar jardins e de descansar nos parques da cidade. De fato, poucos ambientes conseguem despertar maior atração e produzir maior encantamento do que um jardim.
Talvez seja um resquício de nostalgia do paraíso perdido. O jardim é mesmo uma invenção divina, pois o primeiro de que temos notícia, conforme a narrativa bíblica, foi plantado por Deus no lado leste do Éden, onde foi colocado o homem por Ele criado. O fato é que o jardim consegue juntar, num mesmo espaço, a beleza singular das plantas e das flores, presente da natureza, com a expansão da criatividade e da arte do jardineiro.
Quero falar um pouco do jardim do Hospital Psiquiátrico Nossa Senhora da Luz. Essa casa de saúde para doentes mentais, agora centenária , pertencente à Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de Curitiba, possui um jardim cheio de flores. É espaço grande, com mais de 5 mil metros quadrados. Jardins desse porte são raros na cidade. O jardim integra um conjunto de cinco edifícios antigos do complexo hospitalar. Tanto os velhos pavilhões quanto o espaço interno constituem patrimônio histórico da cidade a ser preservado. O primeiro prédio, o pavilhão André de Barros, juntamente com o jardim, acabam de ser restaurados e foram entregues à população da cidade, por ocasião dos festejos do centenário, no último dia 5 de setembro.
Esse jardim é pouco conhecido dos curitibanos. Talvez, por ser espaço interno de um hospital completamente cercado por altos muros, mas os muros estão sendo progressivamente derrubados, e o Hospital vai ficando mais aparente e mais transparente. Já dá para ver um pouco do seu interior, ainda que muito pouco. Aliás, o lema da celebração do centenário é significativo: “Cem anos sem muros”. A derrubada dos muros tem propósito estético, mas, principalmente, simbólico. Sem muros, a visão fica bem mais facilitada, tanto de dentro para fora, quanto de fora para dentro.
Ter um jardim é, sem dúvida, um privilégio, mas exige esforço e investimento. Carlos Drummond de Andrade, o nosso poeta maior, em O Avesso das Coisas, expressou bem esse contraste: “O jardim, convite à preguiça, exige trabalho constante.” E como! Mesmo assim, “é preciso cultivar nosso jardim”, recomenda Voltaire em Candide. Se um jardim, por si só, já enfeita qualquer ambiente, é ainda mais bem vindo e, talvez, seja até mais necessário, num hospital.
Os hospitais, a bem da verdade,exercem pouca ou nenhuma atração. Gostam de hospital somente os médicos, enfermeiros e outros profissionais que já trabalham. E mesmo entre estes, é preciso reconhecer, há algumas exceções. São os que gostam de hospital, porque lá ganham a vida, mas que, com a mesma intensidade, não gostam dos doentes que o procuram para garantir a preservação da própria vida. O comum dos mortais procura algum hospital apenas quando algo lhes lembra que, gostemos ou não, somos todos mortais, de fato.
Os pacientes que entram em uma casa de saúde, na verdade, sentem alegria mesmo só no dia em que conseguem de lá sair. Lembro-me bem do dia em que tive alta, depois de meses de internamento: como a cidade me pareceu mais atraente e o mundo bem mais bonito fora do hospital! Por serem lugar de sofrimento, os hospitais precisam tornar-se espaços mais bonitos e mais humanizados, tanto no tratamento dos pacientes, quanto no cuidado com o ambiente físico interno e externo.
Construir uma filosofia de vida cristã, aproximar as salas de aula do mercado de trabalho, disseminar conhecimentos aliados à ética ao ensino com pesquisa são três papéis das universidades que inovam e desejam crescer na modernidade.
Diante das mudanças que estão ocorrendo no campo da ciência, da tecnologia, da economia e das profissões, as universidades precisam caminhar na linha de frente, expandir suas atividades comunitárias, modernizar laboratórios e processos de ensino e de aprendizagem, contribuir para melhorar a qualidade de vida das pessoas e da sociedade. Mais ainda, é imprescindível ajudar a mocidade a desenvolver sua vocação profissional e realização pessoal.
Uma das alavancas que sustentará o século 21 será a capacidade de relacionamento regional e internacional. Como entidade de ponta na preservação da intelectualidade e da cultura, a nossa universidade está acelerando o processo de internacionalização e está atenta à valorização do passado, da história e da cultura dos povos.
Por sua vez, o alto índice de crianças e jovens que abandonam os bancos escolares é um dos maiores desafios a ser vencido na atualidade. A universidade pode contribuir e facilitar respostas para esta e para muitas outras questões da sociedade. Hoje, os problemas vão do consumismo, violência, uso e comércio de drogas, desemprego, desestruturação da família até o desrespeito a direitos humanos, devastação da natureza, fenômeno da globalização, divida externa, deslocamentos culturais, sociais e econômicos e tantos outros.
O ex-superior geral dos Maristas, irmão Benito Arbués Rubiol, sempre proclamava: “precisamos nos ajudar mais, acreditar na vida nova e no jovem, descobrir a verdade em todos os campos e níveis e oferecê-la aos seres humanos mais necessitados. Educação, saúde, comunicação e Evangelho precisam de mística, ação de fé e gente com coração e sentimentos solidários. Somos chamados com urgência a conhecer a realidade e começar a criar a globalização da solidariedade, alicerçada na justiça, fraternidade e humanismo.”
