O isolamento social tem sido uma das medidas mais eficazes para conter a disseminação da Covid-19, mas não é novidade que esse período pode gerar estresse, principalmente para as famílias que estão tendo que se adaptar à nova rotina. No caso das crianças, devido ao recesso das escolas, pode haver mais ansiedade pela falta do convívio ao qual estavam acostumadas antes da quarentena, e mantê-las entretidas e ativas em casa pode ser um desafio.

Porém, o período de quarentena e a relação mais próxima e intensa com os pais podem ser benéficas para o estabelecimento de uma rotina saudável na vida dos pequenos. De acordo com a psicopedagoga e professora do curso de Psicologia da PUCPR, Tatiany Honório, a inserção de atividades lúdicas neste período é fundamental para garantir uma boa saúde mental e física, além de colaborar para o desenvolvimento. “Para a criança, a brincadeira é muito mais do que só ‘brincar’. Por meio dela a criança consegue aprender, superar dificuldades e desafios e se desenvolver como indivíduo”, explica.

Porém, é preciso prestar atenção ao tipo de atividade proposta para cada criança, mesmo que sejam lúdicas. Segundo a professora, isso varia de acordo com a idade e habilidade de cada uma. “Uma criança mais nova tem um certo tipo de capacidade. Tem aquilo que ela já sabe fazer e o que ainda é um desafio, mas deve ser possível que ela realize o exercício proposto. As atividades devem ser planejadas de acordo com aquilo que a criança pode fazer”.

Tatiane faz, ainda, algumas recomendações gerais que podem ajudar os pais ou responsáveis: “Práticas em que ela não é tão estimulada, como somente assistir a algo, acabam não sendo tão interativas. As atividades precisam envolver a criança para que ela participe, sem pressão, gerando um desenvolvimento de forma divertida. As crianças em fase de pré-alfabetização podem brincar com letrinhas, em uma atividade que as entretenha”, exemplifica.

Atividades físicas podem ser aliadas importantes

Ao contrário do que se pode pensar, as atividades físico-motoras para as crianças não precisam ser praticadas em esportes específicos, mas em qualquer situação que as mantenham ativas. É o que explica o professor do curso de Educação Física da PUCPR, Paulo Barros: “Nesse período de quarentena, é muito importante que nós estabeleçamos uma rotina, independente de qual tipo seja. Pode ser com uma atividade física, recreativa ou mesmo de lazer”, afirma.

Barros também chama a atenção para a importância da participação dos pais nestes momentos e para o fato de as crianças serem muito ativas, fazendo com que, muitas vezes, uma única atividade não seja o suficiente para mantê-las entretidas durante o dia. “A criança enjoa fácil, cansa de uma brincadeira, então é importante que se tenha talvez duas ou três atividades diferentes planejadas para ocupar um bom tempo e atrair a motivação dela”.

Adaptações podem ser necessárias

Independente do tipo de brincadeira, é necessário ficar atento ao ambiente, que precisa ser seguro e não conter equipamentos ou objetos que possam causar ferimentos. Além disso, de acordo com o professor, também deve-se prestar atenção à intensidade dos movimentos propostos, mas os benefícios são garantidos. “Todo tipo de brincadeira pode ser praticado com as crianças, basta fazer as adaptações necessárias. Com certeza isso vai fazê-la deixar o celular de lado, movimentar-se e gastar energia. Também vai mostrar à criança o quanto é importante se movimentar nesse período de quarentena”, explica.

Barros também defende que as atividades podem e devem ser adaptadas para crianças que possuem alguma limitação ou deficiência. De acordo com ele, é necessário perceber as capacidades dos pequenos, e aí a criatividade da família se torna muito importante. “O que tem que ser feito é adaptar e planejar a atividade pensando em como incluir a criança nesse processo, dentro de suas necessidades. Entender como ela pode participar de cada atividade. Talvez em uma brincadeira com bexigas, que não exija tanto movimento, ou com a adaptação do material para que ela movimente os membros”.

Segundo o professor, as atividades recreativas são democráticas e podem ser praticadas por todos. “Existem várias atividades, não tem por que deixar alguém de fora. Todos podem participar independentemente da idade e condição física. As atividades recreativas fazem bem, integram, incluem e deixam todo mundo mais feliz nesse momento”, complementa.