Mulheres são 85% da força de trabalho da enfermagem no Brasil
A profissão é responsável pela assistência direta a pacientes e compõe parte fundamental do combate à pandemia
A enfermagem é uma área de atuação historicamente construída e desempenhada por mulheres. Desde suas precursoras, como Florence Nightingale na Europa e Anna Nery no Brasil, até as profissionais de hoje, que constituem 85% da força de trabalho da área no país, segundo pesquisas do Conselho Federal de Enfermagem (Cofen). “O trabalho das mulheres antigamente era direcionado quase exclusivamente ao cuidado. Cuidavam dos maridos e filhos em casa, e mais tarde passaram a sair para cuidar do outro”, contextualiza a coordenadora do curso de Enfermagem da PUCPR, Ana Beatriz Costa, sobre a grande participação das mulheres na área, comparativamente a outros setores.
A profissão ganhou destaque pela sua importância durante a atual pandemia, trazendo protagonismo mundial para a enfermagem e para as mulheres que a compõem. Um exemplo é Mônica Calazans, a enfermeira de São Paulo vencedora do prêmio Notáveis CNN em 2020 que foi a primeira pessoa vacinada contra Covid-19 no Brasil; já nos Estados Unidos, a enfermeira Susan Orsega foi nomeada este ano como a maior autoridade de Saúde Pública do país. As duas profissionais se tornaram símbolo da importância da enfermagem para o sistema de saúde, mas, também, da liderança feminina nesse ramo.
“A maioria de nós trabalha na assistência direta aos pacientes, e ficamos expostas ao maior risco de contaminação por Covid-19”, explica Ana Beatriz. Profissionais de enfermagem são responsáveis pelo cuidado com os pacientes de um hospital ou UTI em tempo integral, além de fazerem a gestão de equipes multidisciplinares e estarem na linha de frente. “As enfermeiras deixam suas casas e suas famílias para cuidar do outro. Sem falar que muitas dessas mulheres têm dupla jornada de trabalho, pois após os plantões continuam sendo mães, donas de casa e responsáveis pelo sustento do lar”, destaca a coordenadora, diante do aumento da carga de trabalho durante a pandemia.
Enfermeiras na linha de frente
Giovanna Ruppel é egressa de Enfermagem da PUCPR e está há 5 meses atuando diretamente no combate à pandemia. Ela trabalha na unidade de internação do Hospital do Trabalhador, onde lidera uma equipe. “A rotina é puxada, de grande responsabilidade, mas também é muito gratificante cuidar de cada paciente na sua integralidade e individualidade. É a oportunidade de colocar em prática as habilidades que adquiri na graduação e de aprender algo novo a cada dia”, relata.
Para Giovanna, cada plantão é um novo desafio não apenas profissional, mas também pessoal. “Além do desgaste físico e emocional, vivemos com medo pois estamos expostos, longe da família e amigos. A carga psicológica é intensa, temos que nos cuidar para podermos cuidar dos outros”, conta a enfermeira. Neste cenário, o que a motiva é a possibilidade de fazer a diferença na vida de seus pacientes para além do tratamento físico, com humanidade e conhecimento científico.
“Tenho orgulho das mulheres que se doam à enfermagem, que salvam vidas todos os dias. É uma honra fazer parte disso e aprender com elas”, reflete. Giovanna também destaca a importância das enfermeiras tanto para o sistema de saúde quanto para a recuperação da parcela da população afetada pela Covid-19.
Atuação feminina baseada em empatia
Karina Munhoz é estudante do 7º período de Enfermagem na PUCPR e estagia no Hospital Universitário Cajuru. Lá, ela dedica seu tempo a fazer exames físicos, consultar históricos, acompanhar quadros e dar assistência direta aos doentes, entre outras funções. “Nós aprendemos muito com os pacientes e profissionais do hospital, vivemos a profissão como ela é”, conta a estudante.
“A enfermagem está em contato direto com os pacientes e, muitas vezes, é triste ver como eles são tratados em alguns hospitais por aí. Meu objetivo é cuidar deles como eu gostaria de ser cuidada, com empatia e respeito”, reflete Karina. Para realizar esse objetivo, a jovem pretende se especializar em gestão após terminar a graduação, para que possa liderar equipes que mudem este cenário e forneçam o melhor tratamento possível aos seus pacientes.
A estudante avalia que, pelo fato de a profissão ser majoritariamente ocupada por mulheres, as enfermeiras muitas vezes sofrem com a falta de reconhecimento da profissão e deslegitimação de seu conhecimento. “Isso gera a percepção errada de que somos menos qualificadas, uma visão estereotipada e até sexualizada da nossa profissão”, aponta. Por isso, Karina defende a importância de desmistificar a área enfermagem para que as mulheres enfermeiras possam ser valorizadas pelo seu trabalho na assistência.