Comparativamente ao que era o Brasil no início do século XX, hoje o país é outro, mais rico, porém, proporcionalmente, com mais pobres também. Quem estuda em universidade tem obrigação moral de retribuir serviços e ajudar a sociedade. Isso é possível na medida em que gestores e professores difundem valores e estimulam a viver a solidariedade em relação aos mais pobres e excluídos.
Os princípios que fundamentam a educação marista que ministramos são permanentes, mas as formas de realizar o objetivo mudam de acordo com o tempo e lugar. Particularmente na PUC/PR, não medimos esforços para formar profissionais competentes, bons cristãos que assumam valores éticos e evangélicos, pessoas capazes de influir na vida pública, gestores e políticos responsáveis e honrados, por sua dignidade, práticas e vivência.
Ainda, como sempre diz Benito Arbués, ser intelectual não quer dizer ser agnóstico. A verdade não se contrapõe à razão, a fé, à ciência e a cultura. A realidade terrestre e fé se inter-relacionam em níveis diferentes de conhecimento, mas ambas têm uma origem comum, que é Deus da missão da Universidade Católica formar pessoas de coração solidário e com consciência social capazes de criar a cultura da solidariedade. Isso não significa rebaixar a qualidade da aprendizagem e preparação técnica e profissional.
Naturalmente, sem a busca permanente da qualidade, organização alguma tem razão de existir. Nenhuma instituição de ensino consegue ser melhor do que os seus educadores e administradores. A união de esforços, a modernização dos métodos pedagógicos e os valores cristãos humanistas são características que diferenciam as escolas. Visão abrangente, compromissada e sintonizada com a educação integral é outro aspecto que procuramos destacar na nossa universidade.
Ao celebrar a memória de Euro Brandão, dois anos passados de seu falecimento (31/12/1924 – 31/10/2000), quero ressaltar a figura eminente do grande educador que foi. Entre as muitas atividades e tarefas que realizou, entre os cargos públicos e as funções acadêmicas assumidas e entre as atividades de artista plástico e escritor, Euro Brandão foi sempre e acima de tudo um educador.
Euro Brandão foi um educador de visão, com os olhos voltados para o futuro. Tendo sido ministro da Educação, entre 1978 e 1979, trouxe importantes melhorias para o ensino do País, como a implementação do programa de pré-escola e a instalação de projetos-pilotos para melhorar a educação rural no Nordeste do Brasil. Mostra de seu pioneirismo foi a fundação do Centro de Computação Eletrônica da UFPR, em 1968, e a criação do Curso de Bacharelado em Ciência da Computação, em 1984, na PUCPR.
Entretanto, a importância que Euro dava à técnica e ao avanço científico não ofuscou suas convicções mais profundas sobre a vida humana. Ensinou: “Devemos querer uma informática que seja um meio e não um fim. Um meio que amplie a capacidade humana de fazer o bem, de proporcionar melhores condições de trabalho e de vida. Um meio que favoreça a vida humana e não seja a ela adverso. O único recurso final, indiscutível, continua a ser a presença do espírito humano”. (Universo e Transcendência). Podemos ver, assim, que em sua visão de futuro, aliado ao desenvolvimento técnico, estava o pleno desenvolvimento da pessoa humana.
Euro Brandão foi, também, um educador comprometido e exigente. Entre as muitas linhas que escreveu, encontramos a seguinte afirmação: “A lassidão, o facilitarismo, a passividade, levam à deformação do educando. No futuro, os profissionais formados em universidades vão agradecer os mestres exigente e parlamentar os descuidados ou os excessivamente condescendentes”. (Identidade e Filosofia da PUCPR). Tal atitude exigente de Euro Brandão nascia, sem dúvida, de sua ampla visão de educação e foi esta visão que ele ajudou a imprimir na PUC, onde foi reitor por 12 anos, de 1986 a 1997. Assim, além da formação profissional, Euro dizia que a “universidade deve levar a uma compreensão do sentido da vida, da transcendência, da solidariedade, proclamando a liberdade, a justiça, a dignidade do homem”. (Identidade e Filosofia da PUCPR).
Euro foi, sem dúvida, um educador do humanismo. Ainda em “Universidade e Transcendência”, afirma convicto: “A verdadeira crise é a crise do homem”. Ou seja, a crise de identidade da pessoa humana é a causa das crises econômicas e sociais, éticas e religiosas de nosso tempo. Em seu outro livro “O século da máquina e a permanência do homem”, insiste na necessidade de se humanizar o trabalho e a técnica, as empresas e a sociedade industrializada. Mostra, ainda, a necessidade de que o homem domine a máquina e não justamente o contrário, e lembra: “A sociedade moderna induz o homem a um acréscimo em suas necessidades vitais e, conseqüentemente, à inversão na escala valórica: o ser do homem é cada vez mais esmagado por um fazer e por um ter”. Euro foi um educador da sensibilidade. Aliava ao rigor intelectual a levezas das formas e o brilho das cores vivas. Ele herdou de seu mestre, Guido Viaro, a técnica e a sensibilidade, tornando-se reconhecido no Brasil e no exterior. Como artista, demonstrou sua inclinação natural pela dimensão transcendente da existência humana, imprimindo em suas telas a sensibilidade do artista e a fé do cristão. Expressão disso é a belíssima via-sacra que deixou para a Paróquia Universitária Jesus Mestre da PUCPR. Seu espírito de fé o levou a fundar, em 1993, a Associação Brasileira de Artistas Cristãos, unindo ao talento artístico o testemunho de fé.
