Brasil é referência na reciclagem de embalagens de agrotóxicos
Articulação entre os diferentes agentes da cadeia produtiva agrícola do país explica bons números, diz professor da PUCPR
Dados do Instituto Nacional de Processamento de Embalagens Vazias (inpEV) apontam que entre janeiro e novembro de 2020 48 mil embalagens de agrotóxicos tiveram destinação correta no Brasil. Desde 2000, quando a entidade foi criada, quase 600 mil embalagens de defensivos agrícolas foram retiradas do meio ambiente, sendo que 94% foram recicladas. A título de comparação, em 1999, 50% das embalagens vazias de defensivos agrícolas foram doadas ou vendidas sem controle, 25% tiveram como destino a queima a céu aberto, 10% foram armazenadas ao relento e 15% foram abandonadas, segundo pesquisa realizada à época pela Associação Nacional de Defesa Vegetal (Andef).
Os números indicam que, apesar de ser um dos primeiros colocados no ranking mundial do consumo de agrotóxicos, por conta da elevada produção de grãos e proteína animal destinados a alimentação humana, o Brasil é também referência na destinação ambientalmente correta de embalagens vazias de defensivos.
“Nosso país conta com um dos melhores sistemas de reciclagem de embalagens de agrotóxicos do mundo devido a boas práticas e à excelência na articulação entre os diferentes agentes da cadeia produtiva agrícola”, afirma o agrônomo Alfredo Richart, professor do curso de Agronomia da Pontifícia Universidade Católica (PUCPR) no campus Toledo, no Oeste do Paraná.
Organização que impacta positivamente
Isso porque há duas décadas foi promulgada a Lei n. 9.974/2000, que trata, em meio a outros temas, da destinação dos resíduos e embalagens de agrotóxicos. Também contribui para os bons resultados do Brasil nessa seara o Sistema Campo Limpo, programa de logística reversa do inPEV. Os pontos de coleta devem ser disponibilizados e gerenciados pelos comerciantes de defensivos.
Do ponto de vista econômico e logístico, normalmente o que ocorre é que os estabelecimentos comerciais de uma mesma região se organizam em associações e constroem uma unidade de uso comum, gerenciada de forma compartilhada para otimizar atividades e recursos, vez que seria inviável cada ponto de venda ter sua própria unidade de recebimento.
“Esse sistema busca o aperfeiçoamento constante e acompanha a evolução da agricultura brasileira e do agronegócio, que tem crescido acima da média de outros setores industriais e de serviços. Com a expansão da fronteira agrícola e a modernização do cultivo, cresce também a utilização de insumos como defensivos agrícolas. Sem a gestão dos resíduos daí resultantes, certamente haveria enorme impacto ambiental”, comenta Richart, reforçando que quando as embalagens são abandonadas na natureza ou descartadas de forma inadequada, podem contaminar o solo, as águas superficiais e os lençóis freáticos.
O papel dos agrotóxicos
Não é exagero afirmar que, por desinformação, muitas pessoas leigas encaram os agrotóxicos como “vilões”. O problema, na realidade, é o uso indiscriminado de defensivos e o descarte incorreto das embalagens. Richart diz que seria quase impossível manter e aumentar os índices de produtividade agrícola brasileiro sem o uso dos pesticidas, pois os insumos são aliados importantes para o controle de pragas, doenças e plantas daninhas nos cultivos agrícolas
“Muita gente acredita que os agricultores adquirem agrotóxicos com facilidade, o que não é verdade. É preciso que um engenheiro agrônomo faça o diagnóstico da lavoura do agricultor, prescrevendo o defensivo por meio de receituário agronômico. Nesse relatório, no qual o profissional especifica o produto recomendado para cada cultura ou problema, deverá conter o nome do usuário, da propriedade e sua localização, qual foi o diagnóstico, a recomendação técnica dos defensivos, as precauções de uso e a orientação quanto à obrigatoriedade da utilização de equipamento de proteção individual [EPI]”, ressalta o professor da PUCPR.