Escola de Educação e Humanidades - 19 fev 2018

Estudante de Filosofia da PUCPR vivencia experiência com refugiados na Europa

Renato de Souza ficou duas semanas na Grécia e conta o que viveu nestes dias

A crise de refugiados no Oriente Médio fez com que Renato de Souza, estudante de 23 anos de Licenciatura em Filosofia da PUCPR, saísse do seu país natal para vivenciar talvez a experiência mais impactante da sua vida: em janeiro deste ano, ele viajou à Grécia para ser voluntário. Lá, auxiliou e trouxe melhores condições de vida aos refugiados.

“Em novembro, a JOCUM (Jovens com uma Missão), convidou-me para participar do Conexão Brasil Turquia/Grécia, de 16 de janeiro a 1 de fevereiro”, conta.  “A organização tinha como objetivo levar brasileiros para atuar em Istambul e na Ilha de Lesvos. Devido a grande necessidade de voluntários na Ilha, dedicamos todos os nossos dias ao trabalho na Grécia”, relata.

No local, Renato conta que realizou três tipos de atividades: no estágio 1, 2 e 3. “Na primeira etapa, ficávamos 24h de plantão observando a chegada com binóculos e outra parte da equipe ficava de prontidão em casa preparada para sair a qualquer momento, caso os refugiados chegassem na ilha. Neste local, eles eram recebidos por policiais locais e por ONGs que distribuem agua e cobertores para aqueles que estavam com hipotermia”, ressalta. Na segunda atividade, o serviço era prestado no local em que os imigrantes passavam a noite e recebiam alimentação quente, após serem recebidos pelos voluntários.

Já na etapa 3, o grupo distribuía roupas para os refugiados. “Atendíamos de 120 a 140 famílias por dia. As famílias saem de suas nações apenas com a roupa do corpo e não tem como se aquecerem a noite devido ao frio intenso da ilha. Por este motivo, o galpão de doações é a única esperança desse povo”, relata.

Entenda o contexto

Renato explica que a ilha de Lesvos, localizada no nordeste do mar Egeu, tem sido a porta de entrada dos refugiados na Europa. “Muitos vindos da Síria e de diversos outros países se dirigem à Turquia para atravessarem o Mar Egeu, numa distância de 10Km, em botes infláveis com capacidade de 20 a 40 pessoas que chegam a carregar de 60 a 90”, diz. Isto é ocasionado pelo desespero em salvar suas vidas e de seus familiares. “Os “coiotes”, que organizam as viagens, trabalham de forma clandestina de madrugada enviando os botes mar adentro cobrando de 2 a 4 mil dólares por pessoa, o que obriga muitos a mandarem apenas um membro da família”, conta.

A ilha tem sido a única esperança de muitos destes refugiados. “Ao saírem de suas pátrias, eles se arriscam numa busca frenética por vida e esperança, numa terra sem guerra e pacifica. Infelizmente, quando chegam se deparam com outra realidade. Hoje o governo da Grécia tem tratado os refugiados da pior forma possível, objetivando a desistência dos mesmos em procurar refúgio por lá”, esclarece.

   

Experiências que marcam

Muitas histórias fizeram a viagem de Renato ser uma das mais marcantes de sua vida. No local, ele relata ter conhecido uma mãe e duas crianças que estavam traumatizadas pela guerra. “Os filhos haviam visto a mãe levar um tiro e um muro cair sobre o pai”, diz. Na mesma região, os voluntários ajudaram na construção de uma cozinha para que os refugiados tivessem mais de uma alimentação no dia e uma área de lazer para crianças.

O campo de refugiados de Moria também deixou lembranças negativas em Renato, já que, para ele, é um verdadeiro campo de batalha. “Com condições totalmente insalubres, como esgoto aberto, lixo nas ruas, sem ambientes quentes, os imigrantes entram em conflito entre eles mesmos e com policias. Apesar da ACNUR (Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados) ser a responsável, nada estão conseguindo fazer devido à grande quantidade de pessoas na ilha. As ONGs têm prestado um serviço importantíssimo em Lesvos, nos três estágios e nos campos, porém, a sensação que temos é que se trata apenas de um cuidado paliativo”, alerta. E o desespero continua:  “até o momento de nossa saída, a segunda “fase” e Mória estavam ameaçados a virar apenas um campo de futebol, obrigando a ONU e as ONGs a desmontarem todo o trabalho ali desenvolvido”, diz.

Renato, já no Brasil, conta que o trabalho na Grécia só foi possível graças a pessoas que apoiaram financeiramente e acreditaram no trabalho que a equipe estaria desenvolvendo no país. “Os relatos mencionados não são a totalidade dos vivenciados nestes dias lá”. Para ele, a batalha continua: “meu maior desejo é que as pessoas saibam o que de fato os refugiados estão passando na Ilha de Lesvos, Grécia, Turquia e em qualquer lugar do mundo”, completa.

Cemitério de coletes na Ilha de Lesvos, que serve de memorial para grande quantidade de refugiados que já chegou na ilha. Cada colete representa uma luta, uma história, uma vitória ou uma derrota.

#WeRefugees