Euro foi um educador da fé. O testemunho de vida cristã não ficou restrito à sua vida pessoal, mas irradiou-se em sua vida pública, sobretudo em sua atuação junto à PUCPR. Ele escreveu: “Uma universidade que não cultive, assim, a idéia de Deus e a concepção do homem ético-transcendente é uma universidade vazia e deformadora”. (Universidade e Transcendência). Ele afirmava, convencido, que “pouca ciência afasta de Deus e muita ciência d´Ele aproxima. Cristo é a Verdade perene. As outras, inclusive a científica, são provisórias e passageiras”. (Identidade e Filosofia da PUCPR).
Um homem assim é um homem completo. Em educador assim é um educador ideal. Conheceu. Conheceu a vida humana profundamente, conheceu a ciência, dominou a técnica, brilhou na arte e distinguiu-se pela fé. A PUCPR, os paranaenses e a sociedade brasileira elevam sua prece de louvor e gratidão a Deus por todo o bem realizado por Euro Brandão. Que possamos compreender suas idéias e saibamos seguir os seus passos. Como lamparina, apagou-se; como estrela, brilha com seu exemplo entre nós.
Desde o princípio, a humanidade tem experimentado a necessidade premente de criar linguagens e formas de comunicação. São fantásticos os registros que revelam o esforço humano neste sentido. Começam pelos desenhos rupestres de civilizações primitivas, passam pela genial invenção da escrita pictográfica pelos sumérios (3200 a.C.) e pelo surpreendente desenvolvimento da imprensa tipográfica de Johannes Gutenberg, inventada por volta de 1440. Mais recentemente, chegam os modernos meios de comunicação social, cujo desenvolvimento, sem precedentes, foi permitido pelo avanço da eletrônica e da informática.
A sociedade moderna está envolvida pelos vários sistemas e processos de comunicação. Em pouco mais de cem anos, invenções como o telégrafo, o telefone, o rádio, o cinema, a televisão e a internet modificaram as noções de tempo e de espaço. As distâncias estão cada vez mais curtas e a noção de temporalidade ficou mais relativa. Hoje, podemos estar em qualquer lugar utilizando-nos de um sistema de teleconferência, por exemplo, que nos permite interagir em tempo real. Passamos do estágio de homo loquens para o de homo digital. Essa condição representa uma revolução cultural de proporções ainda não totalmente vislumbradas.
Quanto mais organizada for uma comunidade humana, mais complexos serão os sistemas de comunicação e mais complexa será a sua compreensão. Daí a necessidade de estudar as novas mídias e as novas tecnologias. É necessário investigar e formular novas teorias da comunicação que atendam aos interesses e às necessidades da sociedade. É preciso compreender os valores de troca e uso dos bens culturais circulantes no mundo globalizado.
Por seu forte poder de influência no modo de pensar e de agir das pessoas, a mídia tem responsabilidade especial na promoção da educação e do progresso econômico, social e cultural da sociedade. A missão da comunicação é também a de contribuir para a construção de uma sociedade melhor e mais evoluída, para a difusão da cultura da vida e da paz, para a promoção e elevação dos padrões éticos da comunidade humana.
Por essa razão, os Irmãos Maristas e a Pontifícia Universidade Católica do Paraná consideram importante manter e desenvolver a área de comunicação social. Recursos expressivos são alocados na formação dos profissionais do ramo. São equipamentos e laboratórios de última geração, sistemas e processos sofisticados e modernos, quadros de pessoal técnico e docente qualificados. Todo esse empenho institucional é feito em benefício dos estudantes, futuros comunicadores, Igreja e sociedade.
Os recursos tecnológicos são simplesmente meios. Por isso, os chamamos, apropriadamente, de meios de comunicação. Estamos convencidos, portanto, de que precisamos educar para o bom uso dos meios em vista dos fins que buscamos. É preciso ter presente que mais importante do que os fatos anunciados são os valores proclamados.
Por isso, entendemos que o investimento em tecnologia não é o mais importante. Antes, o investimento mais significativo diz respeito à própria formação humana e ética dos profissionais da área. Estamos preparando homens e mulheres que terão microfones e câmaras nas mãos, além de transmissores e satélites ao seu dispor. O peso institucional de formar bons comunicadores não deve ser subestimado por nenhuma instituição de ensino superior. Em particular, a PUC está fazendo um investimento muitas vezes superior ao custo da tecnologia disponibilizada nos laboratórios. Por sua vez, é preciso que a direção e os professores da área de comunicação estejam conscientes da responsabilidade social que possuem e se empenhem cada vez mais na missão que lhes é confiada: formar bons comunicadores.
Os tempos estão mudando numa velocidade que impressiona e surpreende a todos. Estamos ingressando em um novo milênio e, sem dúvidas, esses novos tempos vão encurtar as distâncias entres os países, não só pela tecnologia, mas também pela mentalidade aberta que os cidadãos vão desenvolver.
