Estudante de Filosofia da PUCPR vivencia experiência com refugiados na Europa
Renato de Souza ficou duas semanas na Grécia e conta o que viveu nestes dias
A crise de refugiados no Oriente Médio fez com que Renato de Souza, estudante de 23 anos de Licenciatura em Filosofia da PUCPR, saísse do seu país natal para vivenciar talvez a experiência mais impactante da sua vida: em janeiro deste ano, ele viajou à Grécia para ser voluntário. Lá, auxiliou e trouxe melhores condições de vida aos refugiados.
“Em novembro, a JOCUM (Jovens com uma Missão), convidou-me para participar do Conexão Brasil Turquia/Grécia, de 16 de janeiro a 1 de fevereiro”, conta. “A organização tinha como objetivo levar brasileiros para atuar em Istambul e na Ilha de Lesvos. Devido a grande necessidade de voluntários na Ilha, dedicamos todos os nossos dias ao trabalho na Grécia”, relata.
No local, Renato conta que realizou três tipos de atividades: no estágio 1, 2 e 3. “Na primeira etapa, ficávamos 24h de plantão observando a chegada com binóculos e outra parte da equipe ficava de prontidão em casa preparada para sair a qualquer momento, caso os refugiados chegassem na ilha. Neste local, eles eram recebidos por policiais locais e por ONGs que distribuem agua e cobertores para aqueles que estavam com hipotermia”, ressalta. Na segunda atividade, o serviço era prestado no local em que os imigrantes passavam a noite e recebiam alimentação quente, após serem recebidos pelos voluntários.
Já na etapa 3, o grupo distribuía roupas para os refugiados. “Atendíamos de 120 a 140 famílias por dia. As famílias saem de suas nações apenas com a roupa do corpo e não tem como se aquecerem a noite devido ao frio intenso da ilha. Por este motivo, o galpão de doações é a única esperança desse povo”, relata.
Entenda o contexto
Renato explica que a ilha de Lesvos, localizada no nordeste do mar Egeu, tem sido a porta de entrada dos refugiados na Europa. “Muitos vindos da Síria e de diversos outros países se dirigem à Turquia para atravessarem o Mar Egeu, numa distância de 10Km, em botes infláveis com capacidade de 20 a 40 pessoas que chegam a carregar de 60 a 90”, diz. Isto é ocasionado pelo desespero em salvar suas vidas e de seus familiares. “Os “coiotes”, que organizam as viagens, trabalham de forma clandestina de madrugada enviando os botes mar adentro cobrando de 2 a 4 mil dólares por pessoa, o que obriga muitos a mandarem apenas um membro da família”, conta.
A ilha tem sido a única esperança de muitos destes refugiados. “Ao saírem de suas pátrias, eles se arriscam numa busca frenética por vida e esperança, numa terra sem guerra e pacifica. Infelizmente, quando chegam se deparam com outra realidade. Hoje o governo da Grécia tem tratado os refugiados da pior forma possível, objetivando a desistência dos mesmos em procurar refúgio por lá”, esclarece.
Experiências que marcam
Muitas histórias fizeram a viagem de Renato ser uma das mais marcantes de sua vida. No local, ele relata ter conhecido uma mãe e duas crianças que estavam traumatizadas pela guerra. “Os filhos haviam visto a mãe levar um tiro e um muro cair sobre o pai”, diz. Na mesma região, os voluntários ajudaram na construção de uma cozinha para que os refugiados tivessem mais de uma alimentação no dia e uma área de lazer para crianças.
O campo de refugiados de Moria também deixou lembranças negativas em Renato, já que, para ele, é um verdadeiro campo de batalha. “Com condições totalmente insalubres, como esgoto aberto, lixo nas ruas, sem ambientes quentes, os imigrantes entram em conflito entre eles mesmos e com policias. Apesar da ACNUR (Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados) ser a responsável, nada estão conseguindo fazer devido à grande quantidade de pessoas na ilha. As ONGs têm prestado um serviço importantíssimo em Lesvos, nos três estágios e nos campos, porém, a sensação que temos é que se trata apenas de um cuidado paliativo”, alerta. E o desespero continua: “até o momento de nossa saída, a segunda “fase” e Mória estavam ameaçados a virar apenas um campo de futebol, obrigando a ONU e as ONGs a desmontarem todo o trabalho ali desenvolvido”, diz.
Renato, já no Brasil, conta que o trabalho na Grécia só foi possível graças a pessoas que apoiaram financeiramente e acreditaram no trabalho que a equipe estaria desenvolvendo no país. “Os relatos mencionados não são a totalidade dos vivenciados nestes dias lá”. Para ele, a batalha continua: “meu maior desejo é que as pessoas saibam o que de fato os refugiados estão passando na Ilha de Lesvos, Grécia, Turquia e em qualquer lugar do mundo”, completa.
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