“Eu sempre me envolvi com atividades que faziam meu coração bater mais forte”
Lucas cursou Agronomia, identificou-se com o trabalho dos pequenos produtores e então criou uma empresa para fortalecer a agricultura familiar
Lucas Eduardo Caetano Felippe sempre ouviu do pai que a educação transforma a vida das pessoas. Vindo de uma família da periferia de Joinville, ele seguiu o conselho e escolheu fazer um curso superior. Batalhou para se preparar para o vestibular e recebeu o apoio de uma amiga, que o incentivou a estudar em Curitiba. Com uma bolsa integral pelo Prouni, ingressou no curso de Agronomia na PUCPR.
Durante o curso, mesmo com as dificuldades, conseguiu um estágio na Secretaria Municipal de Segurança Alimentar de Curitiba, no setor de legalização de alimentos das feiras itinerantes. Foi então que o seu futuro profissional começou a ser desenhado. Durante o trabalho, teve contato com um número que guiaria suas escolhas: 40% dos produtos não eram vendidos nas feiras.
A virada de chave, porém, deu-se durante uma aula do professor Maurício Iung, que apresentou a ilustração de um engenheiro agrônomo bem arrumado e um agricultor com roupas simples. Ali, Lucas entendeu qual era sua missão no mundo: fazer parte de uma economia colaborativa, em que agrônomos e agricultores são parceiros. “Quando os agricultores têm sustentabilidade, eles conseguem ganhar dinheiro. Quando o agrônomo o ajuda nisso, todos são beneficiados”, explica Lucas.
Juntando esse insight àquela porcentagem das feiras, no seu primeiro estágio na área, Lucas começou a pensar em soluções para as mercadorias não vendidas. “Em 2016 eu comecei a me perguntar: ‘por que o agricultor não estava no digital?’”. Com a ajuda de um primo, que é programador, criou a primeira versão da Cooltivando, uma plataforma que liga os produtores aos consumidores finais. A ferramenta funciona no modelo Software As Service (SAS), ou seja, o produtor paga um valor fixo pelo uso da plataforma, independente do quanto conseguir vender.
Depois de formado, Lucas ainda atuou como pesquisador na Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Paraná e foi selecionado para uma incubação de seis meses em um programa para negócios digitais da Vivo. “Lá eu entendi que eu deveria conseguir ajudar a agricultura familiar de onde quer que eu estivesse”, relembra. E quanto mais se aprofundava nas questões do dia a dia dos agricultores, mais possibilidades ele via.
Ferramenta completa, para colaborar ainda mais
A partir daí, de um site que conectava pessoas, a Cooltivando se transformou em uma empresa que colabora com toda a cadeia dos pequenos produtores: ela oferece treinamento e apoio para que eles criem suas comunidades digitais rurais e aumentem o alcance de seus negócios, disponibiliza uma ferramenta de gestão para os engenheiros agrônomos, e dá suporte às prefeituras municipais com uma ferramenta de inspeção, simplificando a legalização de pequenas agroindústrias. “Muitas prefeituras não têm um conhecimento profundo das legislações específicas para a agricultura familiar. Com essas soluções, a gente consegue democratizar o mercado para os pequenos agricultores”, explica.
E Lucas não pensa em parar. Pelo contrário: já está em contato com grandes players do e-commerce para melhorar, ainda mais, o alcance dos produtos orgânicos, unindo a agricultura à tecnologia, para colocar em prática a missão que descobriu ser a dele, ainda durante a graduação. “Eu sempre me envolvi com atividades que faziam meu coração bater mais forte. Já me ofereceram trabalhos com laudos de agrotóxicos, mas não era para mim. O que aquecia meu coração, de verdade, era conversar com os produtores pequenos e pensar em caminhos para melhorar a venda deles”.
Apesar do desejo de fazer crescer o impacto dos pequenos negócios rurais, Lucas não deixa de lado alguns valores: “Persistência com prudência, para não dar murro em ponta de faca, congruência, e humildade para falar ‘me ensina, por favor’, aprendendo com quem tem vivência”.