Nós já não somos apenas cidadãos de uma única cidade, município, Estado, país; somos cidadãos do mundo. Esse é o destino da humanidade, um destino de paz e de cooperação. Toda universidade deve estar envolvida em projetos dessa natureza. Essa é uma prioridade na formação dos jovens que têm no futuro a sua âncora maior, isto é, todos precisamos estar voltados para esses valores universais e para a cidadania do mundo.
Nós, que sempre investimos na juventude, temos que estar atentos para o futuro, para a vida e para a educação integral. Nesse sentido, a internacionalização da universidade é uma questão de dias. O processo se traduzirá de muitas formas de cultivo do conhecimento e de outras culturas, no relacionamento com outros povos, no conhecimento de línguas, nos intercâmbios culturais e intelectuais.
Estamos abrindo a PUC nesta direção. Já firmamos dezenas de convênios com universidades do mundo todo, dos cinco continentes. Recentemente, foi assinado convênio na Ucrânia, Espanha e Alemanha. Estamos assinando, neste mês de agosto, mais três intercâmbios internacionais com universidades da Nova Zelândia e da Austrália.
Isso vai permitir a ida e a vinda de estudantes e professores para o intercâmbio de tecnologias, conhecimentos, ciências, experiências e vivências, proporcionando a mestres e discípulos a oportunidade do contato com a cultura do século XXI, que é uma cultura de paz, amizade, de solidariedade, de entrosamento e de ajuda mútua.
Os problemas do mundo são muitos e eles não poderão ser resolvidos apenas pelos governantes e nem somente por organismos internacionais, como a ONU e a Unesco, mas vão precisar de entreajuda de toda a humanidade.
As instituições e pessoas esclarecidas de todas as partes de mundo têm que dar sua contribuição e, para que isso se torne realidade, temos que investir na nova geração, que são exatamente os estudantes.
Estamos perfeitamente convencidos de que há um nível teórico e um nível prático, ou seja, nós temos que tomar medidas apropriadas para que o discurso se torne realidade.
A PUC colocou no seu planejamento 2000-2010 a prioridade de internacionalizar a universidade. Estamos dando passos seguros e firmes nessa direção. Entre 10 e 15 anos teremos uma universidade totalmente diferente da atual e reconhecida internacionalmente.
Em face disso, haverá uma fertilização acadêmica, cultural e intelectual da comunidade discente e docente. Por essa razão, teremos pessoas dominando tecnologias mais avançadas, com pensamento pioneiro para ser discutido.
Universidade é exatamente isso, ela tem que estar na vanguarda e ser usina do conhecimento. Temos o privilégio de viver a era do conhecimento, que é a matéria-prima que move o mundo e toda a sua evolução. Se nós não tivermos os olhos fixos no futuro, nada acontecerá.
Nesse sentido, a PUCPR é uma instituição que tem as idéias claras quanto a esses horizontes e está fazendo todos os esforços para superar limites impostos por dificuldades de diversas naturezas.
A humanidade e as universidades de todas as partes do mundo ingressaram, ao mesmo tempo, na era do conhecimento, da aprendizagem e da melhoria da qualidade de vida. Nessa prospecção, está claro que a aprendizagem não pode mais ser associada unicamente às instituições de ensino. Por isso, a questão chave da educação tomou uma dimensão mais ampla: a de ser suporte para facilitar, atualizar e renovar a aprendizagem da pessoa durante toda a sua vida.
A escola não vai desaparecer, mas precisa modificar a sua abordagem pedagógica, metodológica e didática. Embora nunca tenha sido o seu verdadeiro papel, no passado ela até pode ter sido mera repassadora de conhecimentos. No presente e no futuro, sua função deve ser outra: transformar-se numa verdadeira usina de elaboração, assimilação e democratização de conhecimentos úteis e aplicáveis. Sua tarefa é aproveitar a massa enorme de informações a que os alunos têm acesso, provenientes das múltiplas fontes disponíveis, também as de fora do ambiente escolar, para fazer o seu processamento dentro da sala de aula. Este é o seu principal papel pedagógico.
O professor Antônio Dias de Figueiredo, da Universidade de Coimbra, observa que a grande preocupação das escolas tem sido a de “compartimentar o saber, em vez de oferecer contextos para compreendermos um mundo de diversidade, em que vivemos cada vez mais sequiosos de saber e mais afogados em informação”. Fica evidente a necessidade de promover a reconciliação entre conteúdos e contextos e de trabalhar a interdisciplinaridade. Ladislau Dowbor aponta nessa mesma direção: “Uma linha de trabalho importante consiste na organização de espaços de elaboração de consensos: o sistema que nos rege generalizou a filosofia da competição em substituição à solidariedade, da rivalidade em detrimento da cooperação”.
Para Figueiredo, o currículo é a questão central da escola, a qual inclui, certamente, “um esforço de encontrar como integrar as tecnologias de informação na educação, mas este é apenas um aspecto na gigantesca agenda de ação que atinge profundamente os cambiantes objetivos e fins da educação no seu relacionamento com a sociedade e com a tecnologia”. Certo é que a escola está passando por uma mudança sem precedentes. A educação, até recentemente centrada no conteúdo, passou a ser centrada no contexto, como observa Figueiredo. Gradualmente, a escola se ocupa menos com o que ensinar e mais com o contexto onde está o conhecimento e com as maneiras de incorporá-lo no dia-a-dia.
