Mensagem do Reitor da PUCPR, Ir. Rogério Renato Mateucci, para início do ano letivo
Magnífico Reitor traz reflexão para comunidade acadêmica
Eis que um novo ano letivo está diante de nós! Novamente a emoção do recomeço, a expectativa do novo, o ar de surpresa e de novidade que a vida sempre nos oferece. E diante disso, que alegria recomeçar!
Para trazer-nos uma reflexão, quero compartilhar contigo uma experiência pessoal que relatei durante a Celebração Institucional de Formatura.
Em meados do ano passado, como Reitor de nossa Universidade, participei do encontro da Federação Internacional das Universidades Católicas, realizado em Boston, nos Estados Unidos. O encontro foi muito rico pelas partilhas, análises e ponderações sobre a missão da universidade católica. Mas me chamou a atenção uma experiência que vivenciei logo após o término do encontro, quando tive a oportunidade de conhecer o centro histórico de Boston e, de modo específico, o Memorial do Holocausto.
O Holocausto é uma dessas feridas na história que nos entristece e, ao mesmo tempo, nos envergonha. O Memorial do Holocausto de Boston foi construído a partir de pequenos relatos e testemunhos de sobreviventes dos campos de concentração. Um desses relatos chamou-me a atenção, hipnotizou-me, prendeu meus pés ao chão. Na placa se lia o pequeno testemunho de Gerta Weissman Klein, referindo-se à sua amiga Ilse.
Assim estava escrito: “Ilse era uma amiga de infância; certa vez, no campo de concentração, ela encontrou uma framboesa, embrulhou-a numa folha, colocou em seu bolso e a carregou o dia todo para me entregar à noite no escuro de nosso alojamento e longe da vigilância dos guardas. Imagine um mundo em que todas as suas posses são apenas uma framboesa e você entrega isso ao seu amigo?!”.
Querida comunidade da PUCPR, Ilse arriscou tudo o que tinha, arriscou a própria vida para entregar à sua amiga Gerta uma framboesa encontrada no chão. Numa framboesa se condensou todo o amor e afeto e carinho de Ilse por Gerta; num fruto silvestre estavam todos os riscos da vida daquelas duas adolescentes. Elas correram o risco da vida, o risco de que “viver” e “fazer viver” é o imperativo ético de toda existência.
A placa do Memorial, em Boston, me trouxe questionamentos que partilho com vocês: “Quais são as minhas ‘framboesas’? Que riscos já corri por aquelas e aqueles que amo? Que riscos quero correr daqui para frente?”. Um novo ano letivo se inicia e, claro, que não estaremos nas mesmas condições das duas amigas aqui apresentadas, mas receberemos, a cada dia que nasce, uma nova oportunidade de viver e fazer viver. Por isso, seria importante nos perguntar: Qual é a minha “framboesa”? O que poderei oferecer aos outros?
Uma das certezas da vida é que do nascer ao morrer somos levados a escolher, a desenvolver habilidades novas, a aceitar perdas, a lidar com o inesperado, a crescer, a não conseguir reter momentos e pessoas que se vão. Em momentos assim, conseguiremos pensar naquelas e naqueles que amamos? Em momentos assim conseguiremos guardar as “framboesas da vida”, correndo os riscos necessários e imprescindíveis para oferecer ao menos um momento de afeto ao outro que se coloca diante da minha vida?
Querida Comunidade Acadêmica, viver é sempre um risco, mas como escreveu Guimarães Rosa, “a vida é assim mesmo: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é uma coisa só: coragem”. Por isso, que tenhamos, durante todo o ano letivo, coragem! Coragem mil vezes!
Aos que chegam, sejam bem-vindos! Aos que retornam, que bom nos encontrarmos! A todas e a todos, um ótimo ano letivo!