Mitos ou Verdades: a relação entre os animais e o novo Coronavírus
Professor da PUCPR esclarece dúvidas que rondam quem tem algum bichinho de estimação em casa
A pandemia do novo Coronavírus, muito nova inclusive para a comunidade médica, tem trazido diversas dúvidas e, infelizmente, muitas fakenews. Nesse contexto, até os bichinhos de estimação são afetados por recomendações duvidosas. Para tentar esclarecer algumas questões sobre a relação entre os animais e o COVID-19, o professor Marconi Rodrigues Farias, do Programa de Pós-Graduação em Ciência Animal (PPGCA), da Especialização em Clínica Médica de Animais de Companhia e do curso de Medicina Veterinária da PUCPR, respondeu algumas perguntas que rondam quem tem algum pet em casa.
Tutores: “Animais podem pegar e transmitir o novo Coronavírus aos seres humanos”.
Professor Marconi: “Isso é mito. Existem diversas espécies de Coronavírus. Todos fazem parte de uma mesma família, mas são de tipos diferentes. E cada um deles se adapta a um animal. Um se hospeda no cachorro, outro, nos gatos e outro, ainda, nos seres humanos, como é o caso do COVID-19. Mas eles não são transmissíveis de uma espécie animal para outra.
Teoricamente, os animais domésticos e pecuários poderiam atuar como carreadores, levando o vírus na pelagem, por exemplo, mas nenhum estudo tem demostrado risco de contaminação por meio de animais nesse sentido, mesmo quando eles saem de casa para passear. Além disso, ainda não sabemos por quanto tempo o vírus permaneceria na pelagem dos animais e nem mesmo se isso é realmente possível. Portanto, as pessoas precisam se preocupar, de verdade, com o contato de pessoa para pessoa, já que esta é a principal forma de disseminação do vírus”
“Posso passear com os animais?”
“Pode. Muitos animais, inclusive, não fazem as necessidades dentro de casa. Porém, nós, seres humanos, estamos em isolamento. Então, o que não se pode fazer é passear tempo todo. Precisamos nos prevenir e evitar o contato com outras pessoas. Se for necessário sair com o animal, faça isso em local aberto, passeie o necessário para ele, e volte para casa”.
“Preciso higienizar o meu animal de estimação sempre que sair com ele?”
“Você pode higienizar o animal quando voltar do passeio, mas não é uma obrigação. Se for fazer isso, lave as patas com água e sabão, nunca álcool em gel, e não limpe muitas vezes. É temerário expor o animal a lavagens muito frequentes ou passar produtos antissépticos. Isso pode causar problemas de pele e alergias. O que se pode fazer também é dar uma atenção à escovação dos pelos e evitar que ele durma no seu travesseiro ou diretamente com você.
Higienizar o animal de forma geral, os pelos e a pele, só se ele tiver contato com secreções de pessoas que realmente estejam com o novo Coronavírus, pensando na atuação como carreadores. Mesmo nestes casos pode-se continuar usando o sabonete ou shampoo próprio para animais que ele está acostumado, não precisa trocar por produtos antissépticos”.
“Se eu estiver com Coronavírus, preciso isolar meu animal em outro cômodo da casa?”
“Se o cão ou gato tiverem contato com a secreção de alguém doente, pode ser que ele carregue o vírus na pelagem, mas não sabemos por tempo quanto, como comentei antes. Então, enquanto ainda não temos essa confirmação, se o animal esteve ou vive com alguém doente, é melhor evitar o contato dele com pessoas que não tenham a doença. E quem está com o Coronavírus deve ter o cuidado de não exagerar no contato com o animal. Pode fazer carinho, isso é importante, mas não deixar subir na cama ou beijar o animal, por exemplo.”
“Não temos saído de casa por conta do isolamento. Como posso evitar que meu animal de estimação fique deprimido?”
“Animais muito domiciliados desenvolvem um vínculo afetivo com o ser humano e, nesse contexto, o estímulo mental e a integração social são fundamentais. Dar atenção, conversar com o animal, brincar e fazer carinho pode parecer bobagem, mas é muito importante para eles.
Algumas pessoas, com medo de que o cão ou gato possa ter interação com o Coronavírus, estão isolando em um único espaço animais que, antes, tinham acesso livre a toda a casa. Esse isolamento e a restrição do espaço físico podem gerar ansiedade e levar a comportamentos compulsivos, como se lamber ou latir. Portanto, a convivência com os cães e gatos deve ser normal.”