A abordagem didática também precisa ser modificada, para incorporar convenientemente os meios multimídia e a moderna tecnologia educacional que vem sendo colocada à disposição das instituições educacionais e, até, dos alunos em suas casas. A escola tem, sim, a tarefa de ensinar o aluno a utilizar adequadamente esses instrumentos e ferramentas e orientá-los para tirarem proveito do seu enorme potencial. Para isso, necessita utilizar esses instrumentos nas suas salas de aula e laboratórios e marcar a sua presença no ciberespaço. As escolas que despertaram para essa exigência já começam a colher os primeiros frutos.
Em face disso, o papel do professor muda dentro do contexto da escola. Ao comentar as megatendências identificadas por Naisbitt para a sociedade, Antônio Dias de Figueiredo afirma: “A frieza das altas tecnologias impõe uma contrapartida indispensável de calor humano: quanto mais tecnológica é a sociedade, mais necessita de compensações ao nível dos valores humanos e da afetividade. É aqui que se situa a função chave de uma escola reinventada: dar estrutura a um mundo de diversidade, fornecer os contextos e saberes de base para uma autonomia de sucesso, e fornecer as respostas humanas compensatórias de que a escola dos nossos dias está a se distanciar tão perigosamente”.
Inicialmente, desejo que este segundo domingo de agosto, dia 13, só termine para dar lugar a uma nova jornada ainda com mais amor, carinho, respeito, preces e gratidão a todos os pais. Que as mensagens e homenagens aos pais, vivos e falecidos, guardem para sempre o belo, o viço e a doçura e sejam regadas com a bênção de Deus. Na convivência com seus pais, crianças e jovens descobrem potenciais e razões para viver, incorporam hábitos e exemplos, alimentam ideais e constroem a escala de valores que vão lhes dar alicerces de sustentação por toda a vida.
Considero o afeto, a presença e a participação do pai atitudes imprescindíveis para boa formação e segurança dos filhos. A par da educação familiar, crianças e adolescentes aprendem princípios básicos que vão guardar para sempre, como o valor do esforço e da determinação, do estudo e do trabalho, do método e do planejamento, da simplicidade e da praticidade, da humildade e da solidariedade, da ética e da cidadania.
Sob esses aspectos, minhas lembranças da infância são as mais gratas possíveis, pois foram tempos de felicidade plena. A liberdade da vida no campo, as saudáveis travessuras de menino, o contato com a natureza, a placidez da paisagem, tudo ficou gravado na memória e no coração. A vida no sítio era boa e saudável. Ainda criança, gostava de tratar de animais e de cuidar bem da natureza.
Meu saudoso pai era comerciante e viajava com freqüência. Comprava e vendia produtos da colônia. Abastecia quartéis, colégios e casas religiosas. Antes de comprar o primeiro caminhão, fazia o transporte de carroça. Com carga lotada, saía cedinho para Curitiba. Voltava na boca da noite, quando a mãe já preparava a polenta para o jantar. Sempre trazia algumas novidades para casa. Era ansiosamente esperado. No seu joelho, montávamos a cavalinho, esperando crescer para montar cavalos de verdade. Sempre foi muito sociável e apreciava uma boa prosa.
Uma das instituições que o pai abastecia com produtos hortifrutigranjeiros era o Colégio Marcelino Champagnat, situado no bairro Champagnat. O contato e a amizade de meu pai com os irmãos maristas, sobretudo com o irmão Henrique Augusto, então diretor do colégio, acabou por despertar em mim o desejo de estudar e seguir a vida religiosa. Um dia, em meio às abóboras, cenouras, couves e frangos, vim para estudar na cidade grande. Tinha então 10 anos. As lembranças desse tempo continuam fortes: o esporte, as sessões de cinema no Colégio Marista Santa Maria, os piqueniques na Cascatinha, os estudos da língua francesa, as leituras de livros da sortida biblioteca, o teatro e o coral. As incursões no campo do teatro não foram as mais exitosas; fui melhor sucedido no coral, onde me tornei o principal solista. Quando, em alguma peça de teatro, o papel exigia uma voz mais afinada, era convidado para cantar atrás dos bastidores.
Papai Ulisses e mamãe Maria eram extremamente dedicados ao lar e aos filhos, foram meus maiores educadores. Robert Fulghum escreveu o best-seller encantador intitulado: Tudo o que realmente precisei, eu aprendi no jardim de infância. Não freqüentei o jardim. Naquela época, não existia essa instituição. O jardim e a minha pré-escola foram feitos em casa. Foi com meus pais que aprendi quase tudo o que me valeu na vida: respeitar e ajudar o próximo, preservar o meio ambiente, estudar, trabalhar, rezar, encarar a vida com audácia e esperança, ser responsável e lutar muito para realizar o que sonhava e pretendia.
Seriedade na educação é obrigação de qualquer instituição de ensino, mesmo de estabelecimentos mais simples de periferia ou de favela. Qualidade está ao alcance de qualquer escola, inclusive das mais modestas, isto é, de quem a busca com empenho e persistência. Uma escola de qualidade é aquela que demonstra efetividade social, persegue objetivos relevantes, é eficiente no uso dos recursos de que dispõe e é eficaz na realização do que se propõe. Em outras palavras, sabe o que quer, programa o melhor para os seus alunos, organiza-se em vista dos seus fins, não desperdiça recursos, capitaliza as suas energias, alcança o que pretende e cumpre o que promete. Em suma, transforma as suas intenções em realidade. Esse é o ideal de toda a boa escola.
