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Destaque - 20 abr 2020

Uso de dados ganhou relevância durante a pandemia

Dados são coletados para criar políticas públicas de saúde, mas também conquistaram importância no mercado de consumo

Uso de dados ganha relevância durante a pandemia de coronavírus
Gráfico mostra evolução do coronavírus pelo mundo. (Foto: Clay Banks on Unsplash)

As medidas de isolamento, propostas para frear a disseminação do novo coronavírus, iniciaram uma busca aparentemente improvável por dados de localização dos celulares. O objetivo, porém, está diretamente ligado à pandemia: monitorar a movimentação da população e pontos de aglomeração.

O Google foi um dos que entrou nessa onda, produzindo relatórios sobre a circulação de pessoas em diversos países por meio dos dados fornecidos voluntariamente pelos usuários. No Brasil, além do buscador, alguns governos estaduais também passaram a observar o respeito à quarentena, mas usando informações das empresas de telefonia.

Ainda em termos nacionais, a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), aprovada em 2018, define regras para o uso de dados pessoais por instituições e prevê flexibilização se houver necessidade de compartilhamento por um interesse coletivo de proteção da vida e tutela de saúde, como ocorre atualmente. De acordo com o professor Bernardo Guimarães, do curso de Direito da PUCPR, há basicamente quatro requisitos a serem respeitados: “a Lei pede que seja comprovada a real necessidade dos dados, que não haja outra forma de conseguir as informações, e que elas não permitam a identificação pessoal. Quando a situação que gerou essa necessidade acabar, é obrigatório desplugar os dados”, comenta.

Tecnologia permitiu geração de dados

Tanto no caso do Google, quanto na atuação dos Estados, as informações só puderam ser coletadas e analisadas graças ao acesso cada vez maior a smartphones e internet de qualidade. Em 2020, a estimativa é de que o volume de dados alcance 40 trilhões de Gigabytes. Como os celulares costumam ser companhias constantes, a identificação da localização dos usuários permitiu perceber, por exemplo, uma queda de 33% nos deslocamentos para locais de trabalho, no estado do Paraná, segundo a pesquisa do Google.

A importância dos smartphones já vinha sendo apontada em pesquisas de outras áreas do conhecimento, mesmo antes das mudanças causadas pelo novo coronavírus. De acordo com estudos do Boston Consulting Group (BCG) e do Think With Google, o celular vem se destacando como um importante canal de consumo e informação, o que afeta também o mercado. “A transformação digital é para todos, pessoas e empresas. Isso cria uma pressão nas indústrias e comércios para a migração online, e quem tem uma boa estrutura de análise de dados sai na frente”, explica Eliane Cristina Francisco Maffezzolli, professora e pesquisadora do Programa de Pós-Graduação em Administração da PUCPR.

Mudanças de comportamento

Uso de dados ganha relevância durante a pandemia de coronavírus
Informações permitiram identificar mudanças de comportamento. (Foto: Carlos Muza on Unsplash)

Os dados têm ganho cada vez mais importância na área de negócios. Buscando informações sobre comportamentos, hábitos e preferências garante-se maior assertividade ao oferecer produtos e se comunicar com os consumidores. Durante a pandemia, as informações geradas sobre atividades na internet permitiu identificar mudanças de comportamento relacionadas, principalmente, ao consumo de bens e serviços.

Este movimento, de acordo com a professora, acontece em duas perspectivas relacionadas: a dos consumidores e a dos empresários. “Do ponto de vista dos consumidores, observamos um aumento no consumo de produtos streaming e da compra de itens de alimentação. No caso dos empresários, percebemos um esforço daqueles que ainda não tinham um canal de vendas na internet para adotar rapidamente o serviço, bem como de entender as necessidades do consumidor”.

O que nos aguarda no futuro?

Prever consequências enquanto a crise causada pelo coronavírus ainda está acontecendo é um desafio. Mas já é possível vislumbrar mudanças. De acordo com a professora Eliane, podem ser percebidos indícios de fortalecimento dos e-commerces e da conveniência, assim como um processo de compra mais seletivo, muito baseado em confiança nas marcas. “É o que chamamos de economia da confiança. Devemos perceber também um efeito residual da postura das marcas durante a pandemia. Se produziram algo para ajudar o sistema de saúde, por exemplo, ou continuaram se preocupando apenas com as suas vendas. O consumidor agora é o juiz e as empresas precisam entender isso”.