Curso de Medicina Veterinária da PUCPR realiza manejo da população de cães e gatos no litoral paranaense
Enquanto aprendem, os estudantes colaboram para promover a saúde dos animais, da população e do meio ambiente na região
Uma das formas mais eficazes de aprender é colocar a mão na massa, e fazer isso enquanto causa um impacto positivo na sociedade é ainda melhor. Esse é um dos princípios que regem o projeto Barco Saúde Única, idealizado dentro do curso de Medicina Veterinária da PUCPR. Criada em 2018, a iniciativa objetiva realizar o manejo da população de cães e gatos em comunidades de difícil acesso de Garaqueçaba, no litoral paranaense, contribuindo para o controle populacional e para a saúde dos animais, das pessoas e do meio ambiente.
Claudia Pimpão, professora do curso de Medicina Veterinária e do Programa de Pós-Graduação em Ciência Animal da PUCPR, iniciou o projeto em parceria com um dos estudantes do curso na época, Aaronson Freitas, que hoje é Secretário da Saúde de Morretes. “Ele tinha convívio com a comunidade caiçara na região da Ilha das Peças, e os líderes estavam com a demanda de tentar controlar a reprodução de cães e gatos que viviam lá”, conta. Com a população de animais crescendo, havia uma preocupação com o equilíbrio da comunidade como um todo.
Importância da saúde única
“Muitos animais são abandonados por lá e a população vai aumentando, porque é difícil de se realizar o controle. São comunidades ribeirinhas e de difícil a acesso à educação, saúde, e não é diferente para a saúde animal”, explica a professora. Devido a esses fatores, a comunidade tem um risco maior de contrair zoonoses, doenças comuns às pessoas e aos animais.
Além disso, o desequilíbrio na população de cães e gatos pode causar mudanças na fauna e na flora da ilha. Foi por isso que o projeto, que tinha como ideia fazer o manejo populacional, se tornou uma ação de saúde única. “O que fazemos é a porta de entrada, que torna muito mais fácil a aproximação com a comunidade para fazer a avaliação da saúde como um todo e contribuir”.
Após a aprovação do Conselho Regional de Medicina Veterinária do Paraná, a ação passou a acontecer em ambientes cedidos pelas próprias comunidades atendidas, que recebem as adequações necessárias para realização dos procedimentos. O projeto já passou pelas comunidades da Ilha das Peças, Ilha de Superagui, Taquanduva, Ilha Rasa (Vila Mariana) e a cidade de Guaraqueçaba.
Interdisciplinaridade e apoio
O Barco Saúde Única (BSU) conta com apoio da Secretaria de Saúde da Prefeitura de Guaraqueçaba, que disponibiliza transporte terrestre e marítimo da capital até a ilha para a equipe de voluntários. Já a PUCPR fornece todo material cirúrgico estéril, além de alguns medicamentos e material de consumo médico hospitalar necessário para realização dos procedimentos clínicos e cirúrgicos. Vacinas e vermífugos para os animais também foram doações feitas por parceiros.
Os voluntários que colaboram com as ações incluem os professores Claudia Pimpão, Valeria Teixeira, Eros Sousa e Ubirajara Iobi, estudantes e Alumni de Medicina Veterinária da PUCPR, estudantes de mestrado e doutorado e aprimorandos que atuam na Clínica Veterinária Escola da Universidade. Da mesma forma, participam estudantes de graduação e residentes médicos-veterinários da Universidade Federal do Paraná. São quase 30 pessoas envolvidas, que disponibilizam alguns fins de semana para a realização de todas as etapas da ação.
A primeira fase inclui a realização de um censo da população de animais na região para planejamento.
Em seguida, é montada a ação clínica para verificar a saúde dos animais levados por seus responsáveis.
Os bichinhos são vacinados, recebem tratamento antiparasitário e avaliação geral. A partir dessa fase, os mutirões de castração são organizados.
Os tutores também são examinados por meio da detecção de zoonoses, e as amostras de sangue coletadas são enviadas para a equipe de pesquisa do professor Alexander BIondo, especialista em Saúde Pública na UFPR. São coletadas também amostras de solo para avaliar a contaminação, que são analisadas com a colaboração do professor Vamilton Santarém, da Universidade do Oeste Paulista (UNOESTE).
Atualmente, a equipe de professores de Medicina Veterinária da PUCPR recebe fomento de pesquisa por meio da Fundação Araucária, que auxilia na compra da maioria dos materiais para análises laboratoriais, medicamentos e material de consumo. A compilação dos dados coletados pelo projeto resulta em relatórios encaminhados ao Secretário da Saúde de Guaraqueçaba para embasar outras tomadas de decisão.
Impactos e importância
Até agora, o Barco Saúde Única já atendeu mais de 500 animais na clínica itinerante, e realizou cerca de 150 castrações.
A professora revela que os planos futuros incluem levar o projeto para novas regiões do litoral e transformá-lo em uma ONG, para que tenha maior continuidade.
Para Claudia, a oportunidade de participar do projeto tem mudado a perspectiva de muitos estudantes de Medicina Veterinária sobre a profissão, além de contribuir para que desenvolvam senso de empatia.
“Quem é tocado por essa experiência e conhece uma realidade tão diferente, não quer mais deixar de participar. Muitos deles queriam outras áreas e agora querem atuar com saúde única, porque acreditam que vão conseguir mudar a consciência da sociedade, e com isso, melhorar o ambiente em que vivem”.
Para saber mais sobre o projeto Barco Saúde Única e acompanhar as ações do grupo, siga o perfil no Instagram @barcosaudeunica.