A mobilização permanente pela melhoria da qualidade educacional nas escolas reside, sobretudo, na constatação da falta de qualidade do desempenho das escolas do País. E, não menos importante, na dúvida crescente de que as instituições de ensino fundamental, médio e superior não estejam fazendo um trabalho à altura das novas expectativas da sociedade. O anseio universal pela qualidade educacional não é um modismo passageiro da juventude, mas tendência que veio para ficar. O próprio aprimoramento da sociedade está condicionado e intimamente relacionado à melhoria da educação da população. Buscar a qualidade não é apenas uma questão de respeito aos usuários do processo. É, sobretudo, compromisso e responsabilidade dos seus mantenedores, gestores e professores.
O compromisso com a excelência acadêmica tem que ser empreitada coletiva e institucional. Implica, entre outras coisas, no desenvolvimento de relações cooperativas dentro da comunidade escolar, no trabalho em equipe, no cultivo da coesão e da colegialidade, no compromisso com a missão institucional, na implantação das práticas avaliativas e no empenho decidido em educar, ensinar e aprender. Muitas escolas e universidades estão implantando, com sucesso, programas de qualidade na maioria dos países do mundo. Os resultados benéficos dessas iniciativas são animadores para as escolas que se empenham com seriedade nesse processo.
Os critérios de eficiência, eficácia, efetividade, produtividade e relevância são requisitos básicos da administração das organizações humanas de todos os ramos, inclusive da escola, seja ela pública, particular, comunitária ou confessional. Organização de qualquer atividade só tem qualidade quando consegue atingir os seus objetivos e cumpre a sua missão. A tarefa de seus administradores é precisamente a de conduzi-la nessa empreitada. Daí, fica evidente que a busca da qualidade é uma exigência intrínseca da boa administração.
A par disso, o crescente grau de consciência dos cidadãos, enquanto contribuintes ou consumidores, está a exigir, também, mais qualidade nos serviços ofertados pelas instituições de ensino. Nos últimos anos, têm ocorrido movimentos generalizados nas sociedades mais evoluídas pela defesa e expansão dos direitos do cidadão. Entre estes, pode ser destacado o da exigência de qualidade nos serviços públicos ou privados de que são beneficiários, aí incluídos os serviços educacionais. Em nosso País, sinais desses movimentos, entre outros, são a Lei do Consumidor, a abertura dos Procons e outros órgãos assemelhados.
Por seu forte poder de influência no modo de pensar e de agir das pessoas, a mídia eletrônica (rádio, televisão e internet) e a mídia impressa (jornais e revistas) têm responsabilidades novas na promoção da educação e do desenvolvimento econômico, social e cultural da humanidade. É tarefa da comunicação contribuir para a construção de uma sociedade mais crítica, culta e evoluída, difundir a cultura da paz e elevar os padrões éticos da comunidade.
Fato ou lenda, o mito da Torre de Babel, descrito no livro do Gênesis, revela a necessidade de maior entendimento entre os homens para poderem realizar os seus sonhos. O projeto coletivo era construir uma torre que alcançasse o céu. A iniciativa fracassou por causa da confusão das línguas, em outras palavras, por falha na comunicação. De certa maneira, o antigo problema continua: altas e aparentemente sólidas torres não ficam em pé por absoluta falta de comunicação e de entendimento entre as pessoas.
Entretanto, desde a mais tenra idade, esforçamo-nos por compreender e por nos fazer compreender. O século XXI nasceu sob esse impacto de nova revolução da informação e dos meios de comunicação social. A ânsia de comunicar bem é um ato recente. Pode-se afirmar que a sociedade da informação e do conhecimento tem influência direta no complexo processo de globalização em que nos encontramos.
De múltiplas maneiras, a sociedade moderna está envolvida pelos vários sistemas e meios de comunicação. Em pouco mais de cem anos, invenções como o telégrafo, o telefone, o rádio, o cinema, a televisão e a internet modificaram as noções de tempo e de espaço. As distâncias estão cada vez mais curtas e a noção de temporalidade ficou extremamente relativa. Hoje, podemos estar em qualquer lugar utilizando-nos de um sistema de teleconferência, por exemplo, que nos permite interagir em tempo real. Passamos do estágio de homo loquens para o de homo digital.
Daí a necessidade de estudar amplamente as novas mídias e as novas tecnologias. Igualmente, é fundamental investigar e formular novas teorias da comunicação que atendam aos interesses e às necessidades das pessoas e da sociedade. É preciso compreender os valores de troca e o uso dos bens culturais circulantes no mundo globalizado. Quanto mais organizada for uma comunidade, mais complexos serão os sistemas de comunicação e mais complexa será a sua compreensão.
Por isso, essencial é educar crianças e jovens para o bom uso dos meios em vista dos fins que a sociedade busca. É preciso ter presente que tão importante quanto os fatos anunciados são os valores proclamados. Para tal, deve-se preparar integralmente homens e mulheres que terão microfones e câmaras nas mãos e transmissores e satélites ao seu dispor. O peso universitário de formar bons comunicadores não pode ser subestimado por nenhuma instituição de ensino.
