Como encontrar caminhos em meio à crise
Mudanças causadas pelo coronavírus afetaram funcionários e empreendedores. Especialistas dão dicas para encontrar caminhos de oportunidade
Durante a crise causada pelo coronavírus, um dos setores mais preocupantes, além da saúde, é o emprego. Em um cenário de redução de jornadas de trabalho e salários, previsão de retração do PIB, e mais de 3,5 milhões de contratos alterados a partir da MP 936, segundo dados da Secretaria Especial de Previdência e Trabalho do Ministério da Economia, o sentimento é de insegurança para trabalhadores e empresários.
Esse sentimento já vinha sendo apontado em pesquisas anteriores ao surgimento da pandemia e, agora, é reforçado. O Estudo Global de Tendências de Talentos 2020 da Mercer, realizado em 2019, por exemplo, mostrava que 34% dos funcionários pesquisados consideravam que seus empregos estavam ameaçados e acreditavam que poderiam ser substituídos em três anos. A pesquisa, mostrou ainda, que umas das grandes tendências para o futuro do trabalho era, justamente, a capacidade de se adaptar a novos contextos e tecnologias.
De acordo com Isabela Melnechuky Cavalcanti de Albuquerque, coordenadora do PUC Carreiras da PUCPR, o mercado de trabalho já mudou e a partir de agora será preciso olhar para as habilidades pessoais e entender como se beneficiar delas. “Precisamos usar o conceito de trabalhabilidade, e não mais empregabilidade. Este último é a combinação entre o que o mercado procura e o que você tem a oferecer. A trabalhabilidade é como uma caixa de ferramentas em que você guarda tudo o que você faz muito bem e usa a seu favor, inclusive para ganhar dinheiro”. O conceito, segundo ela, permite que pessoas de diversas faixas etárias sejam suas próprias fontes de renda, sem depender, necessariamente, da carteira assinada.
Desenvolvimento deve ser constante
Para quem ainda está empregado, ou pretende voltar para o mercado formal assim que possível, será preciso investir em aprendizado constante. Novos conhecimentos precisam ser adquiridos com frequência e outros devem ser atualizados. “O lifelong learning é muito importante. Hoje, temos professores doutores em Medicina pesquisando e aprendendo sobre arduíno para entender como aplicar melhor a tecnologia na área de saúde”, conta Isabela.
A coordenadora do PUC Carreiras explica, ainda, que um outro caminho é estar aberto a oportunidades pouco óbvias, já que muitas empresas, principalmente startups, têm usado o diploma como referência, mas não exigem área de formação específica para o preenchimento das vagas. “Os profissionais precisam ficar atentos às competências técnicas que adquiriram durante a vida e como elas podem ser usadas em diferentes vagas de trabalho, mas sem esquecer as skills comportamentais”.
E os empreendedores, como ficam?
Com uma profunda alteração na sociabilidade e mobilidade, outro grupo muito afetado foi o dos empreendedores, especialmente os pequenos. Eles, inclusive, são os que mais estão renegociando contratos de trabalho, segundo os números da Secretaria Especial de Previdência e Trabalho do Ministério da Economia. O professor Marcos José Zablonsky, do curso de Relações Públicas da PUCPR, explica que este é o momento de os empresários se adaptarem e fortalecerem seus negócios por meio de aplicativos e redes sociais. “Um dos caminhos é a formação de redes de trabalho entre os próprios empreendedores, como em grupos de Whatsapp e Facebook, em que um indica o trabalho do outro, usando as plataformas para negócios e como canais multiplicadores. Precisamos entender que ninguém vai sair dessa crise sozinho, sem uma visão colaborativa”.
Porém, é fundamental que os pequenos e médios empresários encontrem formas de chamar a atenção para os seus produtos, mesmo atuando em canais digitais. Com as vendas por aplicativo crescendo, a concorrência também aumenta, inclusive dentro das plataformas. De acordo com o especialista, duas questões devem ser observadas: a relevância do produto e o benefício encontrado naquela marca específica.
“O empreendedor tem que se perguntar o que as pessoas estão buscando naquele momento, se o produto é relevante no contexto e qual é a grande diferença entre a opção oferecida por ele frente às outras do mercado. Ele disponibiliza alguma solução completa na forma de combos? Tem alguma vantagem na forma de pagamento ou na velocidade de entrega?”, exemplifica Marcos.
O capricho na comunicação também pode ser um ponto positivo no momento da venda. Usar fotos bonitas, aplicar efeitos e fazer pequenos vídeos explicando o produto podem gerar maior visibilidade.
Como continuar relevante
A atualização constante, indicada por Isabela Melnechuky para os funcionários celetistas, não serve apenas para eles. Empreendedores também precisam ficar atentos a novas realidades e tendências de mercado para continuarem relevantes. O professor Marcos indica alguns temas importantes para quem tem o próprio negócio:
- Visão de Serviço: microempreendedores podem ser procurados por grandes players para atuarem como prestadores de serviço. Assim, a capilaridade aumenta e os marketplaces, por exemplo, conseguem entregar produtos mais rapidamente;
- Sustentabilidade: a nível organizacional e do meio ambiente. Empresas que não se preocupam com questões socioambientais podem passar por questionamento dos consumidores e sofrerem impactos;
- Compras pela internet: as vendas pela internet têm se fortalecido e devem se consolidar nos próximos meses;
- Personalização: a internet não é tudo. Consumidores procuram cada vez mais produtos e atendimentos personalizados. Saber como fazer isso, tanto presencialmente quanto pela internet será importante.
- Visão de oportunidade: mapear e descobrir nichos de mercado, inclusive dentro de uma economia criativa e circular.