“A gente pode fazer o que quiser”
Erasmo decidiu não parar depois da aposentadoria e escolheu estudar filosofia
Erasmo Jorge Pilz de Andrade estudou engenharia “porque achava que era aquilo que queria”, como ele diz. Por um tempo, ele quis mesmo. E estava satisfeito no caminho que havia escolhido. Trabalhou por mais de dez anos na área de Engenharia Eletrônica em empresas multinacionais. A trabalho, já morou na Alemanha e na Bélgica.
Em algum momento, porém, desenvolver projetos dentro de uma sala não fazia mais sentido. Mudou então para a uma vertente administrativa do Marketing. “Lá eu participava de feiras, conversava com as pessoas, era bem diferente”, conta. Cinco anos depois, montou uma empresa de consultoria e veio para Curitiba. Chegando aqui, deixou o empreendedorismo e prestou concurso público para o Banco Central. Depois de 20 anos, uma especialização e um mestrado na área financeira, aposentou-se, mas não parou. Pelo contrário: abriu um caminho e começou de novo.
Liberdade para ser
Hoje, aos 65 anos, Erasmo é estudante do 4º período de Filosofia na PUCPR, curso escolhido a partir de um hobby: a leitura. “Sempre gostei muito de ler, especialmente os clássicos”, comenta. “E nesses livros sempre tem uma referência histórica ou filosófica que a gente não capta completamente, então pensei: ‘vou estudar filosofia para entender melhor’”. Tragédias gregas, Dostoiévski e Philip Roth são alguns dos autores que fazem parte da versão leitor de Erasmo.
Falando nas facetas do ser, Erasmo tem uma clareza impressionante sobre todas as versões de nós mesmos que podem surgir durante a vida e os caminhos que podemos seguir. Parece ter compreendido o que é ser multicarreiras antes dos termos se tornarem comuns. Apesar de ter ficado muitos anos nas empresas onde trabalhou, isso não foi intencional: conforme as necessidades e aspirações mudavam, ele entendia como adequar isso aos outros aspectos da vida. “Nunca tive essa preocupação em ficar para sempre no mesmo trabalho ou estudar uma coisa e trabalhar só com aquilo”, explica. “A gente pode fazer o que quiser. Vamos mudando e a única coisa que nos acompanha é a dúvida sobre o que teria acontecido se tivéssemos escolhido outro caminho”.
Em sua sapiência, Erasmo também sabe que nem tudo é definitivo. Escolher uma profissão ou um curso superior não deve ser um fator limitador. Ao contrário: precisa ser uma ferramenta para ampliar possibilidades. “A gente tem um medo de aquele caminho que escolhemos não ser o certo. Mas a pessoa pode fazer uma graduação de Direito e atuar em diferentes áreas ou mesmo nem trabalhar com isso. Todos os cursos abrem muitas possibilidades”, defende Erasmo. Precisamos apenas estar com os olhos da percepção bem abertos.
A beleza do espírito
A forma como Erasmo olha para o ambiente universitário o aproxima mais dos colegas de turma do que pode parecer à primeira vista. É como se diz: o que vemos e fazemos diz mais sobre nós do que sobre o outro. E Erasmo tem um olhar carregado de leveza, bom humor e ângulos côncavos. Não muito diferente das características que ele aplica à Universidade. “No trabalho, muitas vezes as pessoas vão ficando pessimistas. O ambiente universitário, por outro lado, tem muito otimismo”, explica. “Usando um termo muito falado na Filosofia, o ‘espírito’ da Universidade é jovial e alegre”.
É com essa tranquilidade que Erasmo leva a nova vida de universitário. Já foi confundido com professor nos corredores, admirou-se com a confiança dos colegas de sala durante as atividades, entendeu outro modo de viver: “a minha turma é formada não só por uma geração diferente da minha, mas por pessoas que têm outra forma de pensar e isso é incrível”. Para o futuro com o novo diploma, mais uma vez, carrega a leveza: “vamos ver no que vai dar”, brinca.