Considero importante a universidade manter e desenvolver a área de comunicação social. Recursos são alocados para formação dos profissionais do ramo, docentes qualificados, equipamentos e laboratórios, sistemas e processos modernos, quadros de pessoal técnico. Todo esse empenho institucional vai beneficiar tanto os estudantes e futuros comunicadores quanto os cidadãos e as organizações.
A boa escola é aquela que prepara os estudantes para lidarem com situações com as quais vão se confrontar no dia de amanhã. A Unesco recomenda quatro fundamentos para quem estuda: aprender a ser, ser tem mais valor do que ter, aqui entram os aspectos éticos; aprender a conhecer não só o conhecimento intelectual; aprender a fazer não só a parte profissional, da formação das mãos e da cabeça; aprender a conviver também na família, na sociedade, no trabalho, e isso também se aprende na escola.
Na véspera da comemoração do Dia do Estudante, 11 de agosto, é ocasião apropriada tanto para homenageá-lo quanto para indicar-lhe alguns compromissos que devem acompanhá-lo em seus passos. Símbolo da paz e da alegria, o saudoso dom Hélder Câmara tocava o coração e emocionava os jovens quando exortava: “Vamos varrer o pessimismo das nossas mentes, vamos completar a abolição. Por mais dificuldades que haja, larguemos o pessimismo na primeira esquina por que passarmos”. Seguindo o mesmo caminho, durante encontro com mais de 800 mil jovens, o saudoso papa João Paulo II lembrou que a juventude tem sede de esperança, de paz, de harmonia, de reconhecimento e de gratidão.
Para bem educar a criança e o jovem, é preciso formar-lhe o senso crítico e o espírito criativo. Para isso, é fundamental amá-los. Este, aliás, é o autêntico valor que faz o aluno crescer e ser feliz. A atividade educacional exige disponibilidade, energia, espírito de fé, compreensão e caridade. “Só educa quem ama”, dizia São Marcelino Champagnat, fundador da Congregação dos Irmãos Maristas, mantenedora da PUCPR.
A propósito, o menino Champagnat desistiu de freqüentar a escola após o primeiro dia de aula, quando testemunhou a atitude imprópria de um professor contra um aluno. Voltou para casa assustado, decidido a ajudar seu pai na lavoura. Quando estava com 14 anos, um padre visitou a aldeia onde ele morava, convocando os jovens a voltarem a estudar. Foi então que se sentiu chamado por Deus e resolveu seguir sua vocação sacerdotal.
A história tem comprovado que educandos que tiveram a oportunidade de enriquecer seus conhecimentos, sobretudo culturais, com experiências internacionais, têm outra visão de mundo, e trazem significativas contribuições ao processo de desenvolvimento das comunidades onde se inserem. Investir em intercâmbios acadêmicos tem gerado resultados positivos. Já não somos apenas cidadãos de um único município, estado, país, continente; somos cidadãos do mundo. Esse é o destino da humanidade, um destino de paz e de cooperação global.
O aluno não se forma profissional ao ser graduado na universidade. A pessoa precisa da escola, na qual, mais do que acumular conteúdos, necessita adquirir boa metodologia, que faça dela um eterno aprendiz. Esta é a convocação que fazemos para realizar uma educação orientada para reflexão crítica, como meio para constante transformação, e construir as aprendizagens que levem a um futuro de valor. Uma das grandes buscas é da qualidade de vida, da preservação ambiental e da paz entre os povos. E a educação tem tudo a ver com isso.
Na realidade, nós temos que preparar a mocidade muito além da profissão, do trabalho e das perspectivas de mercado. Essencial é formar integralmente o cidadão do mundo. Para que isso aconteça, o apoio maior são os valores do humanismo. O humanismo cristão é a nossa tradição e raiz do processo educacional. Aliás, a instituição educacional que não cultiva o humanismo estará se distanciando de sua origem.
Há tanto o que fazer no Brasil em todos os setores e tamanha é a empreitada, que precisamos urgentemente nos unir e agir. As pessoas que oferecem trabalhos voluntários constituem, na feliz expressão do saudoso Papa João Paulo II, um pacífico exército da esperança. “Queira Deus que ele amplie sempre mais a sua ação, com iniciativas eficazes destinadas a promover a educação e a cultura da solidariedade e a civilização do amor.” Como legionária desse pacífico exército de esperança, a nossa Universidade empenha-se em dar a sua contribuição para levantar o padrão de solidariedade do novo cidadão universal.
Pioneiramente, a PUCPR instituiu, em 1999, o Programa de Ação Comunitária e Ambiental – ProAção, instalando núcleos em diversos municípios do estado: Tijucas do Sul, Guaraqueçaba, Paranaguá, Guaratuba, Fazenda Rio Grande, São José dos Pinhais. Na essência, é um programa de promoção do voluntariado e prática da cidadania, que envolve professores, estudantes e pessoas da comunidade. Nesses locais, podem ser desenvolvidas atividades nas áreas de saúde, educação, saneamento, meio ambiente, auto-sustentação e outras que visem ao desenvolvimento social, econômico e cultural. Assim, todos aprendem e ensinam.
É fundamental envolver a mocidade em projetos assistenciais, desenvolver senso e consciência cívica, sensibilidade social, educação integrada e conservação da natureza. A saúde é priorizada com ações de prevenção. Fruto do esforço interinstitucional, seja com a iniciativa privada, seja com a esfera pública, o ProAção é um programa polivalente e de amplo efeito multiplicativo.
Atua em várias frentes de trabalho, capitaneado por dois carros-chefe: a ação ambiental, com tudo o que ela inclui, e a ação comunitária, com a abrangência que lhe é característica. Assim, abre novas oportunidades a realizações multi e interdisciplinares de atividades integradas no campo do ensino, da pesquisa e da extensão. Sua prática, originalmente, é tratar, de forma integrada, áreas estratégicas para a qualidade da vida das pessoas.
O compromisso concomitante e indissociável é a preservação e defesa do meio ambiente. O bom senso recomenda que pouco adianta a promoção humana, se ela agredir a natureza. Tampouco adianta a preservação da natureza, se ela não levar em consideração a presença da pessoa, razão de ser da própria natureza. As duas atividades são complementares e andam juntas. Ainda, o ProAção é território privilegiado para descobertas, experimentações e ações polivalentes. Todos os projetos são executados de conformidade com abordagens científicas e competência técnica. O eixo condutor é a solução imediata de problemas comunitários, formação da cidadania e realização pessoal. Sem essa contribuição da juventude, demoraria muito tempo para o poder público resolver a imensidão de problemas em que o país se encontra mergulhado. Com união e utilização eficiente do potencial humano, técnico e científico existente na universidade em boas causas, torna-se mais fácil assistir pessoas e comunidades que precisam de auxílio imediato. Todas as instituições e pessoas têm uma missão social e espiritual a cumprir, que não é outra senão a prática do bem, da qualidade, da justiça e da moral. A competência técnica e científica e a participação em obras de benemerência não são coisas incongruentes. Pelo contrário, são compromissos que devem andar de mãos dadas, muito embora não seja difícil perceber que a sociedade moderna se encontra ainda vagando pelo deserto, como os hebreus no caminho rumo à Terra Prometida.
No Brasil, existe enorme potencial de solidariedade e voluntariado dentro das pessoas e das instituições. Entretanto, necessita ser despertado e colocado em ação, diuturnamente. Os cidadãos de bem sentem a necessidade interior de doar algo de si, de seu tempo e de seus talentos para o bem do semelhante. O saudoso papa João Paulo II ressaltava que o progresso econômico e o desenvolvimento das ciências são fontes de fascínio, mas incutem também temor ao ser humano sobre a razão e a liberdade.
Nos quadrantes da terra, há necessidade de paz, cooperação, senso crítico e maior disseminação da verdade cristã. Ao mesmo tempo, é preciso que o jovem trace para a sua vida horizontes seguros, e não se deixe frustrar, nem ficar perdido sem rumo. No convívio familiar, escolar, social e profissional, é fundamental que ele mostre o seu potencial, defenda seus ideais, incorpore valores e adquira conhecimentos para crescer e se realizar.
Um dos maiores desafios que os países, governos e a humanidade toda enfrentam é o de promover o desenvolvimento social e econômico de forma equilibrada, democrática e pacífica. Pessoas e estados têm que ser promotores da cultura da vida. A meta de consolidar um planeta melhor é prioridade na formação universitária. O estudante construtivo e entusiasmado bem sabe que direitos e posses não são uniformes, nem no Brasil, nem em lugar algum. Porém, o acadêmico sabe também que o bem e o bem-estar dos outros é o objetivo maior da educação.
É função da universidade envolver a mocidade em projetos comunitários e sociais, com o propósito de construir a civilização do amor, edificar a cultura da paz e promover a verdadeira fraternidade. Como educadores, estamos voltados para esses novos valores universais e para a consolidação da cidadania, da ética e da solidariedade.
A construção da cultura da paz, a redução das desigualdades sociais e a superação das diferenças étnicas e inter-religiosas são exigências e pilares da modernidade. Vive melhor e mais feliz quem convive em harmonia com a família, a sociedade, a escola, a empresa e a comunidade. As âncoras da cidadania e do desenvolvimento são a paz, a solidariedade, o respeito, a liberdade e a cooperação.
Nesse contexto, o cidadão universal deve ser cada vez mais cooperativo e solidário. A melhor maneira de formar os acadêmicos para viverem nesse ambiente é a de oportunizar-lhes meios e recursos de um envolvimento comunitário, por meio de trabalhos de campo, estágios e atividades de voluntariado. Temos insistido na idéia de que as universidades, a igreja, os meios de comunicação e outros organismos não ignorem o clamor dos necessitados e dos segmentos carentes da sociedade.
A solução dos conflitos regionais e problemas sociais não será possível sem a ação conjunta de governos, sociedade e colaboração individual dos cidadãos. Formas de convivência harmoniosa precisam ser praticadas e divulgadas, cotidianamente. Entendemos que o relacionamento pacífico não é só possível, como não há outra maneira para o ser humano continuar vivo.
Sob esse aspecto, insistimos que é fundamental educar as novas gerações para a firme vontade de tornar o planeta melhor para todos os seres vivos. Isso implica formar a cabeça para bem pensar, descobrir e conjugar esforços coletivamente, trabalhar para substituir a cultura do egoísmo, das vaidades e da competitividade exacerbada pela cultura da felicidade. Compete a nós facilitar os meios e desenvolver as competências para que crianças e jovens implementem projetos exeqüíveis visando à prática do bem comum.